TEXTO
Romana — Vai ficá que nem estaca na porta, entra!
Tião (a Otávio) — Eu queria conversá com o senhor!
Otávio — Comigo?
Tião (firme) — É.
Otávio — Minha gente, vocês querem dá um pulo lá
fora, esse rapaz quer conversá comigo.
Romana — Eu preciso mesmo recolhê a roupa!
João — Já vou indo, então. Até logo, seu Otávio, e parabéns!
Otávio — Obrigado! (Saem. Tião e Otávio ficam a sós.) Bem, pode falá.
Tião — Papai...
Otávio — Me desculpe, mas seu pai ainda não chegou. Ele deixou um recado comigo, mandou dizê pra você que ficou muito admirado, que se enganou. E pediu pra você tomá outro rumo, porque essa não é casa de fura-greve!
Tião — Eu vinha me despedir e dizer só uma coisa: não foi por covardia!
Otávio — Seu pai me falou sobre isso. Ele também procura acreditá que num foi por covardia. Ele acha que você até que teve peito. Furou a greve e disse pra todo mundo, não fez segredo. Não fez como o Jesuíno que furou a greve sabendo que tava errado. Ele acha, o seu pai, que você é ainda mais filho da mãe! Que você é um traidô dos seus companheiro e da sua classe, mas um traidô que pensa que tá certo! Não um traidô por covardia, um traidô por convicção!
Tião — Eu queria que o senhor desse um recado a meu pai
Otávio — Vá dizendo.
Tião — Que o filho dele não é um “filho da mãe”. Que o filho dele gosta de sua gente, mas que o filho dele tinha um problema e quis resolvê esse problema de maneira mais segura. Que o filho é um homem que quer bem!
Otávio — Seu pai vai ficá irritado com esse recado, mas eu digo. Seu pai tem outro recado pra você. Seu pai acha que a culpa de pensá desse jeito não é sua só. Seu pai acha que tem culpa...
Tião — Diga a meu pai que ele não tem culpa nenhuma
Otávio (perdendo o controle) — Se eu te tivesse educado mais firme, se te tivesse mostrado melhor o que é a vida, tu não pensaria em não ter confiança na tua gente...
Tião — Meu pai não tem culpa. Ele fez o que devia. O problema é que eu não podia arriscá nada. Preferi tê o desprezo de meu pessoal pra poder querer bem, como eu quero querer, a tá arriscando a vê minha mulhé sofrê como minha mãe sofre, como todo mundo nesse morro sofre! Tião — Meu pai não tem culpa. Ele fez o que devia. O problema é que eu não podia arriscá nada. Preferi tê o desprezo de meu pessoal pra poder querer bem, como eu quero querer, a tá arriscando a vê minha mulhé sofrê como minha mãe sofre, como todo mundo nesse morro sofre!
Otávio — Seu pai acha que ele tem culpa!
Tião — Tem culpa de nada, pai!
Otávio (num rompante) — E deixa ele acreditá nisso, se não, ele vai sofrê muito mais. Vai achar que o filho dele caiu na merda sozinho. Vai achar que o filho dele é safado de nascença. (Acalma-se repentinamente.) Seu pai manda mais um recado. Diz que você não precisa aparecê mais. E deseja boa sorte pra você
Tião — Diga a ele que vai ser assim. Não foi por covardia e não me arrependo de nada. Até um dia. (Encaminha-se para a porta.)
Otávio (dirigindo-se ao quarto dos fundos) — Tua mãe, talvez, vai querê falá contigo... Até um dia! (Tião pega uma sacola que deve estar debaixo de um móvel e coloca seus objetos. Camisas que estão entre as trouxas de roupa, escova de dentes, etc.)
(GUARNIERI, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995. p. 108-109.)
Read Otávio’s statement below, extracted from Text:
“Se eu te tivesse educado mais firme, se te tivesse mostrado melhor o que é a vida, tu não pensaria em não ter confiança na tua gente”.
Translating this statement into English, we would have an example of the third conditional.
Choose, then, the alternative which presents the right tense to the underlined verbs in English: