Questões de EFAF Português - Sintaxe -
Leia a crônica de Paulo Brabo e responda à questão.
DUZENTAS GRAMAS
Meu amigo Hélio, que é pai do Arthur e diz sonoramente trêss e déss (ao invés de, digamos, “trêis” e “déis”) fica indignado quando peço na padaria duzentas gramas de presunto – quando a forma correta, insiste ele, é “duzentos” gramas. Sempre que acontece e estamos juntos acabamos discutindo uns dez minutos sobre modos diferentes de falar. Ele de praxe argumenta que as regras de pronúncia e ortografia, se existem, devem ser obedecidas – e que os mais cultos (como eu, um cara que traduz livros!) devem insistir na forma correta a fim de esclarecer e encaminhar gente menos iluminada, como supõe-se seja a moça que me vende na padaria o presunto e o queijo. Eu sempre argumento que quando ele diz que só existe uma forma correta de falar está usurpando um termo de outro ramo, e tentando aplicar a ética à gramática: como se falar “corretamente” implicasse em algum grau de correção moral; como se dizer “duzentas” gramas fosse incorrer numa falha de caráter e dizer “duzentos” fosse prova de virtude e integridade. [...]
<https://tinyurl.com/ya6ta9cr> Acesso em: 09.11.2017.
Releia o trecho.
Hélio aponta um desvio da norma padrão na expressão “duzentas gramas” utilizada pelo autor no seu dia a dia. No entanto, ele não aponta o motivo dessa expressão não estar correta.
Assinale a alternativa que contenha o tipo de problema identificado por Hélio.
A EQUAÇÃO DA FELICIDADE
10 § É sério: o segredo da felicidade tem a ver com a redução de expectativas. Aquele seu amigo piadista das redes sociais e o para-choque dos caminhões pelo Brasil estão há muito tempo falando a verdade. Quem endossa essa tese são cientistas e sociólogos, cujas descobertas sobre o estado de espírito mais cobiçado pela humanidade estão na mira de corporações dos mais variados tipos e tamanhos. Essa tal felicidade pode, claro, se fazer presente nas coisas mais simples da vida, como tomar um picolé ou curtir uma roda de violão. O “povo de humanas” tem muito a dizer sobre isso. Mas a lógica por trás desse sentimento tem sido cada vez mais alvo de estudo e pesquisa de instituições renomadas. Se a academia tem chegado ao mesmo tipo de conclusão que a sabedoria popular, a questão passou a ser como medir o grau de felicidade de uma pessoa ou de um grupo. Esse desafio toca principalmente neurocientistas e economistas: quantificar algo tão abstrato que deveria ser impossível de medir. Mas eles insistem. A busca não começou agora. Os gregos, como sempre, deram a largada lá atrás. Alguns séculos depois, a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, propôs uma experiência em longo prazo, da qual até o ex-presidente norte-americano John Kennedy participou.
20 § Também estão nesse jogo de passar a felicidade a limpo equipes como a da University College London, do Reino Unido. Eles publicaram em 2014 e atualizaram neste ano uma fórmula matemática que, segundo os criadores, é capaz de prever se uma pessoa será feliz e ainda determinar como a prosperidade alheia e a desigualdade social são capazes de afetar a felicidade individual. Para chegar à “fórmula da felicidade”, o time liderado pelo neurocientista Robb Rutledge estabeleceu o seguinte processo na primeira etapa: 26 pessoas foram submetidas a uma série de tarefas em que, a partir de decisões que elas tomavam, poderiam ganhar ou perder dinheiro; enquanto as decisões eram tomadas, os participantes respondiam o quanto estavam felizes naquele instante; uma ressonância magnética media a atividade cerebral de cada participante no momento em que ele dava a resposta. Com esses dados, os pesquisadores deduziram a equação, considerando o que os participantes esperavam ganhar, as recompensas obtidas e as sensações geradas no cérebro de cada um deles. E a conclusão da equipe foi que… sim, as suas expectativas definem o quanto você será feliz.
30 § O time do dr. Rutledge ampliou a brincadeira. Por meio de um jogo de celular, estenderam o teste a 18 mil pessoas. O resultado: “expectativas mais baixas tornam mais provável que um resultado as supere e tenha um impacto positivo na felicidade”. E o simples fato de planejar e esperar que algo bom aconteça pode nos deixar mais felizes, mesmo que por um breve momento. Até aí, nenhuma grande novidade. Mas o endosso científico ao senso comum ajuda a entender distúrbios ligados às emoções humanas, como o transtorno de humor. Conseguir quantificar a possibilidade desse tipo de mal na população pode ajudar políticas preventivas de saúde e, claro, a evitar prejuízos ao capitalismo: uma pessoa infeliz tem grandes chances de produzir menos e pior. “Podemos começar a ter um entendimento mais detalhado das emoções humanas. Isso poderia potencialmente ser usado por empresas para melhorar a satisfação de empregados e clientes, perguntando para as pessoas sobre sua felicidade e prevendo-a com base em suas experiências. Também espero que possa ser usado para entender o que acontece com as pessoas que têm depressão”, afirma Rutledge.
Felicidade industrial
40 § O aprimoramento científico em medir emoções é criticado pelo sociólogo britânico William Davies, autor do livro A Indústria da Felicidade. Davies admite que pesquisas e programas sobre felicidade e bem-estar são um avanço, mas não a favor das pessoas, e sim no apoio a uma agenda de interesses políticos e econômicos, muitas vezes com fins mais privados do que públicos. “Na era das imagens por ressonância magnética, tem se tornado cada vez mais comum falar sobre o que nossos cérebros estão ‘querendo’ ou ‘sentindo’. Em muitas situações, isso é representado como uma declaração de intenções mais profunda do que qualquer coisa que pudéssemos relatar verbalmente”, afirma. Quanto mais esse sentimento particular – que é a felicidade – se aproxima de algo concreto, massificado, que podemos tocar ou até mesmo manusear, fica mais fácil dar a ele um valor que se pode calcular.
50 § Nos Estados Unidos, empresas de pesquisa de opinião estimam que a infelicidade dos assalariados custa à economia do país US$ 500 bilhões por ano em produtividade reduzida, receitas fiscais perdidas e custos com saúde, de acordo com o sociólogo. “A ciência da felicidade alcançou a influência que tem porque promete a solução que tanto se esperava. Em primeiro lugar, economistas da felicidade são capazes de colocar preço monetário no problema da miséria e da alienação. Isso permite que nossas emoções e bem-estar sejam colocados dentro de cálculos mais amplos de eficiência econômica”, aponta Davies. Mais do que isso, para que fórmulas e políticas públicas sociais sejam apresentadas como coerentes, o processo de industrialização da felicidade precisa que todos os humanos pensem e sintam as relações e o entorno do mesmo jeito, algo bem distante da realidade. “O que a indústria do consumo e o seu discurso vêm fazendo em torno da felicidade, com todos os seus gurus, desde o chefe da felicidade em uma empresa, o cara da meditação, o outro que diz que empreendeu e agora não tem mais chefe, desde o motorista do Uber até o agente de viagem, é ganhar em cima da gente nos fascinando, porque ficam vendendo caminhos possíveis para chegar lá [à felicidade]”, diz o antropólogo e pesquisador de consumo Michel Alcoforado.
60 § Até que apareça um novo mestre espiritual, uma nova dieta, um novo passo a passo para o Éden ou uma nova verdade sobre o colesterol da gema do ovo, o mantra da hora é ostentar. Enquanto a resposta para a felicidade não chega, exibimos e compartilhamos a ideia de que estamos podendo muito. Bens usados para uma movimentação social até um “lugar de destaque” – uma característica forte da sociedade brasileira – ficam desvalorizados quando mais gente pode comprar o que você já tem. Nesse jogo de quem é o mais feliz, quanto mais exclusiva a felicidade, melhor a posição no campeonato. “Sobretudo nas elites, é comprar experiências. Num processo em que você tem uma redefinição de classes no Brasil, muitas pessoas começam a poder comprar coisas, e o principal sinal de distinção das elites é caminhar dizendo: ‘Olha, coisas não me servem mais, porque elas não me distinguem mais com tanta força. Eu vou em busca das experiências’”, afirma Alcoforado. “Se qualquer um pode comprar uma bolsa da Chanel, poucas pessoas podem fazer um mochilão pelo Sudeste Asiá- tico e comer aquele frango com molho ‘thai’ em Bancoc, que ninguém conhece”, completa. Sem consumo não se vive, não adianta fugir, diz o antropólogo, pois é essa a regra do jogo. O segredo para não ser engolido é escolher o tipo de partida que você topa encarar. Tudo em nome da felicidade – ou daquilo que imaginamos que ela seja.
FUJITA, Gabriela. Disponível em: . Acesso em: 23 set. 2016. (Adaptado).
O emprego do pronome em destaque NÃO está de acordo com as regras de concordância da norma padrão em:
Assinale a alternativa CORRETA quanto à concordância verbal e nominal.
A questão refere-se ao texto a seguir.
Texto I
A evolução das teorias
Os cientistas têm todo tipo de explicação para o surgimento dos humanos – da dança à rebeldia adolescente. Alguma delas vai resistir à pressão seletiva?
[1] O que nos tornou humanos? Até pouco tempo atrás, havia poucas
teorias para explicar o salto evolutivo que conferiu a nossos ancestrais
a capacidade de raciocinar. O polegar opositor era uma candidata –
deu a um grupo de hominídeos a chance de fazer movimentos de
[5] pinça, com os quais pôde produzir ferramentas. Outra tese era a
linguagem. A possibilidade de falar nos fez criar símbolos, a essência
de uma cultura. Uma terceira teoria era a vida em grupo. A necessi-
dade de memorizar rostos e saber quem era fiel, quem traía, quem
estava acima ou abaixo na hierarquia social teria dado origem a nossa
[10] inteligência.
Todas essas teses são ótimas. Mas não chamam mais a atenção.
Em seu lugar, uma série de hipóteses mais ousadas tem ganhado
espaço no meio científico. A mais recente é que devemos nossa inte
ligência... aos animais. Em artigo na revista Current Antropology, a
[15] americana Pat Shipman, da Universidade da Pensilvânia, diz que
nossos ancestrais tiveram de entender o comportamento dos animais
porque eram presas e, a partir da criação de ferramentas, também
predadores. “Esse entendimento levou à linguagem e, em um último
estágio, à domesticação dos animais”, me disse Shipman por e-mail.
[20] Se você acha essa ideia esquisita, que tal a tese de que nós
viramos humanos porque aprendemos a cozinhar? Ou porque
gostamos de música? Ou – a minha preferida – porque nossos
adolescentes são mais chatos que os adolescentes dos outros ani
mais? Todas elas foram defendidas nos últimos dois anos.
[25] A evolução das teorias sobre nossa evolução tem um motivo: a
seleção natural das pautas de revistas científicas. Quanto mais
inusitada a proposta, mais chance de chamar a atenção – e de ser
publicada.
Isso não quer dizer que elas não tenham mérito. Se não soubés-
[30] semos cozinhar, por exemplo, nosso maxilar teria de ser muito mais
desenvolvido para mastigar alimentos duros e nosso estômago teria
de ser maior (como o dos chimpanzés). Sobrariam menos espaço e
energia para o cérebro.
O problema não é com as teorias inusitadas em si, mas com o
[35] próprio fato de procurar a atividade isolada que nos tornou humanos.
“Procurar por um único aspecto é perda de tempo”, diz o psicólogo
americano Michael Gazzaniga, da Universidade da Califórnia. “Posso
falar porque já tentei”. E ainda tenta. Gazzaniga hoje aposta que nos
tornamos humanos ao aprender a controlar impulsos e postergar o
[40] prazer.
“Cada evento em nossa evolução, seja cantar, cozinhar ou domes
ticar animais, é consequência de uma necessidade, que levou à
outra”, diz o etólogo Eduardo Ottoni, da Universidade de São Paulo.
E a necessidade de criar teorias, de onde terá vindo?
BUSCATO, Marcela. Revista Época, Rio de Janeiro, 23 ago. 2010, n. 640, p. 132.
Considere a passagem seguinte.
“Se você acha essa ideia esquisita, que tal a tese de que nós viramos humanos porque aprendemos a cozinhar? Ou porque gostamos de música? Ou – a minha preferida – porque nossos adolescentes são mais chatos que os adolescentes dos outros animais?”
A relação sintático-semântica estabelecida pelo conectivo em destaque NÃO foi interpretada corretamente em:
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