Leia o poema “Momento num café”, de Manuel Bandeira, para responder à questão.
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto, distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.
Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife1 longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
(Estrela da vida inteira, 2009.)
1 esquife: caixão de defunto.
“Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida”
O termo em destaque nos versos tem a mesma função sintática do termo destacado na seguinte passagem:
Leia o trecho do romance Senhora, de José de Alencar, para responder à questão.
O aspecto da casa revelava, bem como seu interior, a pobreza da habitação.
A mobília da sala consistia em sofá, seis cadeiras e dois consolos de jacarandá, que já não conservavam o menor vestígio de verniz. O papel da parede de branco passara a amarelo e percebia-se que em alguns pontos já havia sofrido hábeis remendos.
O gabinete oferecia a mesma aparência. O papel que fora primitivamente azul tomara a cor de folha seca.
Outra singularidade apresentava essa parte da habitação: era o frisante contraste que faziam com a pobreza carrança dos dois aposentos certos objetos, aí colocados, e de uso do morador.
Assim, no recosto de uma das velhas cadeiras de jacarandá, via-se neste momento uma casaca preta, que pela fazenda superior, mas sobretudo pelo corte elegante e esmero do trabalho, conhecia-se ter o chique da casa do Raunier, que já era naquele tempo o alfaiate da moda.
Ao lado da casaca estava o resto de um traje de baile, que todo ele saíra daquela mesma tesoura em voga; finíssimo chapéu claque do melhor fabricante de Paris; luvas de Jouvin cor de palha; e um par de botinas como o Campas só fazia para os seus fregueses prediletos.
Passando à alcova, na mesquinha banca de escrever, coberta com um pano desbotado e atravancada de rumas de livros, a maior parte romances, apareciam sem ordem tinteiros de bronze dourado sem serventia; porta-charutos de vários gostos, cinzeiros de feitios esquisitos e outros objetos de fantasia.
(Senhora, 2000. Adaptado.)
“O papel da parede de branco passara a amarelo e percebia-se que em alguns pontos já havia sofrido hábeis remendos.”
O termo em destaque é uma forma verbal composta. A forma simples equivalente é:
Leia o trecho do texto de Ann Heberlein para responder à questão.
Às vezes, se assistirmos aos jornais noturnos, podemos ter a sensação de que nós, suecos, estamos especialmente expostos a ultrajes1. Creio que muitos compreenderam que “ser vítima de ultraje” é uma arma poderosa. Aquele que afirma ter sido vítima tem a seu lado simpatias e direitos, e aquele que é acusado sente-se naturalmente mal e acaba em situação vexatória.
Alguns anos atrás, ministrei um curso na Universidade de Lund. Quando as provas foram corrigidas e os resultados divulgados, recebi a visita de dois estudantes “ultrajados”. O estudante afirmava que fora reprovado porque eu – “feminista radical” – favorecia as estudantes. Portanto, o fato de ter sido reprovado não tinha, segundo ele, nada a ver com seu resultado, mas se devia totalmente ao fato de ele ser do sexo “errado”. A estudante afirmava que merecia uma boa nota. Segundo ela, o motivo para ter obtido apenas uma nota regular e não boa era que eu favorecia “os homens jovens e bonitos do curso”.
Em ambos os casos, tratava-se, naturalmente, do fato de os estudantes em questão não terem correspondido aos critérios para a respectiva nota. Entretanto, pelo fato de afirmarem que haviam sido ultrajados, a responsabilidade pelo fracasso era posta fora deles mesmos. Assim, aos seus próprios olhos, se transformaram de estudantes indolentes em vítimas de discriminação.
Meus alunos não estão sozinhos em sua descoberta do poder de ser ultrajado e do status do papel da vítima – o abuso tanto do conceito de “ultraje” quando do epíteto “vítima” está difundido, assim como a afirmação de ser discriminado.
(Não foi culpa minha!, 2012. Adaptado.)
1 ultraje: ofensa muito grave; afronta.
De acordo com o texto, as ideias de “ultraje” e “responsabilidade” relacionam-se da seguinte maneira:
Leia o trecho do texto de Ann Heberlein para responder à questão.
Às vezes, se assistirmos aos jornais noturnos, podemos ter a sensação de que nós, suecos, estamos especialmente expostos a ultrajes1. Creio que muitos compreenderam que “ser vítima de ultraje” é uma arma poderosa. Aquele que afirma ter sido vítima tem a seu lado simpatias e direitos, e aquele que é acusado sente-se naturalmente mal e acaba em situação vexatória.
Alguns anos atrás, ministrei um curso na Universidade de Lund. Quando as provas foram corrigidas e os resultados divulgados, recebi a visita de dois estudantes “ultrajados”. O estudante afirmava que fora reprovado porque eu – “feminista radical” – favorecia as estudantes. Portanto, o fato de ter sido reprovado não tinha, segundo ele, nada a ver com seu resultado, mas se devia totalmente ao fato de ele ser do sexo “errado”. A estudante afirmava que merecia uma boa nota. Segundo ela, o motivo para ter obtido apenas uma nota regular e não boa era que eu favorecia “os homens jovens e bonitos do curso”.
Em ambos os casos, tratava-se, naturalmente, do fato de os estudantes em questão não terem correspondido aos critérios para a respectiva nota. Entretanto, pelo fato de afirmarem que haviam sido ultrajados, a responsabilidade pelo fracasso era posta fora deles mesmos. Assim, aos seus próprios olhos, se transformaram de estudantes indolentes em vítimas de discriminação.
Meus alunos não estão sozinhos em sua descoberta do poder de ser ultrajado e do status do papel da vítima – o abuso tanto do conceito de “ultraje” quando do epíteto “vítima” está difundido, assim como a afirmação de ser discriminado.
(Não foi culpa minha!, 2012. Adaptado.)
1 ultraje: ofensa muito grave; afronta.
“Entretanto, pelo fato de afirmarem que haviam sido ultrajados, a responsabilidade pelo fracasso era posta fora deles mesmos.”
Na passagem em que está inserido, o trecho destacado tem o sentido de
Leia o trecho do texto de Ciro Marcondes Filho para responder à questão.
Quando Marcel acariciava Albertine, quando ele a tinha sobre seus joelhos e sua cabeça sobre suas mãos, ele sentia que manuseava uma pedra que encerrava a salina de oceanos imemoriais; ele percebia que tocava somente o invólucro fechado de uma pessoa, que, como todos nós, era um ser insondável, do qual muito pouco se poderia conhecer. Como ela, somos todos dotados de uma incomunicabilidade de origem. Jamais o outro nos conhecerá; e nós, o outro. Não conseguimos sair de nós, dizia Lucrécia, tudo o que conhecemos do outro é somente a partir de nós mesmos.
A comunicação, portanto, no sentido de partilhar, de tornar comum, de dividir, é um equívoco. Nada pode ser tornado comum. Nada se passa, nada se repassa. Por isso, comunicação não é transmissão, transferência, deslocamento de nada. Essas definições carregam em si a ideia equivocada de que há um objeto, uma coisa, algo que é movido de um a outro.
O Outro para nós será sempre um mistério, uma caixa-preta, do qual muito pouco podemos conhecer.
(Das coisas que nos fazem pensar, 2014. Adaptado.)
A comparação da cabeça de Albertine com uma uma pedra que encerrava a salina de oceanos imemoriais
Leia o trecho do texto de Ciro Marcondes Filho para responder à questão.
Quando Marcel acariciava Albertine, quando ele a tinha sobre seus joelhos e sua cabeça sobre suas mãos, ele sentia que manuseava uma pedra que encerrava a salina de oceanos imemoriais; ele percebia que tocava somente o invólucro fechado de uma pessoa, que, como todos nós, era um ser insondável, do qual muito pouco se poderia conhecer. Como ela, somos todos dotados de uma incomunicabilidade de origem. Jamais o outro nos conhecerá; e nós, o outro. Não conseguimos sair de nós, dizia Lucrécia, tudo o que conhecemos do outro é somente a partir de nós mesmos.
A comunicação, portanto, no sentido de partilhar, de tornar comum, de dividir, é um equívoco. Nada pode ser tornado comum. Nada se passa, nada se repassa. Por isso, comunicação não é transmissão, transferência, deslocamento de nada. Essas definições carregam em si a ideia equivocada de que há um objeto, uma coisa, algo que é movido de um a outro.
O Outro para nós será sempre um mistério, uma caixa-preta, do qual muito pouco podemos conhecer.
(Das coisas que nos fazem pensar, 2014. Adaptado.)
O autor do texto utiliza linguagem figurada em: