Textos para as questões.
A autora: Cecília Meireles é colocada na segunda geração do Modernismo brasileiro, ou Geração de 30, da qual também fazem parte, entre outros, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Murilo Mendes e Jorge de Lima. Pela extrema musicalidade, somada à profunda sensibilidade, desde cedo, passou a ser considerada herdeira do Simbolismo. Segundo Antonio Candido e Aderaldo Castelo (“A Presença da literatura brasileira”) sua obra apresenta três constantes fundamentais: o oceano, o espaço e a solidão. Avessa aos radicalismos modernistas, prefere a tradição (herança do lirismo ibérico), revelando sempre uma visão filosófica e universalizante, temperada por doses de pessimismo e desencanto.
Texto I
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
(Cecília Meireles – Obra Poética.Rio de Janeiro, Aguillar, 1967. p.103)
Texto II
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
(Ibid., página 106)
Texto III
4º Motivo da Rosa
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verás, só de cinza franzida,
mortas intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos,
ao longe, o vento vai falando em mim.
E por perder-me é que me vão lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
(Ibid., página 308)
Considere as seguintes afirmações sobre certos aspectos presentes nos textos.
I- Em “Eu canto porque o instante existe” (texto I)/ “E a canção é tudo” (texto I)/ “Em que espelho ficou perdida a minha face?” (texto II)/ “Não te aflijas com a pétala que voa” (texto III)/ “Ao longe, o vento vai falando em mim” (texto III), todos os termos destacados exercem a mesma função sintática.
II- Em “se desmorono ou se edifico”/ “Se permaneço ou me desfaço, / - não sei, não sei. Não sei se fico ou passo” (texto I) todos os verbos assinalados são, nestes versos, intransitivos.
III- Em “Atravesso noites e dias/ no vento” (texto I)/ “Eu não tinha este rosto de hoje (texto III)/ “Ao longe, o vento vai falando em mim” (texto III), os temas destacados são modificadores de formas verbais, às quais acrescentam determinadas circunstâncias acessórias de tempo e de lugar.
IV- Em “Eu canto porque o instante existe”, a palavra destacada poderá ser substituída, sem exceção, sem prejuízo de sentido, por qualquer das seguintes: que, porquanto, pois, visto que, já que, uma vez que.
V- Em “Tão simples tão certa, tão fácil” (texto II), o acento gráfico da palavra destacada ocorrerá, pela mesma razão, em todos os seguintes vocábulos: textil, pensil,gracil,flebil, novel,retratil, ignobil,indelevel, decibel.