Há versos célebres que se transmitem através das idades do homem, como roteiros, bandeiras, cartas de marcar, sinais de trânsito, bússolas – ou segredos. Este, que veio ao mundo muito depois de mim, pelas mãos de Carlos Drummond de Andrade, acompanha-me desde que nasci, por um desses misteriosos acasos que fazem do que viveu já, do que vive e do que ainda não vive, um mesmo nó apertado e vertiginoso de tempo sem medida. Considero previlégio meu dispor deste verso, porque me chamo José e muitas vezes na vida me tenho interrogado: “E agora?” Foram aquelas horas em que o mundo escureceu, em que o desânimo se fez muralha, fosso de víboras e giboias, em que as mãos ficaram vazias e atônitas. Foram aquelas horas de uma total miscelânia interior. “E agora, José?” Um oceano ruge agitado em nós; grande, porém, é o poder da poesia para que aconteça, como juro que acontece, que esta pergunta simples aja como um tônico, um golpe de espora, e não seja, como poderia ser, tentação, o começo da interminável ladainha que é a piedade por nós próprios.
Em todo o caso, há situações de tal modo absurdas (ou que o pareceriam vinte e quatro horas antes), que não se pode censurar a ninguém um instante de desconforto total. Não se pode censurar um segundo em que tudo dentro de nós pede socorro, ainda que saibamos que logo a seguir a mola pisada, violentada, se vai distender vibrante e verticalmente afirmar a anticâmara do horror. Nesse átimo de tempo, marchamos desorientados. Nesse momento veloz toca-se o fundo do poço.
Assinale a alternativa que apresenta a palavra, dentre as que foram postas em destaque no texto, que está CORRETAMENTE grafada: