Texto II
[...]
Almiro foi o primeiro dos Capitães da Areia que caiu com alastrim. Uma noite, quando o negrinho Barandão o procurou no seu canto para fazer o amor (aquele amor que Pedro Bala proibira no trapiche),
Almiro lhe disse:
– Tou com uma coceira danada.
Mostrou os braços já cheios de bolhas a Barandão:
– Parece que também tou queimando de febre.
[...]
Os meninos foram se levantando aos poucos e se afastando receosos do lugar onde estava Almiro. Este começou a soluçar. Pedro Bala não tinha chegado ainda. Professor, o Gato e João Grande também andavam por fora. Daí ter sido o Sem-Pernas quem dominou a situação. O Sem-Pernas nestes últimos tempos andava cada vez mais arredio, quase não falava com ninguém. Fazia espantosas burlas de todo mundo, por tudo puxava uma briga, [...]
Barandão o olhou assustado. Depois, Sem-Pernas falou para todos, apontando Almiro com o dedo:
– Ninguém aqui vai ficar bexiguento só por causa deste fresco.
Todos o olhavam, esperando o que ele diria. Almiro soluçava, as mãos no rosto, encolhido na parede. Sem-pernas falava:
– Ele vai sair daqui agorinha mesmo. Vai se meter em qualquer canto da rua até que os mata-cachorro da saúde pegue ele e leve pro lazareto.
– Não. Não – rugiu Almiro.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Embora a narrativa de Capitães da Areia seja em 3ª pessoa, o narrador utiliza estratégias para revelar pontos de vista individualizados ou dar enfoque explicativo a um dado que julga importante.
Essa característica está exemplificada no trecho: