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De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, quinze milhões de pessoas trabalham na agropecuária brasileira. Observe a distribuição percentual dessa população por grau de escolaridade.
A partir desses dados, o número de trabalhadores com ensino fundamental incompleto, em milhões, é mais próximo de:
Morro velho
No sertão da minha terra,
fazenda é o camarada que ao chão se deu.
Fez a obrigação com força,
parece até que tudo aquilo ali é seu.
[05] Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho,
lindo a crescer.
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada.
Filho do branco e do preto,
correndo pela estrada atrás de passarinho.
[10] Pela plantação adentro,
crescendo os dois meninos, sempre pequeninos.
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha,
dá pro fundo ver.
Orgulhoso camarada conta histórias pra moçada.
[15] Filho do sinhô vai embora,
tempo de estudos na cidade grande.
Parte, tem os olhos tristes,
deixando o companheiro na estação distante.
“Não me esqueça, amigo, eu vou voltar.”
[20] Some longe o trenzinho ao deus-dará.
Quando volta já é outro,
trouxe até sinhá-mocinha para apresentar.
Linda como a luz da lua
que em lugar nenhum rebrilha como lá.
[25] Já tem nome de doutor
e agora na fazenda é quem vai mandar.
E seu velho camarada
já não brinca, mas trabalha.
MILTON NASCIMENTO
Adaptado de miltonnascimento.com.br
fazenda é o camarada que ao chão se deu. (l. 2)
No verso da canção de Milton Nascimento, o poeta apresenta uma definição da palavra “fazenda”.
Com base na primeira estrofe, essa definição destaca o seguinte elemento do contexto descrito:
Morro velho
No sertão da minha terra,
fazenda é o camarada que ao chão se deu.
Fez a obrigação com força,
parece até que tudo aquilo ali é seu.
[05] Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho,
lindo a crescer.
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada.
Filho do branco e do preto,
correndo pela estrada atrás de passarinho.
[10] Pela plantação adentro,
crescendo os dois meninos, sempre pequeninos.
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha,
dá pro fundo ver.
Orgulhoso camarada conta histórias pra moçada.
[15] Filho do sinhô vai embora,
tempo de estudos na cidade grande.
Parte, tem os olhos tristes,
deixando o companheiro na estação distante.
“Não me esqueça, amigo, eu vou voltar.”
[20] Some longe o trenzinho ao deus-dará.
Quando volta já é outro,
trouxe até sinhá-mocinha para apresentar.
Linda como a luz da lua
que em lugar nenhum rebrilha como lá.
[25] Já tem nome de doutor
e agora na fazenda é quem vai mandar.
E seu velho camarada
já não brinca, mas trabalha.
MILTON NASCIMENTO
Adaptado de miltonnascimento.com.br
A história da casa-grande é íntima de quase todo brasileiro: de sua vida doméstica, conjugal, sob o patriarcalismo escravocrata e polígamo; da sua vida de menino. Nas casas-grandes foi até hoje onde melhor se exprimiu o caráter brasileiro, a nossa continuidade social.
Adaptado de Freyre, G. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1995.
Publicado em 1933, Casa-grande & senzala tornou-se livro de referência nas análises sobre patriarcalismo na sociedade brasileira.
Na letra da canção Morro velho, aspectos das relações patriarcais são abordados, entre eles a “continuidade social”, presente na seguinte passagem:
Percentual da renda total do Brasil nas mãos de cada grupo de rendimentos (2017
No texto, a situação vivenciada pelos dois amigos, ao ingressarem na vida adulta, retrata uma antiga realidade social brasileira, sobretudo no campo, que pode ser reconhecida nos dados indicados nos gráficos.
As duas macrorregiões que possuíam, em 2017, o maior e o menor grau de concentração da riqueza, respectivamente, são:
Lugares de memória: para não esquecer
"Mercado de escravos" (c. 1821), de Debret.
O Cais do Valongo, principal porto de entrada de escravizados das Américas, recebeu em 2017
o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco. A distinção define o Valongo,
localizado na região portuária do Rio de Janeiro, como um “lugar de memória”, ao lado de outros,
como o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, ou a cidade de Hiroshima, no Japão.
[5] Inaugurado em 1811, o cais logo se converteu no principal ponto de desembarque de africanos
escravizados das três Américas. Localizado a poucos passos do Palácio Real, não era raro aos
monarcas brasileiros ver os africanos, apressadamente desembarcados, sendo separados de suas
famílias, limpos, vestidos, pesados, tendo seus corpos marcados a ferro.
Começava, então, uma nova viagem. Dessa vez, rumo à tentativa de desterritorialização e de
[10] invisibilização dos africanos, de quem se procurava apagar a memória, qualquer laivo de identidade
e orgulho que carregavam de suas nações. Vários viajantes passaram pelo Valongo e constataram
o triste espetáculo que se apresentava naquele mercado, dentre eles o artista Jean-Baptiste Debret
(1768-1848).
Em sua aquarela, aparecem os mesmos “esqueletos”
[15] descritos em texto. À direita, o comerciante gorducho
(cuja barriga simboliza a fartura) negocia com o
proprietário de terras, com seu chapelão e bengala, os
detalhes da venda do pequeno garoto postado à sua
frente. O artista francês fez questão de caprichar no vazio
[20] do ambiente, e nos africanos sem rosto, quase nus, que
apenas aguardam pelo destino nas Américas. Um desterro
forçado nos campos tropicais do Brasil.
Em 1911, o Cais do Valongo foi aterrado, da mesma maneira como se tentou esconder e esquecer
“os males e as lembranças dos tempos da escravidão”. Esse era o discurso civilizatório da Primeira
[25] República, que procurava jogar para o Império a conta da escravidão, cuja culpa é de todos nós.
“Redescoberto” 100 anos depois, o Cais do Valongo é hoje um sítio arqueológico que expõe na nossa
atualidade as perversões do sistema escravocrata, mas também testemunha a resistência dessas
populações. Trata-se do mais importante acervo de vestígios materiais e simbólicos localizado fora
da África, com quase 500 mil itens.
[30] A expressão “lugar de memória” foi criada pelo historiador francês Pierre Nora. Seu objetivo era
justamente evitar o desaparecimento dos registros históricos, como arquivos, monumentos, museus
e certos espaços específicos. Podem ser desde objetos materiais e concretos até vestígios imateriais
e orais. O importante, porém, é que eles só se convertem, efetivamente, em “lugares de memória”,
se a imaginação coletiva investi-los como lugares simbólicos.
[35] Conforme define Alberto da Costa e Silva: “O Brasil é um país extraordinariamente africanizado. E
só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de
ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro. Por sua vez, em toda a costa atlântica da África,
podem-se facilmente reconhecer os brasileirismos. O escravo ficou dentro de nós, qualquer que seja
nossa origem.”
LILIA MORITZ SCHWARCZ
Adaptado de nexojornal.com.br, 31/07/2017.
um “lugar de memória”, ao lado de outros, como o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, ou a cidade de Hiroshima, no Japão. (l. 3-4)
A comparação acima inclui o Cais do Valongo no conjunto de lugares de memória pelo reconhecimento do seguinte atributo comum:
Lugares de memória: para não esquecer
"Mercado de escravos" (c. 1821), de Debret.
O Cais do Valongo, principal porto de entrada de escravizados das Américas, recebeu em 2017
o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco. A distinção define o Valongo,
localizado na região portuária do Rio de Janeiro, como um “lugar de memória”, ao lado de outros,
como o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, ou a cidade de Hiroshima, no Japão.
[5] Inaugurado em 1811, o cais logo se converteu no principal ponto de desembarque de africanos
escravizados das três Américas. Localizado a poucos passos do Palácio Real, não era raro aos
monarcas brasileiros ver os africanos, apressadamente desembarcados, sendo separados de suas
famílias, limpos, vestidos, pesados, tendo seus corpos marcados a ferro.
Começava, então, uma nova viagem. Dessa vez, rumo à tentativa de desterritorialização e de
[10] invisibilização dos africanos, de quem se procurava apagar a memória, qualquer laivo de identidade
e orgulho que carregavam de suas nações. Vários viajantes passaram pelo Valongo e constataram
o triste espetáculo que se apresentava naquele mercado, dentre eles o artista Jean-Baptiste Debret
(1768-1848).
Em sua aquarela, aparecem os mesmos “esqueletos”
[15] descritos em texto. À direita, o comerciante gorducho
(cuja barriga simboliza a fartura) negocia com o
proprietário de terras, com seu chapelão e bengala, os
detalhes da venda do pequeno garoto postado à sua
frente. O artista francês fez questão de caprichar no vazio
[20] do ambiente, e nos africanos sem rosto, quase nus, que
apenas aguardam pelo destino nas Américas. Um desterro
forçado nos campos tropicais do Brasil.
Em 1911, o Cais do Valongo foi aterrado, da mesma maneira como se tentou esconder e esquecer
“os males e as lembranças dos tempos da escravidão”. Esse era o discurso civilizatório da Primeira
[25] República, que procurava jogar para o Império a conta da escravidão, cuja culpa é de todos nós.
“Redescoberto” 100 anos depois, o Cais do Valongo é hoje um sítio arqueológico que expõe na nossa
atualidade as perversões do sistema escravocrata, mas também testemunha a resistência dessas
populações. Trata-se do mais importante acervo de vestígios materiais e simbólicos localizado fora
da África, com quase 500 mil itens.
[30] A expressão “lugar de memória” foi criada pelo historiador francês Pierre Nora. Seu objetivo era
justamente evitar o desaparecimento dos registros históricos, como arquivos, monumentos, museus
e certos espaços específicos. Podem ser desde objetos materiais e concretos até vestígios imateriais
e orais. O importante, porém, é que eles só se convertem, efetivamente, em “lugares de memória”,
se a imaginação coletiva investi-los como lugares simbólicos.
[35] Conforme define Alberto da Costa e Silva: “O Brasil é um país extraordinariamente africanizado. E
só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de
ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro. Por sua vez, em toda a costa atlântica da África,
podem-se facilmente reconhecer os brasileirismos. O escravo ficou dentro de nós, qualquer que seja
nossa origem.”
LILIA MORITZ SCHWARCZ
Adaptado de nexojornal.com.br, 31/07/2017.
Palavras de um mesmo campo de significados podem indicar diferentes valores, como o de definição de um elemento e o de resultado de um processo.
Esses dois valores estão exemplificados, respectivamente, no seguinte par de palavras: