Questões de EFAF Português - Morfologia -
Texto 1
Dá pra desenhar?
Marcelo Gruman
1º§ Numa cena de um de meus comediantes favoritos, Jerry Seinfeld¹, seu amigo neurótico George se vê às voltas com a necessidade de resgatar alguns livros deixados na casa de uma moça com quem acabou de terminar um relacionamento. Jerry não vê problema algum, mas George não gosta da ideia. Jerry, então, diz para o amigo esquecer os livros, perguntando-lhe se realmente precisa deles. George diz que sim, que precisa dos livros, e Jerry pergunta por quê. George responde que os livros são seus e que, por isso, precisa deles. E por que precisa deles?, insiste Seinfeld. George exclama simplesmente “são livros!”. Seinfeld indaga, então: “Que obsessão é essa com os livros? As pessoas os colocam em suas casas como se fossem troféus. Para que você precisa deles depois de serem lidos?”. E ironiza, finalmente, “Sabe, o legal de ler Moby Dick² pela segunda vez é que Ahab e a baleia ficam amigos”.
2º§ Quando abro a porta de meu apartamento dou de cara com uma estante cheia de livros, meus troféus. Ali estão meus favoritos da literatura brasileira, João Ubaldo, Veríssimo, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Cony, e também os estrangeiros, Saramago, Roth, Dostoievski, Tchekhov e muitos outros. Também me orgulha uma pequena biblioteca de livros com a temática judaica e outra com obras que fizeram e fazem parte de minha formação antropológica. A reação de quem se depara com as prateleiras cheias de livros é variada, há quem exclame maravilhado com os títulos ali dispostos, há quem pergunte, à la Seinfeld, para que tanto livro, para que acumular poeira e traças. No quarto de meu filho, a galeria de troféus aumenta um pouco a cada mês, somando-se ao folclore brasileiro e gibis da Turma da Mônica e Batman estórias da porquinha Olivia em português e espanhol e clássicos da literatura estrangeira, como The cat in the hat. A escola faz a sua parte, o troca-troca de livros entre os colegas e a ida semanal à biblioteca garante que, pelo menos, dois livros sejam lidos fora do horário de estudos formal, geralmente à hora de deitar para dormir.
3º§ Damos importância ao livro e, sobretudo, à leitura. Claro, para ler um livro, é preciso, primeiro, saber ler. Cultivamos o hábito da leitura, cultivamos o intelecto, a leitura como instrumento para gerar a autonomia, para a construção da própria trajetó- ria de vida, para a compreensão e interpretação do mundo que nos cerca a partir do nosso ponto de vista, e não de terceiros, uma empobrecida leitura mastigada, enviesada e, muitas vezes, coalhada de preconceitos e estereótipos. A capacidade de ler permite o acesso a mundos até então desconhecidos, do Saci Pererê, do Lobo Mau, da Chapeuzinho Vermelho, da Mula Sem Cabeça. Permite a construção de nossa identidade, daquilo que somos, ou melhor, que estamos, porque aquilo que somos pode mudar sempre, é só querermos. Nada mais emocionante do que ver seu filho, de repente, ler o letreiro de uma loja, pela primeira vez. Um novo mundo se abre: um mundo de possibilidades infinitas, mundos infinitos.
4º§ Para mim, o livro tem de ter cheiro, às favas com minha alergia à poeira. Eu preciso manuseá-lo, tocá-lo, virar suas páginas. O livro é parte constituinte de quem sou, de minha identidade, é extensão de meu corpo, está impregnado de memória, da minha memória, da minha história. Livro não é produto biodegradável, descartável, pós-moderno, do tipo “lavou, está novo”. O livro estabelece ligações afetivas. Lembro-me de um colega de faculdade comentando, certa vez, com certa excitação, que havia encontrado, num sebo, determinado livro que a namorada procurava fazia não sei quanto tempo. O tesouro seria dado como presente de aniversário. Poderia ser o Harry Potter ou Cinquenta tons de cinza, boa literatura, má literatura, o importante é ler...
5º§ As livrarias no Rio de Janeiro estão desaparecendo, sobretudo os sebos, que teimam em comercializar objetos sujos de histó- ria. [...] É a tal “civilização digital”. Se não digital, do kindle³ e do IPhone³, do ambiente asséptico, inodoro, impessoal de cadeias livreiras como Cultura, Travessa ou Saraiva, padronizadas. Chegamos à era da “mcdonaldização” do hábito de ler. Sem passado, sem futuro, um presente contínuo.
6º§ Não bastasse o desprestígio do livro físico, vivemos o “triunfo total da não-leitura”, conforme o editor de não-ficção e literatura brasileira da Editora Record, Carlos Andreazza, que resolveu lançar a campanha pela “maioridade intelectual”, que considera uma provocação à onda dos livros de colorir. Para ele, o editor também é um educador e tem a obrigação de atrair o leitor jovem-adulto, ampliando o público leitor como uma resposta saudável a esta atração cultural que é “o livro de unir os pontinhos”, como ironicamente o define Joaquim Ferreira dos Santos. Andreazza diz que, hoje, somos obrigados a falar redundâncias bárbaras como “livro para ler”. Uma piada de mau gosto porque livro pressupõe leitura.
7º§ [...] Há não muito tempo, perguntávamos a quem não entendia o que falávamos se gostaria que desenhássemos a explicação. Era uma brincadeira, uma forma de infantilizar o interlocutor. Chegou o dia em que a piada perdeu a graça, porque deixou de ser piada.
Fonte: , texto adaptado. Acesso em: 03 set. 2015
Vocabulário de apoio:
1- Jerome “Jerry” Allen Seinfeld – ator e humorista norte-americano, atua em Nova Iorque, EUA.
2- Moby Dick – romance do autor estadunidense Herman Melville. O nome da obra é o de uma baleia enfurecida, de cor branca, que conseguiu destruir baleeiros que a haviam ferido. Originalmente foi publicado em três fascículos com o título de Moby-Dick ou A Baleia, em Londres, em 1851, e, ainda no mesmo ano, em Nova York, em edição integral. O livro foi revolucionário para a época, com descrições intricadas e imaginativas das aventuras do narrador – Ismael, suas reflexões pessoais, e grandes trechos de não-ficção, sobre variados assuntos, como baleias, métodos de caça a elas, arpões, a cor branca (de Moby Dick), detalhes sobre as embarcações e funcionamentos, armazenamento de produtos extraídos das baleias.
3- kindle – leitor de livros digitais desenvolvido pela subsidiária da Amazon, que permite aos usuários comprar, baixar, pesquisar e, principalmente, ler livros digitais, jornais, revistas, e outras mídias digitais via rede sem fio.
4- IPhone – linha de smartphones (telefones celulares multifuncionais) concebidos e comercializados pela Apple Inc.
Considere o trecho a seguir:
[...] Há não muito tempo, perguntávamos (1) a quem não entendia o que falávamos se gostaria (2) que desenhássemos (3) a explicação. Era uma brincadeira, uma forma de infantilizar o interlocutor. Chegou o dia em que a piada perdeu a graça, porque deixou de ser piada.
A indicação da desinência modo-temporal dos verbos 1, 2 e 3, grifados nesse trecho, está correta em
Leia, atentamente, o artigo.
Em oito meses, país registra 693 mortes por dengue e bate recorde
Os dados também colocam 2015 como o ano com maior número de óbitos provocados pela dengue desde 1990.
Boletim divulgado pelo Ministério da Saúde aponta que o país já teve 693 mortes causadas pela dengue nos primeiros oito meses do ano. O número é 70% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.
Os dados também colocam 2015 como o ano com maior número de óbitos provocados pela dengue desde 1990. O recorde anterior tinha ocorrido em 2013, quando o ministério contabilizou 674 mortes causadas pela doença em todo o ano.
Entre janeiro e agosto, a região Sudeste concentrou 68,5% das mortes, enquanto o Estado campeão foi São Paulo, com 403 óbitos - 41% do total do país. Outros Estados com números expressivos são: Goiás (67), Ceará (50) e Minas Gerais (47). Apenas Acre, Roraima, Sergipe e Santa Catarina não registraram mortes.
Segundo o ministério, os óbitos ocorreram em um maior número de municípios, e os casos foram na grande maioria confirmados em pacientes acima de 60 anos, com morbidades e fatores de risco para complicação de dengue.
Ao todo, o país já registrou 1,4 milhão notificações de casos de dengue, o que também corresponde a um aumento de 170% em relação ao mesmo período de 2014. O mesmo ocorreu com os casos da febre de chikungunya, também transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, saltando de 3.657 para 12.170 - aumento de mais de 200%.
O ministério afirmou que repassou verba adicional de R$ 150 milhões a todos os Estados e municípios brasileiros em janeiro, exclusivo para qualificação das ações de combate aos mosquitos transmissores da dengue e do chikungunya. O valor soma-se ao R$ 1,25 bilhão destinado a todas as ações de vigilância em saúde, inclusive da dengue.
Na capital paulista, o prefeito Fernando Haddad (PT) sancionou na semana passada uma lei que autoriza o ingresso forçado de agentes de combate à dengue em imóveis particulares. A administração, no entanto, ainda deverá regulamentar a lei, para deixar mais claras as situações em que a medida será usada.
No interior do Estado, algumas prefeituras estão antecipando as campanhas de combate ao mosquito transmissor e deverão usar equipamentos mais sofisticados, como drones, para encontrar os criadouros.
Disponível em: . Acesso em: 08 out. 2015
No texto, a frase: “Boletim divulgado pelo Ministério da Saúde aponta que o país já teve 693 mortes” (primeira linha), o verbo “apontar”, empregado no tempo presente:
A estranha passageira
Stanislaw Ponte Preta
– O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou com zero hora de voo - e riu nervosinha, coitada.
Depois pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se foi a oportunidade de ler o romance policial que eu comprara no aeroporto, para me distrair na viagem. Suspirei e me fiz de educado respondendo que estava às suas ordens.
Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu embaraço ante as perguntas que aquela senhora me fazia aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A coisa foi ficando ridícula: – Para que esse saquinho aí? – foi a pergunta que fez, num tom de voz que parecia que ela estava no Rio e eu em São Paulo.
– É para a senhora usar em caso de necessidade – respondi baixinho.
Tenho certeza de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam qual foi, porque ela arregalou os olhos e exclamou:
– Uai... as necessidades neste saquinho? No avião não tem banheiro? Alguns passageiros riram, outros – por fineza – fingiram ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira de primeira viagem. Mas ela era um azougue* (...) e não parava de badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás e esparramando embrulhos por todos os lados.
O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta:
– Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?
Expliquei que emergência não era ninguém, a porta é que era de emergência, isto é, em caso de necessidade, saía-se por ela.
Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término do “show”. Mesmo os que mais se divertiam com ele resolveram abrir jornais, revistas ou se acomodarem para tirar uma pestana durante a viagem.
Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela pedira para ficar do lado da janelinha para ver a paisagem) e gritou:
– Puxa vida!!!
Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse:
– Olha lá embaixo.
Eu olhei. E ela acrescentou: – Como nós estamos voando alto, moço.
Olha só ... o pessoal lá embaixo parece formiga.
Suspirei e lasquei:
– Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não levantou voo.
<http://atividadeslinguaportuguesa.blogspot.com.br/2013/08/a-estranha-passageira-estanislaw-ponte.html> Acesso em: 26.02.2015. Adaptado.
* azougue: indivíduo que expressa ligeireza; quem é muito rápido.
“O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia qualquer coisa.”
As formas verbais em destaque foram empregadas no modo indicativo e a respeito delas é Correto afirmar que
Leia o texto “Ousadia”, de Fernando Sabino, para responder à questão:
TEXTO :
Ousadia
(Fernando Sabino)
A moça ia no ônibus muito contente desta vida, mas, ao saltar, a contrariedade se anunciou:
- A sua passagem já está paga - disse o motorista.
- Paga por quem?
- Esse cavalheiro aí.
E apontou um mulato bem vestido que acabara de deixar o ônibus, e aguardava com um sorriso junto à calçada.
- É algum engano, não conheço esse homem. Faça o favor de receber.
- Mas já está paga...
- Faça o favor de receber! - insistiu ela, estendendo o dinheiro e falando bem alto para que o homem ouvisse:
- Já disse que não conheço! Sujeito atrevido, ainda fica ali me esperando, o senhor não está vendo? Vamos, faço questão que o senhor receba minha passagem.
O motorista ergueu os ombros e acabou recebendo: melhor para ele, ganhava duas vezes.
A moça saltou do ônibus e passou fuzilando de indignação pelo homem.
Foi seguindo pela rua, sem olhar para ele.
Se olhasse, veria que ele a seguia, meio ressabiado, a alguns passos.
Somente quando dobrou à direita para entrar no edifício onde morava, arriscou uma espiada: lá vinha ele! Correu para o apartamento, que era no térreo, e pôs-se a bater aflita:
- Abre! Abre aí!
A empregada veio abrir e ela irrompeu pela sala, contando aos pais atônitos, em termos confusos, a sua aventura:
- Descarado, como é que tem coragem? Me seguiu até aqui!
De súbito, ao voltar-se, viu pela porta aberta que o homem ainda estava lá fora, no saguão.
Protegida pela presença dos pais, ousou enfrentá-lo:
- Olha ele ali! É ele, venham ver! Ainda está ali o sem-vergonha.
Mas que ousadia!
Todos se precipitaram para a porta. A empregada levou as mãos à cabeça:
- Mas a senhora, como é que pode! É o Marcelo.
- Marcelo? Que Marcelo? - a moça se voltou surpreendida.
- Marcelo, o meu noivo. A senhora conhece ele, foi quem pintou o apartamento.
A moça só faltou morrer de vergonha:
- É mesmo, é o Marcelo! Como é que eu não o reconheci! Você me desculpe, Marcelo, por favor.
No saguão, Marcelo torcia as mãos, encabulado:
- A senhora é que me desculpe, foi muita ousadia...
SABINO, Fernando. Ousadia. In: Para gostar de ler – Crônicas. São Paulo: Ática, 1981. v. 2.
Considerando a leitura do início da crônica “Ousadia”, assinale a única alternativa FALSA:
Assinale abaixo a única opção em que a partícula “se” NÃO integra um verbo pronominal:
Assinale a alternativa cujos verbos completam, correta e respectivamente, o texto a seguir.
Ontem, um dos capitães dos times de basquete não ___________ comparecer à reunião, por isso decidimos adiá-la para o próximo domingo.
___________ na sede do clube, às 10 horas e, quem se ____________ a chegar mais cedo, poderá assistir a uma palestra sobre as regras do rúgbi.
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