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Leia este texto de Martha Medeiros, para responder à questão seguinte.
A elegância do conteúdo
De ferramentas tecnológicas, qualquer um pode dispor, mas a cereja do bolo chama-se conteúdo. É o que todos buscam freneticamente: vossa majestade, o conteúdo.
Mas onde ele se esconde?
Dentro das pessoas. De algumas delas.
Fico me perguntando como é que vai ser daqui a um tempo, caso não se mantenha o já parco vínculo familiar com a literatura, caso não se dê mais valor a uma educação cultural, caso todos sigam se comunicando com abreviaturas e sem conseguir concluir um raciocínio. De geração para geração, diminui-se o acesso ao conhecimento histórico, artístico e filosófico. A overdose de informação faz parecer que sabemos tudo, o que é uma ilusão, sabemos muito pouco, e nossos filhos saberão menos ainda. Quem irá optar por ser professor não tendo local decente para trabalhar, nem salário condizente com o ofício, nem respeito suficiente por parte dos alunos? Os minimamente qualificados irão ganhar a vida de outra forma que não numa sala de aula. E sem uma orientação pedagógica de nível e sem informação de categoria, que realmente embase a formação de um ser humano, só o que restará é a vulgaridade e a superficialidade, que já reinam, aliás.
Sei que é uma visão catastrofista e que sempre haverá uma elite intelectual, mas o que deveríamos buscar é justamente a ampliação dessa elite para uma maioria intelectual. A palavra assusta, mas entenda-se como intelectual a atividade pensante, apenas isso, sem rebuscamento.
O fato é que nos tornamos uma sociedade muito irresponsável, que está falhando na transmissão de elegância. Pensar é elegante, ter conhecimento é elegante, ler é elegante, e essa elegância deveria estar ao alcance de qualquer pessoa. Outro dia conversava com um taxista que tinha uma ideia muito clara dos problemas do país, e que falava sobre isso num português correto e sem se valer de palavrões ou comentários grosseiros, e sim com argumentos e com tranquilidade, sem querer convencer a mim nem a ninguém sobre o que pensava, apenas estava dando sua opinião de forma cordial. Um sujeito educado, que dirigia de forma igualmente educada. Morri e reencarnei na Suíça, pensei.
Isso me fez lembrar de um livro excelente chamado A elegância do ouriço, de Muriel Barbery, que conta a história de uma zeladora de um prédio sofisticado de Paris. Ela, com sua aparência tosca e exercendo um trabalho depreciado, era mais inteligente e culta do que a maioria esnobe que morava no edifício a que servia. Mas, como temia perder o emprego caso demonstrasse sua erudição, oferecia aos patrões a ignorância que esperavam dela, inclusive falando errado de propósito, para que todos os inquilinos ficassem tranquilos – cada um no seu papel.
A personagem não só tinha uma mente elegante, como possuía também a elegância de não humilhar seus “superiores”, que nada mais eram do que medíocres com dinheiro.
A economia do Brasil vai bem, dizem. Mas pouco valerá se formos uma nação de medíocres com dinheiro.
(MEDEIROS, Martha. Feliz por nada. 9. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011).
Analise estes itens, julgando-os quanto à sua veracidade.
I. Medeiros defende a tese de que, no futuro, as ferramentas tecnológicas, à disposição de todos, irão interferir negativamente na formação das pessoas.
II. Medeiros explicita, em sua argumentação, que a formação decente de professores depende da manutenção do conhecimento histórico, artístico e filosófico.
III. Medeiros sugere, no decorrer de seu texto, uma relação de causa e consequência entre formação de professores e formação de pessoas.
IV. Medeiros dá a entender que a seleção de informações pode contribuir para a formação de um ser humano menos vulgar e menos superficial.
É CORRETO apenas o que se afirma em
Leia este texto de Martha Medeiros, para responder à questão seguinte.
A elegância do conteúdo
De ferramentas tecnológicas, qualquer um pode dispor, mas a cereja do bolo chama-se conteúdo. É o que todos buscam freneticamente: vossa majestade, o conteúdo.
Mas onde ele se esconde?
Dentro das pessoas. De algumas delas.
Fico me perguntando como é que vai ser daqui a um tempo, caso não se mantenha o já parco vínculo familiar com a literatura, caso não se dê mais valor a uma educação cultural, caso todos sigam se comunicando com abreviaturas e sem conseguir concluir um raciocínio. De geração para geração, diminui-se o acesso ao conhecimento histórico, artístico e filosófico. A overdose de informação faz parecer que sabemos tudo, o que é uma ilusão, sabemos muito pouco, e nossos filhos saberão menos ainda. Quem irá optar por ser professor não tendo local decente para trabalhar, nem salário condizente com o ofício, nem respeito suficiente por parte dos alunos? Os minimamente qualificados irão ganhar a vida de outra forma que não numa sala de aula. E sem uma orientação pedagógica de nível e sem informação de categoria, que realmente embase a formação de um ser humano, só o que restará é a vulgaridade e a superficialidade, que já reinam, aliás.
Sei que é uma visão catastrofista e que sempre haverá uma elite intelectual, mas o que deveríamos buscar é justamente a ampliação dessa elite para uma maioria intelectual. A palavra assusta, mas entenda-se como intelectual a atividade pensante, apenas isso, sem rebuscamento.
O fato é que nos tornamos uma sociedade muito irresponsável, que está falhando na transmissão de elegância. Pensar é elegante, ter conhecimento é elegante, ler é elegante, e essa elegância deveria estar ao alcance de qualquer pessoa. Outro dia conversava com um taxista que tinha uma ideia muito clara dos problemas do país, e que falava sobre isso num português correto e sem se valer de palavrões ou comentários grosseiros, e sim com argumentos e com tranquilidade, sem querer convencer a mim nem a ninguém sobre o que pensava, apenas estava dando sua opinião de forma cordial. Um sujeito educado, que dirigia de forma igualmente educada. Morri e reencarnei na Suíça, pensei.
Isso me fez lembrar de um livro excelente chamado A elegância do ouriço, de Muriel Barbery, que conta a história de uma zeladora de um prédio sofisticado de Paris. Ela, com sua aparência tosca e exercendo um trabalho depreciado, era mais inteligente e culta do que a maioria esnobe que morava no edifício a que servia. Mas, como temia perder o emprego caso demonstrasse sua erudição, oferecia aos patrões a ignorância que esperavam dela, inclusive falando errado de propósito, para que todos os inquilinos ficassem tranquilos – cada um no seu papel.
A personagem não só tinha uma mente elegante, como possuía também a elegância de não humilhar seus “superiores”, que nada mais eram do que medíocres com dinheiro.
A economia do Brasil vai bem, dizem. Mas pouco valerá se formos uma nação de medíocres com dinheiro.
(MEDEIROS, Martha. Feliz por nada. 9. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011).
Em seu texto, Medeiros discorre sobre a elegância do conteúdo. Em relação a essa elegância do conteúdo, assinale a alternativa que faz uma leitura CORRETA.
Leia este texto de Martha Medeiros, para responder à questão seguinte.
A elegância do conteúdo
De ferramentas tecnológicas, qualquer um pode dispor, mas a cereja do bolo chama-se conteúdo. É o que todos buscam freneticamente: vossa majestade, o conteúdo.
Mas onde ele se esconde?
Dentro das pessoas. De algumas delas.
Fico me perguntando como é que vai ser daqui a um tempo, caso não se mantenha o já parco vínculo familiar com a literatura, caso não se dê mais valor a uma educação cultural, caso todos sigam se comunicando com abreviaturas e sem conseguir concluir um raciocínio. De geração para geração, diminui-se o acesso ao conhecimento histórico, artístico e filosófico. A overdose de informação faz parecer que sabemos tudo, o que é uma ilusão, sabemos muito pouco, e nossos filhos saberão menos ainda. Quem irá optar por ser professor não tendo local decente para trabalhar, nem salário condizente com o ofício, nem respeito suficiente por parte dos alunos? Os minimamente qualificados irão ganhar a vida de outra forma que não numa sala de aula. E sem uma orientação pedagógica de nível e sem informação de categoria, que realmente embase a formação de um ser humano, só o que restará é a vulgaridade e a superficialidade, que já reinam, aliás.
Sei que é uma visão catastrofista e que sempre haverá uma elite intelectual, mas o que deveríamos buscar é justamente a ampliação dessa elite para uma maioria intelectual. A palavra assusta, mas entenda-se como intelectual a atividade pensante, apenas isso, sem rebuscamento.
O fato é que nos tornamos uma sociedade muito irresponsável, que está falhando na transmissão de elegância. Pensar é elegante, ter conhecimento é elegante, ler é elegante, e essa elegância deveria estar ao alcance de qualquer pessoa. Outro dia conversava com um taxista que tinha uma ideia muito clara dos problemas do país, e que falava sobre isso num português correto e sem se valer de palavrões ou comentários grosseiros, e sim com argumentos e com tranquilidade, sem querer convencer a mim nem a ninguém sobre o que pensava, apenas estava dando sua opinião de forma cordial. Um sujeito educado, que dirigia de forma igualmente educada. Morri e reencarnei na Suíça, pensei.
Isso me fez lembrar de um livro excelente chamado A elegância do ouriço, de Muriel Barbery, que conta a história de uma zeladora de um prédio sofisticado de Paris. Ela, com sua aparência tosca e exercendo um trabalho depreciado, era mais inteligente e culta do que a maioria esnobe que morava no edifício a que servia. Mas, como temia perder o emprego caso demonstrasse sua erudição, oferecia aos patrões a ignorância que esperavam dela, inclusive falando errado de propósito, para que todos os inquilinos ficassem tranquilos – cada um no seu papel.
A personagem não só tinha uma mente elegante, como possuía também a elegância de não humilhar seus “superiores”, que nada mais eram do que medíocres com dinheiro.
A economia do Brasil vai bem, dizem. Mas pouco valerá se formos uma nação de medíocres com dinheiro.
(MEDEIROS, Martha. Feliz por nada. 9. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011).
Para argumentar em favor da elegância do conteúdo, Medeiros recorre a dois exemplos: o do taxista e o da zeladora. As atitudes do taxista e as da zeladora
Leia este texto de Martha Medeiros, para responder à questão seguinte.
A elegância do conteúdo
De ferramentas tecnológicas, qualquer um pode dispor, mas a cereja do bolo chama-se conteúdo. É o que todos buscam freneticamente: vossa majestade, o conteúdo.
Mas onde ele se esconde?
Dentro das pessoas. De algumas delas.
Fico me perguntando como é que vai ser daqui a um tempo, caso não se mantenha o já parco vínculo familiar com a literatura, caso não se dê mais valor a uma educação cultural, caso todos sigam se comunicando com abreviaturas e sem conseguir concluir um raciocínio. De geração para geração, diminui-se o acesso ao conhecimento histórico, artístico e filosófico. A overdose de informação faz parecer que sabemos tudo, o que é uma ilusão, sabemos muito pouco, e nossos filhos saberão menos ainda. Quem irá optar por ser professor não tendo local decente para trabalhar, nem salário condizente com o ofício, nem respeito suficiente por parte dos alunos? Os minimamente qualificados irão ganhar a vida de outra forma que não numa sala de aula. E sem uma orientação pedagógica de nível e sem informação de categoria, que realmente embase a formação de um ser humano, só o que restará é a vulgaridade e a superficialidade, que já reinam, aliás.
Sei que é uma visão catastrofista e que sempre haverá uma elite intelectual, mas o que deveríamos buscar é justamente a ampliação dessa elite para uma maioria intelectual. A palavra assusta, mas entenda-se como intelectual a atividade pensante, apenas isso, sem rebuscamento.
O fato é que nos tornamos uma sociedade muito irresponsável, que está falhando na transmissão de elegância. Pensar é elegante, ter conhecimento é elegante, ler é elegante, e essa elegância deveria estar ao alcance de qualquer pessoa. Outro dia conversava com um taxista que tinha uma ideia muito clara dos problemas do país, e que falava sobre isso num português correto e sem se valer de palavrões ou comentários grosseiros, e sim com argumentos e com tranquilidade, sem querer convencer a mim nem a ninguém sobre o que pensava, apenas estava dando sua opinião de forma cordial. Um sujeito educado, que dirigia de forma igualmente educada. Morri e reencarnei na Suíça, pensei.
Isso me fez lembrar de um livro excelente chamado A elegância do ouriço, de Muriel Barbery, que conta a história de uma zeladora de um prédio sofisticado de Paris. Ela, com sua aparência tosca e exercendo um trabalho depreciado, era mais inteligente e culta do que a maioria esnobe que morava no edifício a que servia. Mas, como temia perder o emprego caso demonstrasse sua erudição, oferecia aos patrões a ignorância que esperavam dela, inclusive falando errado de propósito, para que todos os inquilinos ficassem tranquilos – cada um no seu papel.
A personagem não só tinha uma mente elegante, como possuía também a elegância de não humilhar seus “superiores”, que nada mais eram do que medíocres com dinheiro.
A economia do Brasil vai bem, dizem. Mas pouco valerá se formos uma nação de medíocres com dinheiro.
(MEDEIROS, Martha. Feliz por nada. 9. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011).
Assinale o esquema que representa CORRETAMENTE a estrutura sintático-semântica do fragmento extraído do texto. Desconsidere a pontuação e as letras maiúsculas.
Leia este resumo e este fragmento do livro “Olhai os lírios do campo”, de Érico Veríssimo, para responder à questão.
O romance Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo, foi publicado em 1938. Enquadra-se na segunda fase do Modernismo brasileiro. O foco do livro é a vida conturbada do personagem Eugênio, que, apesar de ser pobre, forma-se médico. Eugênio apaixona-se por Olívia, uma colega de faculdade que o ajuda a superar as crises existenciais. Por pretender ascender socialmente, casa-se com Eunice, uma jovem rica. Após o casamento, Eugênio passa a trabalhar na fábrica do sogro, deixando de lado a medicina. Gradativamente percebe que o casamento foi um erro, já que se sente deslocado num meio social em que o mais importante é o dinheiro. Relaciona-se com Isabel, sua amante; porém, em seu interior, nada se altera. Eugênio, cheio de conflitos, procura Olívia em busca de conforto. Olívia, algum tempo depois, morre, deixando-lhe uma filha, Ana Maria, e um grande vazio.
[Olhai os lírios do campo] – fragmento
Naquele dia, chegaram aos ouvidos de Eugênio as últimas versões sobre o rompimento com Eunice. Dizia-se que ele havia apanhado a mulher nos braços de Filipe – afirmavam uns –, nos braços de Acélio Castanho – garantiam outros. [...].
Eugênio ouviu os mexericos sem se perturbar. Limitou-se a sorrir, e depois que ficou a sós não pôde deixar de perguntar a si mesmo como lhe fora possível encarar os fatos de uma maneira tão desligada, tão superior e serena. Se lhe tivessem contado aquelas infâmias em outro tempo, ele teria sentido dor física, teria ficado num estado de absoluta prostração, numa angústia que se prolongaria durante dias e dias.
Os homens eram perversos – concluiu ele. Mas depois corrigiu-se: havia homens muito perversos. Não bastariam as misérias reais da vida, aquelas de que tinha todos os dias dolorosas amostras na sua clínica? Algumas pessoas achavam um prazer depravado em inventar misérias. Como podia uma criatura de alma limpa andar pelos caminhos da vida? Lembrou-se das palavras de Olívia, numa das suas cartas: “Tu uma vez comparaste a vida a um transatlântico e te perguntaste a ti mesmo: estarei fazendo uma viagem agradável? Mas eu asseguro que o mais humano seria perguntar: estarei sendo um bom companheiro de viagem?” Realmente, os homens, em geral, eram maus companheiros de viagem. Apesar da imensidão e das incertezas do mar, apesar do perigo das tempestades, do raio e da fragilidade do navio, eles ainda se obstinavam em ser inimigos uns dos outros. O sensato seria que se unissem numa atitude de defesa e que se trocassem gentilezas, a fim de que a viagem fosse mais agradável para todos.
Enquanto a seringa fervia e o paciente – um rapaz magro e amarelo – esperava, sem casaco, com uma das mangas arregaçadas, Eugênio chegava mais uma vez à mesma conclusão. A gentileza podia melhorar o Mundo. Se os homens cultivassem a gentileza seria possível atenuar um pouco tudo quanto a vida tem de áspero e brutal.
Eugênio olhava para o braço magro do cliente, mas na realidade só via as imagens dos seus pensamentos. A chama do álcool extinguiuse. Eugênio segurou a seringa com a pinça.
(VERÍSSIMO, Érico. Olhai os lírios do campo. São Paulo: Editora Globo, 1938)
Assinale a alternativa que faz uma leitura CORRETA das ideias desse fragmento de texto.
Leia este resumo e este fragmento do livro “Olhai os lírios do campo”, de Érico Veríssimo, para responder à questão.
O romance Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo, foi publicado em 1938. Enquadra-se na segunda fase do Modernismo brasileiro. O foco do livro é a vida conturbada do personagem Eugênio, que, apesar de ser pobre, forma-se médico. Eugênio apaixona-se por Olívia, uma colega de faculdade que o ajuda a superar as crises existenciais. Por pretender ascender socialmente, casa-se com Eunice, uma jovem rica. Após o casamento, Eugênio passa a trabalhar na fábrica do sogro, deixando de lado a medicina. Gradativamente percebe que o casamento foi um erro, já que se sente deslocado num meio social em que o mais importante é o dinheiro. Relaciona-se com Isabel, sua amante; porém, em seu interior, nada se altera. Eugênio, cheio de conflitos, procura Olívia em busca de conforto. Olívia, algum tempo depois, morre, deixando-lhe uma filha, Ana Maria, e um grande vazio.
[Olhai os lírios do campo] – fragmento
Naquele dia, chegaram aos ouvidos de Eugênio as últimas versões sobre o rompimento com Eunice. Dizia-se que ele havia apanhado a mulher nos braços de Filipe – afirmavam uns –, nos braços de Acélio Castanho – garantiam outros. [...].
Eugênio ouviu os mexericos sem se perturbar. Limitou-se a sorrir, e depois que ficou a sós não pôde deixar de perguntar a si mesmo como lhe fora possível encarar os fatos de uma maneira tão desligada, tão superior e serena. Se lhe tivessem contado aquelas infâmias em outro tempo, ele teria sentido dor física, teria ficado num estado de absoluta prostração, numa angústia que se prolongaria durante dias e dias.
Os homens eram perversos – concluiu ele. Mas depois corrigiu-se: havia homens muito perversos. Não bastariam as misérias reais da vida, aquelas de que tinha todos os dias dolorosas amostras na sua clínica? Algumas pessoas achavam um prazer depravado em inventar misérias. Como podia uma criatura de alma limpa andar pelos caminhos da vida? Lembrou-se das palavras de Olívia, numa das suas cartas: “Tu uma vez comparaste a vida a um transatlântico e te perguntaste a ti mesmo: estarei fazendo uma viagem agradável? Mas eu asseguro que o mais humano seria perguntar: estarei sendo um bom companheiro de viagem?” Realmente, os homens, em geral, eram maus companheiros de viagem. Apesar da imensidão e das incertezas do mar, apesar do perigo das tempestades, do raio e da fragilidade do navio, eles ainda se obstinavam em ser inimigos uns dos outros. O sensato seria que se unissem numa atitude de defesa e que se trocassem gentilezas, a fim de que a viagem fosse mais agradável para todos.
Enquanto a seringa fervia e o paciente – um rapaz magro e amarelo – esperava, sem casaco, com uma das mangas arregaçadas, Eugênio chegava mais uma vez à mesma conclusão. A gentileza podia melhorar o Mundo. Se os homens cultivassem a gentileza seria possível atenuar um pouco tudo quanto a vida tem de áspero e brutal.
Eugênio olhava para o braço magro do cliente, mas na realidade só via as imagens dos seus pensamentos. A chama do álcool extinguiuse. Eugênio segurou a seringa com a pinça.
(VERÍSSIMO, Érico. Olhai os lírios do campo. São Paulo: Editora Globo, 1938)
A força expressiva da metáfora advém do fato de fornecer uma analogia condensada e um julgamento de valor concentrado. Assinale a alternativa que exemplifica essa consideração.