Leia a charge para responder à questão.
Analisando a charge em debate, é CORRETO afirmar que ela tem o intuito de:
Leia a crônica “Neide” para responder à questão.
Neide
O céu está limpo, não há nenhuma nuvem acima de nós. O avião, entretanto, começa a dar
saltos, e temos de pôr os cintos para evitar uma cabeçada na poltrona da frente. Olho pela janela: é
que estamos sobrevoando de perto um grande tumulto de montanhas. As montanhas são belas,
cobertas de florestas; no verde-escuro há manchas de ferrugem de palmeiras, algum ouro de ipê,
[5] alguma prata de embaúba – e de súbito uma cidade linda e um rio estreito. Dizem-me que é
Petrópolis.
É fácil explicar que o vento nas montanhas faz corrente para baixo e para cima, como
também o ar é mais frio debaixo da leve nuvem. A um passageiro assustado, o comissário diz que
“isso é natural”. Mas o avião, com o tranquilo conforto imóvel com que nos faz vencer milhas em
[10] segundos, havia nos tirado o sentimento do natural. Somos hóspedes da máquina. Os motores foram
revistos, estão perfeitos, funcionam bem, e temos nossas passagens no bolso; tudo está em ordem.
Os solavancos nos lembram de que a natureza insiste em existir, e ainda nos precipita além dela,
para os reinos azuis da Metafísica. Pode o avião vencer a montanha, e desprezar as passagens
antigas que a humanidade sempre trilhou. Mas sua vitória não pode ser saboreada de perto: mesmo
[15] debaixo, a montanha ainda fez sentir que existe e à menor imprudência da máquina o gigante
vencido a sorverá de um hausto, e a destruirá. Assim a humilde lagoa, assim a pequena nuvem: a
tudo isso somos sensíveis dentro de nosso monstro de metal.
A menina disse que era mentira, que não se via anjo nenhum nas nuvens. O homem, porém,
explicou que sim, e pediu que eu confirmasse. Eu disse:
[20] – Tem anjo sim. Mas tem muito pouco. Até agora desde que saímos eu só vi um, e assim
mesmo de longe. Hoje em dia há muito poucos anjos no céu. Parece que eles se assustam com os
aviões. Nessas nuvens maiores nunca se encontra nenhum. Você deve procurar nas nuvenzinhas
pequenas, que ficam separadas uma das outras; é nelas que os anjos gostam de brincar. Eles voam
de uma para outra.
[25] A menina queria saber de que cor eram as asas dos anjos, e de que tamanho eles eram. O
homem explicou que os anjos tinham as asas da mesma cor daquele vestidinho da menina; e eram
de seu tamanho. Ela começou a duvidar novamente, mas chamamos o comissário de bordo. Ele
confirmou a existência dos anjos com a autoridade de seu ofício; era impossível duvidar da palavra
do comissário de bordo, que usa uniforme e voa todo dia para um lado e outro, e além disso ele
[30] tinha um argumento impressionante: “Então você não sabia que tem anjos no céu? ” E perguntou se
ela tinha vontade de ser anjo.
– Não.
– Que é que você quer ser?
– Aeromoça!
[35] E começou a nos servir biscoitos; dois passageiros que estavam cochilando acordaram
assustados porque ela apertou o botão que faz descer as costas das poltronas; mas depois riram e
aceitaram os biscoitos.
– A Baía de Guanabara!
Começamos a descer. E quando o avião tocava o solo, naquele instante de leve tensão
[40] nervosa, ela se libertou do cinto e gritou alegremente:
– Agora tudo vai explodir!
E disse que queria sair primeiro porque estava com muita pressa, para ver as horas na torre
do edifício ali perto: pois já sabia ver as horas.
Não deviam ter-lhe ensinado isso. Ela já sabe tanta coisa! As horas se juntam, fazem os dias,
[45] fazem os anos, e tudo vai passando, e os anjos depois não existem mais, nem no céu, nem na terra.
BRAGA, Rubem. Neide. In: ANDRADE, Carlos Drummond et al. Para gostar de ler: crônicas. São Paulo: Ática, 1980. p. 40-42. Adaptado.
A respeito da crônica de Rubem Braga, analise as seguintes afirmativas:
I – Rubem Braga descreve uma cena cotidiana: a curiosidade de uma criança em relação ao infinito representado pelas nuvens.
II – o cronista narra a história através do olhar do narrador em primeira pessoa que registra os acontecimentos sob uma ótica pessoal.
III – a narrativa caracteriza-se por um lirismo poético, que é representado pela visão de mundo de uma inocente menina.
IV – a crônica confere naturalidade aos fatos à medida em que sua linguagem excessivamente formal expõe o drama da queda do avião.
Leia a crônica “Neide” para responder à questão.
Neide
O céu está limpo, não há nenhuma nuvem acima de nós. O avião, entretanto, começa a dar
saltos, e temos de pôr os cintos para evitar uma cabeçada na poltrona da frente. Olho pela janela: é
que estamos sobrevoando de perto um grande tumulto de montanhas. As montanhas são belas,
cobertas de florestas; no verde-escuro há manchas de ferrugem de palmeiras, algum ouro de ipê,
[5] alguma prata de embaúba – e de súbito uma cidade linda e um rio estreito. Dizem-me que é
Petrópolis.
É fácil explicar que o vento nas montanhas faz corrente para baixo e para cima, como
também o ar é mais frio debaixo da leve nuvem. A um passageiro assustado, o comissário diz que
“isso é natural”. Mas o avião, com o tranquilo conforto imóvel com que nos faz vencer milhas em
[10] segundos, havia nos tirado o sentimento do natural. Somos hóspedes da máquina. Os motores foram
revistos, estão perfeitos, funcionam bem, e temos nossas passagens no bolso; tudo está em ordem.
Os solavancos nos lembram de que a natureza insiste em existir, e ainda nos precipita além dela,
para os reinos azuis da Metafísica. Pode o avião vencer a montanha, e desprezar as passagens
antigas que a humanidade sempre trilhou. Mas sua vitória não pode ser saboreada de perto: mesmo
[15] debaixo, a montanha ainda fez sentir que existe e à menor imprudência da máquina o gigante
vencido a sorverá de um hausto, e a destruirá. Assim a humilde lagoa, assim a pequena nuvem: a
tudo isso somos sensíveis dentro de nosso monstro de metal.
A menina disse que era mentira, que não se via anjo nenhum nas nuvens. O homem, porém,
explicou que sim, e pediu que eu confirmasse. Eu disse:
[20] – Tem anjo sim. Mas tem muito pouco. Até agora desde que saímos eu só vi um, e assim
mesmo de longe. Hoje em dia há muito poucos anjos no céu. Parece que eles se assustam com os
aviões. Nessas nuvens maiores nunca se encontra nenhum. Você deve procurar nas nuvenzinhas
pequenas, que ficam separadas uma das outras; é nelas que os anjos gostam de brincar. Eles voam
de uma para outra.
[25] A menina queria saber de que cor eram as asas dos anjos, e de que tamanho eles eram. O
homem explicou que os anjos tinham as asas da mesma cor daquele vestidinho da menina; e eram
de seu tamanho. Ela começou a duvidar novamente, mas chamamos o comissário de bordo. Ele
confirmou a existência dos anjos com a autoridade de seu ofício; era impossível duvidar da palavra
do comissário de bordo, que usa uniforme e voa todo dia para um lado e outro, e além disso ele
[30] tinha um argumento impressionante: “Então você não sabia que tem anjos no céu? ” E perguntou se
ela tinha vontade de ser anjo.
– Não.
– Que é que você quer ser?
– Aeromoça!
[35] E começou a nos servir biscoitos; dois passageiros que estavam cochilando acordaram
assustados porque ela apertou o botão que faz descer as costas das poltronas; mas depois riram e
aceitaram os biscoitos.
– A Baía de Guanabara!
Começamos a descer. E quando o avião tocava o solo, naquele instante de leve tensão
[40] nervosa, ela se libertou do cinto e gritou alegremente:
– Agora tudo vai explodir!
E disse que queria sair primeiro porque estava com muita pressa, para ver as horas na torre
do edifício ali perto: pois já sabia ver as horas.
Não deviam ter-lhe ensinado isso. Ela já sabe tanta coisa! As horas se juntam, fazem os dias,
[45] fazem os anos, e tudo vai passando, e os anjos depois não existem mais, nem no céu, nem na terra.
BRAGA, Rubem. Neide. In: ANDRADE, Carlos Drummond et al. Para gostar de ler: crônicas. São Paulo: Ática, 1980. p. 40-42. Adaptado.
Releia o fragmento a seguir: “Pode o avião vencer a montanha, e desprezar as passagens antigas que a humanidade sempre trilhou. Mas sua vitória não pode ser saboreada de perto: mesmo debaixo, a montanha ainda fez sentir que existe e à menor imprudência da máquina o gigante vencido a sorverá de um hausto, e a destruirá” (linhas 13, 14, 15 e 16). A figura de estilo que personifica o avião e a montanha, destinando-lhes reações típicas dos seres humanos, chama-se:
Leia a crônica “Neide” para responder à questão.
Neide
O céu está limpo, não há nenhuma nuvem acima de nós. O avião, entretanto, começa a dar
saltos, e temos de pôr os cintos para evitar uma cabeçada na poltrona da frente. Olho pela janela: é
que estamos sobrevoando de perto um grande tumulto de montanhas. As montanhas são belas,
cobertas de florestas; no verde-escuro há manchas de ferrugem de palmeiras, algum ouro de ipê,
[5] alguma prata de embaúba – e de súbito uma cidade linda e um rio estreito. Dizem-me que é
Petrópolis.
É fácil explicar que o vento nas montanhas faz corrente para baixo e para cima, como
também o ar é mais frio debaixo da leve nuvem. A um passageiro assustado, o comissário diz que
“isso é natural”. Mas o avião, com o tranquilo conforto imóvel com que nos faz vencer milhas em
[10] segundos, havia nos tirado o sentimento do natural. Somos hóspedes da máquina. Os motores foram
revistos, estão perfeitos, funcionam bem, e temos nossas passagens no bolso; tudo está em ordem.
Os solavancos nos lembram de que a natureza insiste em existir, e ainda nos precipita além dela,
para os reinos azuis da Metafísica. Pode o avião vencer a montanha, e desprezar as passagens
antigas que a humanidade sempre trilhou. Mas sua vitória não pode ser saboreada de perto: mesmo
[15] debaixo, a montanha ainda fez sentir que existe e à menor imprudência da máquina o gigante
vencido a sorverá de um hausto, e a destruirá. Assim a humilde lagoa, assim a pequena nuvem: a
tudo isso somos sensíveis dentro de nosso monstro de metal.
A menina disse que era mentira, que não se via anjo nenhum nas nuvens. O homem, porém,
explicou que sim, e pediu que eu confirmasse. Eu disse:
[20] – Tem anjo sim. Mas tem muito pouco. Até agora desde que saímos eu só vi um, e assim
mesmo de longe. Hoje em dia há muito poucos anjos no céu. Parece que eles se assustam com os
aviões. Nessas nuvens maiores nunca se encontra nenhum. Você deve procurar nas nuvenzinhas
pequenas, que ficam separadas uma das outras; é nelas que os anjos gostam de brincar. Eles voam
de uma para outra.
[25] A menina queria saber de que cor eram as asas dos anjos, e de que tamanho eles eram. O
homem explicou que os anjos tinham as asas da mesma cor daquele vestidinho da menina; e eram
de seu tamanho. Ela começou a duvidar novamente, mas chamamos o comissário de bordo. Ele
confirmou a existência dos anjos com a autoridade de seu ofício; era impossível duvidar da palavra
do comissário de bordo, que usa uniforme e voa todo dia para um lado e outro, e além disso ele
[30] tinha um argumento impressionante: “Então você não sabia que tem anjos no céu? ” E perguntou se
ela tinha vontade de ser anjo.
– Não.
– Que é que você quer ser?
– Aeromoça!
[35] E começou a nos servir biscoitos; dois passageiros que estavam cochilando acordaram
assustados porque ela apertou o botão que faz descer as costas das poltronas; mas depois riram e
aceitaram os biscoitos.
– A Baía de Guanabara!
Começamos a descer. E quando o avião tocava o solo, naquele instante de leve tensão
[40] nervosa, ela se libertou do cinto e gritou alegremente:
– Agora tudo vai explodir!
E disse que queria sair primeiro porque estava com muita pressa, para ver as horas na torre
do edifício ali perto: pois já sabia ver as horas.
Não deviam ter-lhe ensinado isso. Ela já sabe tanta coisa! As horas se juntam, fazem os dias,
[45] fazem os anos, e tudo vai passando, e os anjos depois não existem mais, nem no céu, nem na terra.
BRAGA, Rubem. Neide. In: ANDRADE, Carlos Drummond et al. Para gostar de ler: crônicas. São Paulo: Ática, 1980. p. 40-42. Adaptado.
A crônica é um gênero textual que apresenta a interseção entre o texto jornalístico e a literatura, criando, portanto, uma narrativa que transforma em ficção elementos do cotidiano. O seu tom de leveza e a sua linguagem simples possibilitam o diálogo com o leitor. A partir dessa premissa, releia os dois últimos parágrafos (linhas 42, 43, 44 e 45) do texto “Neide” e marque a opção CORRETA.
A seguir, leia o poema “Meninos carvoeiros”, de Manuel Bandeira, para responder à questão.
Meninos carvoeiros
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
– Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)
– Eh, carvoero! Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles...
[15] Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
– Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
[20] Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.
BANDEIRA, Manuel. Antologia poética: Manuel Bandeira. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1961. p. 56-57. Adaptado.
É de conhecimento que o poeta Manuel Bandeira traz para o cerne de sua proposta poética muitos problemas sociais enfrentados pela sociedade brasileira. Diante dessa constatação, marque a alternativa CORRETA.
A seguir, leia o poema “Meninos carvoeiros”, de Manuel Bandeira, para responder à questão.
Meninos carvoeiros
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
– Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)
– Eh, carvoero! Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles...
[15] Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
– Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
[20] Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.
BANDEIRA, Manuel. Antologia poética: Manuel Bandeira. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1961. p. 56-57. Adaptado.
Observe os adjetivos em destaque nos versos “Pequenina, ingênua miséria! / Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!” (linhas 15 e 16). A partir do emprego poético desses adjetivos, assinale a alternativa CORRETA.