Pedro participou de um seminário sobre Educação Financeira que orientou os participantes a dividir todo o dinheiro que recebem no mês em diferentes partes, cada uma reservada para uma finalidade específica. Depois de descontados todos os impostos, o salário líquido deveria ser dividido em: 10% para liberdade financeira; 10% para poupança; 10% para educação; 55% para necessidades; 10% para diversão; e 5% para doação. Em determinado mês, Pedro aplicou essa orientação, exatamente como ensinada no curso, e doou R$ 150,00.
Tendo em vista que 25% de seu salário bruto foi descontado sob a forma de impostos, seu salário bruto foi de
Leia o texto de Slavoj Žižek para responder à questão.
Como Freud muitas vezes enfatizou, a principal característica dos sonhos em que o sonhador aparece nu diante de uma multidão, a característica que provoca angústia, é o fato estranho de que ninguém parece se importar com sua nudez: as pessoas continuam passando como se tudo estivesse normal... E isso faz lembrar a cena de pesadelo da violência racista diária a que assisti em Berlim em 1992. De início tive a impressão de que, do outro lado da rua, um alemão e um vietnamita estavam simplesmente executando uma dança amistosa e complexa em torno um do outro – só depois de algum tempo percebi que estava vendo um caso real de hostilidade racial: para qualquer lado que se virasse o perplexo e assustado vietnamita, o alemão lhe bloqueava a passagem, demonstrando assim que, ali em Berlim, ele não tinha para onde ir. As causas de minha incompreensão inicial foram duas: primeira, o fato de o alemão executar sua perseguição de uma forma estranha e codificada, respeitando certos limites, sem chegar a atacar fisicamente o vietnamita; na verdade, ele não o tocou nem uma vez, limitando-se a bloquear-lhe a passagem. A segunda causa, evidentemente, foi o fato de as pessoas que passavam (tudo isso aconteceu numa rua movimentada, não num beco escuro!) simplesmente ignorarem – ou melhor, fingirem ignorar – o que estava se passando, evitando olhar ao passar, como se nada de especial estivesse acontecendo. A diferença entre essa hostilidade “suave” e o brutal ataque físico dos skinheads neonazistas foi tudo o que sobrou da diferença entre civilização e barbárie? E essa hostilidade “suave” não foi, de certa forma, até pior? Foi a suavidade que permitiu aos passantes ignorá-la e aceitá-la como um acontecimento normal, o que não teria sido possível no caso de um brutal ataque físico direto.
(Bem-vindo ao deserto do real. 2003.)
Segundo o autor, a cena presenciada por ele em Berlim foi
Leia o texto de Slavoj Žižek para responder à questão.
Como Freud muitas vezes enfatizou, a principal característica dos sonhos em que o sonhador aparece nu diante de uma multidão, a característica que provoca angústia, é o fato estranho de que ninguém parece se importar com sua nudez: as pessoas continuam passando como se tudo estivesse normal... E isso faz lembrar a cena de pesadelo da violência racista diária a que assisti em Berlim em 1992. De início tive a impressão de que, do outro lado da rua, um alemão e um vietnamita estavam simplesmente executando uma dança amistosa e complexa em torno um do outro – só depois de algum tempo percebi que estava vendo um caso real de hostilidade racial: para qualquer lado que se virasse o perplexo e assustado vietnamita, o alemão lhe bloqueava a passagem, demonstrando assim que, ali em Berlim, ele não tinha para onde ir. As causas de minha incompreensão inicial foram duas: primeira, o fato de o alemão executar sua perseguição de uma forma estranha e codificada, respeitando certos limites, sem chegar a atacar fisicamente o vietnamita; na verdade, ele não o tocou nem uma vez, limitando-se a bloquear-lhe a passagem. A segunda causa, evidentemente, foi o fato de as pessoas que passavam (tudo isso aconteceu numa rua movimentada, não num beco escuro!) simplesmente ignorarem – ou melhor, fingirem ignorar – o que estava se passando, evitando olhar ao passar, como se nada de especial estivesse acontecendo. A diferença entre essa hostilidade “suave” e o brutal ataque físico dos skinheads neonazistas foi tudo o que sobrou da diferença entre civilização e barbárie? E essa hostilidade “suave” não foi, de certa forma, até pior? Foi a suavidade que permitiu aos passantes ignorá-la e aceitá-la como um acontecimento normal, o que não teria sido possível no caso de um brutal ataque físico direto.
(Bem-vindo ao deserto do real. 2003.)
Assinale a alternativa que expressa, na voz passiva, o conteúdo da oração “Como Freud muitas vezes enfatizou”.
Leia o texto de Slavoj Žižek para responder à questão.
Como Freud muitas vezes enfatizou, a principal característica dos sonhos em que o sonhador aparece nu diante de uma multidão, a característica que provoca angústia, é o fato estranho de que ninguém parece se importar com sua nudez: as pessoas continuam passando como se tudo estivesse normal... E isso faz lembrar a cena de pesadelo da violência racista diária a que assisti em Berlim em 1992. De início tive a impressão de que, do outro lado da rua, um alemão e um vietnamita estavam simplesmente executando uma dança amistosa e complexa em torno um do outro – só depois de algum tempo percebi que estava vendo um caso real de hostilidade racial: para qualquer lado que se virasse o perplexo e assustado vietnamita, o alemão lhe bloqueava a passagem, demonstrando assim que, ali em Berlim, ele não tinha para onde ir. As causas de minha incompreensão inicial foram duas: primeira, o fato de o alemão executar sua perseguição de uma forma estranha e codificada, respeitando certos limites, sem chegar a atacar fisicamente o vietnamita; na verdade, ele não o tocou nem uma vez, limitando-se a bloquear-lhe a passagem. A segunda causa, evidentemente, foi o fato de as pessoas que passavam (tudo isso aconteceu numa rua movimentada, não num beco escuro!) simplesmente ignorarem – ou melhor, fingirem ignorar – o que estava se passando, evitando olhar ao passar, como se nada de especial estivesse acontecendo. A diferença entre essa hostilidade “suave” e o brutal ataque físico dos skinheads neonazistas foi tudo o que sobrou da diferença entre civilização e barbárie? E essa hostilidade “suave” não foi, de certa forma, até pior? Foi a suavidade que permitiu aos passantes ignorá-la e aceitá-la como um acontecimento normal, o que não teria sido possível no caso de um brutal ataque físico direto.
(Bem-vindo ao deserto do real. 2003.)
Considere os trechos:
“As causas de minha incompreensão inicial foram duas: primeira, o fato de o alemão executar sua perseguição de uma forma estranha e codificada, respeitando certos limites, sem chegar a atacar fisicamente o vietnamita; na verdade, ele não o tocou nem uma vez, limitando-se a bloquear-lhe a passagem.”
“E essa hostilidade ‘suave’ não foi, de certa forma, até pior? Foi a suavidade que permitiu aos passantes ignorá-la e aceitá-la como um acontecimento normal, o que não teria sido possível no caso de um brutal ataque físico direto.”
Os pronomes sublinhados referem-se, respectivamente, a
Leia o trecho da crônica “O punhal de Martinha”, de Machado de Assis, para responder à questão.
Ultrajada por Sexto Tarquínio1, uma noite, Lucrécia2 resolve não sobreviver à desonra, mas primeiro denuncia ao marido e ao pai a aleivosia3 daquele hóspede, e pede-lhes que a vinguem. Eles juram vingá-la, e procuram tirá-la da aflição dizendo-lhe que só a alma é culpada, não o corpo, e que não há crime onde não houve aquiescência4. A honesta moça fecha os ouvidos à consolação e ao raciocínio, e, sacando o punhal que trazia escondido, embebe-o no peito e morre. Esse punhal podia ter ficado no peito da heroína, sem que ninguém mais soubesse dele; mas, arrancado por Bruto, serviu de lábaro à revolução que fez baquear a realeza e passou o governo à aristocracia romana. Tanto bastou para que Tito Lívio lhe desse um lugar de honra na história. O punhal ficou sendo clássico. Pelo duplo caráter de arma doméstica e pública.
Bem sei que Roma não é a Cachoeira5, nem as gazetas6 dessa cidade baiana podem competir com historiadores de gênio. Mas é isso mesmo que deploro. Essa parcialidade dos tempos, que só recolhem, conservam e transmitem as ações encomendadas nos bons livros, é que me entristece, para não dizer que me indigna.
Martinha não é certamente Lucrécia. Parece-me até, se bem entendo uma expressão do jornal A Ordem, que é exatamente o contrário. “Martinha (diz ele) é uma rapariga franzina, moderna ainda, e muito conhecida nesta cidade, de onde é natural”. Se é moça, se é natural da Cachoeira, onde é muito conhecida, que quer dizer moderna? Naturalmente quer dizer que faz parte da última leva de Citera7. Esta condição, em vez de prejudicar o paralelo dos punhais, dá-lhe maior realce, como ides ver. Por outro lado, convém notar que, se há contrastes das pessoas, há uma coincidência de lugar: Martinha mora na rua do Pagão, nome que faz lembrar a religião da esposa de Colatino8. As circunstâncias dos dous atos são diversas. Martinha não deu hospedagem a nenhum moço de sangue régio ou de outra qualidade. Andava a passeio, à noite, um domingo do mês passado. O Sexto Tarquínio da localidade, cristãmente chamado João, com o sobrenome de Limeira, agrediu e insultou a moça, irritado naturalmente com os seus desdéns. Martinha recolheu-se a casa. Nova agressão, à porta. Martinha, indignada, mas ainda prudente, disse ao importuno: “Não se aproxime, que eu lhe furo”. João Limeira aproximou-se, ela deu-lhe uma punhalada, que o matou instantaneamente.
Talvez esperásseis que ela se matasse a si própria. Esperaríeis o impossível, e mostraríeis que me não entendestes. A diferença das duas ações é justamente a que vai do suicídio ao homicídio. A romana confia a vingança ao marido e ao pai. A cachoeirense vinga-se por si própria, e, notai bem, vinga-se de uma simples intenção. As pessoas são desiguais, mas força é dizer que a ação da primeira não é mais corajosa que a da segunda, sendo que esta cede a tal ou qual sutileza de motivos, natural deste século complicado.
Isto posto, em que é que o punhal de Martinha é inferior ao de Lucrécia? Nem é inferior, mas até certo ponto é superior. Martinha não quer sanefas literárias, não ensaia atitudes de tragédia, não faz daqueles gestos oratórias que a história antiga põe nos seus personagens. Não; ela diz simplesmente e incorretamente: “Não se aproxime que eu lhe furo”. A palmatória dos gramáticos pode punir essa expressão; não importa. E depois, que tocante eufemismo! Não sei se Martinha inventou esta aplicação; mas, fosse ela ou outra a autora, é um achado do povo, que não manuseia tratados de retórica, e sabe às vezes mais que os retóricos de ofício.
(Apud Roberto Schwarz. Martinha versus Lucrécia, 2012. Adaptado.)
1 Sexto Tarquínio: filho de Tarquínio, o Soberbo, último rei de Roma. Reinou de 535 a.C. até 509 a.C.
2 Lucrécia: filha do prefeito de Roma, e mulher de Lúcio Tarquínio Colatino.
3 aleivosia: traição cometida por aquele em quem se deposita fé.
4 aquiescência: ato de aquiescer, consentir por condescendência.
5 Cachoeira: município situado no interior do estado da Bahia.
6 gazeta: publicação periódica de notícias políticas, literárias, científicas, artísticas, etc.
7 Citera: ilha grega que, decorrente da sua localização, desde a antiguidade até meados do século XIX foi um importante ponto de parada para muitos navegantes, influenciando muitas partes do mundo no aspecto civilizacional e cultural.
8 Colatino: marido de Lucrécia, primo de Sexto Tarquínio.
Em “Por outro lado, convém notar que, se há contrastes das pessoas, há uma coincidência de lugar” (3o parágrafo), o termo sublinhado é um verbo
Leia o trecho da crônica “O punhal de Martinha”, de Machado de Assis, para responder à questão.
Ultrajada por Sexto Tarquínio1, uma noite, Lucrécia2 resolve não sobreviver à desonra, mas primeiro denuncia ao marido e ao pai a aleivosia3 daquele hóspede, e pede-lhes que a vinguem. Eles juram vingá-la, e procuram tirá-la da aflição dizendo-lhe que só a alma é culpada, não o corpo, e que não há crime onde não houve aquiescência4. A honesta moça fecha os ouvidos à consolação e ao raciocínio, e, sacando o punhal que trazia escondido, embebe-o no peito e morre. Esse punhal podia ter ficado no peito da heroína, sem que ninguém mais soubesse dele; mas, arrancado por Bruto, serviu de lábaro à revolução que fez baquear a realeza e passou o governo à aristocracia romana. Tanto bastou para que Tito Lívio lhe desse um lugar de honra na história. O punhal ficou sendo clássico. Pelo duplo caráter de arma doméstica e pública.
Bem sei que Roma não é a Cachoeira5, nem as gazetas6 dessa cidade baiana podem competir com historiadores de gênio. Mas é isso mesmo que deploro. Essa parcialidade dos tempos, que só recolhem, conservam e transmitem as ações encomendadas nos bons livros, é que me entristece, para não dizer que me indigna.
Martinha não é certamente Lucrécia. Parece-me até, se bem entendo uma expressão do jornal A Ordem, que é exatamente o contrário. “Martinha (diz ele) é uma rapariga franzina, moderna ainda, e muito conhecida nesta cidade, de onde é natural”. Se é moça, se é natural da Cachoeira, onde é muito conhecida, que quer dizer moderna? Naturalmente quer dizer que faz parte da última leva de Citera7. Esta condição, em vez de prejudicar o paralelo dos punhais, dá-lhe maior realce, como ides ver. Por outro lado, convém notar que, se há contrastes das pessoas, há uma coincidência de lugar: Martinha mora na rua do Pagão, nome que faz lembrar a religião da esposa de Colatino8. As circunstâncias dos dous atos são diversas. Martinha não deu hospedagem a nenhum moço de sangue régio ou de outra qualidade. Andava a passeio, à noite, um domingo do mês passado. O Sexto Tarquínio da localidade, cristãmente chamado João, com o sobrenome de Limeira, agrediu e insultou a moça, irritado naturalmente com os seus desdéns. Martinha recolheu-se a casa. Nova agressão, à porta. Martinha, indignada, mas ainda prudente, disse ao importuno: “Não se aproxime, que eu lhe furo”. João Limeira aproximou-se, ela deu-lhe uma punhalada, que o matou instantaneamente.
Talvez esperásseis que ela se matasse a si própria. Esperaríeis o impossível, e mostraríeis que me não entendestes. A diferença das duas ações é justamente a que vai do suicídio ao homicídio. A romana confia a vingança ao marido e ao pai. A cachoeirense vinga-se por si própria, e, notai bem, vinga-se de uma simples intenção. As pessoas são desiguais, mas força é dizer que a ação da primeira não é mais corajosa que a da segunda, sendo que esta cede a tal ou qual sutileza de motivos, natural deste século complicado.
Isto posto, em que é que o punhal de Martinha é inferior ao de Lucrécia? Nem é inferior, mas até certo ponto é superior. Martinha não quer sanefas literárias, não ensaia atitudes de tragédia, não faz daqueles gestos oratórias que a história antiga põe nos seus personagens. Não; ela diz simplesmente e incorretamente: “Não se aproxime que eu lhe furo”. A palmatória dos gramáticos pode punir essa expressão; não importa. E depois, que tocante eufemismo! Não sei se Martinha inventou esta aplicação; mas, fosse ela ou outra a autora, é um achado do povo, que não manuseia tratados de retórica, e sabe às vezes mais que os retóricos de ofício.
(Apud Roberto Schwarz. Martinha versus Lucrécia, 2012. Adaptado.)
1 Sexto Tarquínio: filho de Tarquínio, o Soberbo, último rei de Roma. Reinou de 535 a.C. até 509 a.C.
2 Lucrécia: filha do prefeito de Roma, e mulher de Lúcio Tarquínio Colatino.
3 aleivosia: traição cometida por aquele em quem se deposita fé.
4 aquiescência: ato de aquiescer, consentir por condescendência.
5 Cachoeira: município situado no interior do estado da Bahia.
6 gazeta: publicação periódica de notícias políticas, literárias, científicas, artísticas, etc.
7 Citera: ilha grega que, decorrente da sua localização, desde a antiguidade até meados do século XIX foi um importante ponto de parada para muitos navegantes, influenciando muitas partes do mundo no aspecto civilizacional e cultural.
8 Colatino: marido de Lucrécia, primo de Sexto Tarquínio.
“Não sei se Martinha inventou esta aplicação; mas, fosse ela ou outra a autora, é um achado do povo” (5o parágrafo)
Mantendo a correção gramatical e o seu sentido original, a frase sublinhada pode ser reescrita da seguinte maneira: