Texto A
Mulher proletária
Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
[5] forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
[10] a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
LIMA, Jorge de. Mulher proletária Disponível em: https://www.escritas.org/pt/t/6593/mulher-proletaria. Acesso em: 8 jan.2020.
Texto B
(...) A partir daquele momento, não houve quem não fosse fecundado pela esperança, dom que Bamidele trazia no sentido de seu nome. Toda a comunidade, mulheres, homens, os poucos velhos que ainda persistiam vivos, alguns mais jovens que escolheram não morrer, os pequenininhos que ainda não tinham sido contaminados totalmente pela tristeza, todos se engravidaram da criança nossa, do ser que ia chegar. E antes, muito antes de sabermos, a vida dele já estava escrita na linha circular de nosso tempo. Lá estava mais uma nossa descendência sendo lançada à vida pelas mãos de nossos ancestrais. Ficamos plenos de esperança, mas não cegos diante de todas as nossas dificuldades. Sabíamos que tínhamos várias questões a enfrentar. A maior era a nossa dificuldade interior de acreditar novamente no valor da vida...Mas sempre inventamos a nossa sobrevivência. Entre nós, ainda estava a experiente Omolara, a que havia nascido no tempo certo. Parteira que repetia com sucesso a história de seu próprio nascimento, Omolara havia se recusado a se deixar morrer. E no momento exato em que a vida milagrou no ventre de Bamidele, Omolara, aquela que tinha o dom de fazer vir as pessoas ao mundo, a conhecedora de todo ritual do nascimento, acolheu a criança de Bamidele. Uma menina que buscava caminho em meio à correnteza das águas íntimas de sua mãe. E todas nós sentimos, no instante em que Ayoluwa nascia, todas nós sentimos algo se contorcer em nossos ventres, os homens também. Ninguém se assustou. Sabíamos que estávamos parindo em nós mesmos uma nova vida. E foi bonito o primeiro choro daquela que veio para trazer a alegria para o nosso povo. O seu inicial grito, comprovando que nascia viva, acordou todos nós. E a partir daí tudo mudou. Tomamos novamente a vida com as nossas mãos. Ayoluwa, alegria de nosso povo, continua entre nós, ela veio não com a promessa da salvação, mas também não veio para morrer na cruz. Não digo que esse mundo desconsertado já se consertou. Mas Ayoluwa, alegria de nosso povo, e sua mãe, Bamidele, a esperança, continuam fermentando o pão nosso de cada dia. E quando a dor vem encostar-se a nós, enquanto um olho chora, o outro espia o tempo procurando a solução.
EVARISTO, Conceição. Ayoluwa,a alegria do nosso povo. Olhos D’Água. PDF. Disponível em: http://lelivros.org/?utm_ source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=link. Acesso em: 6 jan. 2020. Adaptado.
Do ponto de vista do eu lírico, está em desacordo o que se firma em
TEXTO
Um dos refrãos mais ouvidos nos dias de hoje é:
“tem que haver respeito às diferenças”! Em diferentes
situações de agressão, clamamos pelo respeito à
pessoa, às leis, aos direitos, aos deveres, à justiça. O
[5] que significa de fato esse respeito? O que buscamos
quando gritamos por respeito?
A palavra ou o conceito respeito é atribuído, no
caso da presente reflexão, às diferenças. Por isso quero
lembrar algo sobre o sentido da palavra respeito. Sua
[10] origem está no latim respectus e indica um sentimento
de apreço, consideração, deferência, algo que merece
um segundo olhar, uma segunda chance, uma segunda
atenção.
Não tem a ver com concordância com a posição
[15] alheia, mas permissão para que ela se manifeste
livremente quando não cause dano a outrem. Respeito
exige reciprocidade e aí entramos num terreno muito
complexo que, de certa forma, está ausente nas
instituições sociais mantidas pelo capitalismo vigente, o
[20] maior educador de nosso povo. E isso porque, quando
pensamos em respeito e reciprocidade, já temos um
quadro mental interpretativo em que submetemos uns
aos outros.
Respeitar o diferente não é convencê-lo a aderir
[25] ao modelo de comportamento que eu apresento como
correto ou que a mídia determinou como correto. Tal
forma de respeito, na realidade, é um sutil autoritarismo,
um convencimento de que o diferente tem que ser igual
a mim mesmo, se eu o afirmo como diferente. Sou eu
[30] que afirmo o outro/a como diferente.
Por isso, colocar a palavra respeito como anterior
às diferenças significa, de certa forma, limitá-las a uma
espécie de ordem interpretativa, visto que sozinha
a palavra não se dá a si mesma um significado. E a
[35] pergunta que surge imediatamente é: quem estabelece
o significado e a ordem do respeito, quem a determina,
quem a promove? Estamos dessa forma diante das
múltiplas interpretações e dos limites que a palavra
respeito contém.
[40] Respeito às diferenças sexuais! Respeito às
diferentes etnias! Respeito às diferentes idades!
Respeito às leis! Respeito à floresta, à terra, aos rios,
aos mares… Tudo tem que ter respeito, mas como se
pode viver e entender algo mais desse respeito? O
[45] que fazer para que ele seja efetivo em favorecer o bem
comum?
Diante dessa difícil tarefa, tenho dificuldades com
as afirmações sobre respeito ilimitado ou absoluto.
Creio que esse absoluto não existe, isso porque não
[50] o experimentamos. Minha existência no mundo é por
si só limitada a esse momento no qual vivo, ao espaço
que ocupo, à minha educação, à minha família, a tudo o
que recebi. Sou o que sinto, sou as minhas simpatias e
antipatias, sou os interesses que defendo e os valores
[55] que prezo. Tudo isso sou eu, meu corpo, corpo aberto
a tantas coisas e, ao mesmo tempo, limitado a tantas
outras.
Por isso não posso respeitar todas as diferenças
e todas as opiniões. Não posso respeitar tudo no
[60] sentido de ter que acolher algumas formas de existir
que me agridem, ameaçam, matam, destroem minhas
convicções, minha maneira de estar no mundo. Tudo
isso para afirmar que o respeito às diferenças não pode
ser absoluto, não é experimentado como absoluto, mas
[65] é limitado aos nossos próprios limites.
Meu corpo é minha abertura e meu limite em todas
as relações. Nossos corpos são aberturas e limites
situados e datados. Por isso o discurso sobre o respeito
às diferenças é, às vezes, muito banal, e inconsistente.
[70] Para esse discurso ter consistência numa sociedade
plural como a nossa precisa ser apoiado e secundado
por direitos sociais efetivos, por leis que garantam a
convivência e promovam de fato relações de justiça. A
afirmação de direitos cidadãos é exigida na convivência
[75] social e dá respaldo à falta de respeito explicitada de
múltiplas formas.
Sair da mentira de certos idealismos políticos, de
certas crenças religiosas que apenas acolhem pelas
palavras, se faz necessário. Como enfrentar-nos a
[80] nossa própria hipocrisia? Como enfrentar-nos aos
nossos próprios absolutos mentirosos?
Um caminho é o do conhecimento de nós mesmos,
do hábito de pensar sobre nossa vida, de aprender
com nossa própria história desde a nossa infância.
[85] Tal aprendizado nos leva a acolher a unilateralidade
e, portanto, o limite de minha percepção, de minha
perspectiva, de meu saber, de minha opinião, de meu
sentimento, de minha diferença.
Tudo parece um círculo vicioso e sem saída. Mas
[90] não é. Não é sem saída dentro dos limites provisórios de
nossa história porque podemos tentar mudar de lugar,
perceber de outro ponto o mundo que nos constitui e
envolve.
Podemos apreender os limites de nossa
[95] humanidade comum e conviver juntos. Podemos captar
e reconhecer nossas emoções e desejos de poder.
Podemos nos ajudar a entender a nossa convivência
sempre de novo.
E é essa a tarefa ética da Política e da Educação em suas diferentes expressões. Alargar visões, abrir às necessidades
[100] vitais de todos para todos, mostrar a interdependência entre as pessoas, a riqueza e a necessidade da diversidade,
a multiplicidade de aspectos da vida que permitem às ciências de tocar na franja do tecido humano. Nossas próprias
emoções podem ser educadas mesmo se sofremos com esses processos de limite da ‘infinitude’ de nossos desejos de
dominação. De fato algo pode mudar em nossos comportamentos.
DIÁLOGOS DA FÉ. O que é mesmo respeito às diferenças? Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/o-que-emesmo-o-respeito-as-diferencas/. Acesso em: 8 jan.2020. Adaptado.
Estabelecendo-se uma relação lógica, dentro da temática do texto, as palavras “respeito” e “reciprocidade” (l. 21) estão diretamente relacionadas com
TEXTO
Um dos refrãos mais ouvidos nos dias de hoje é:
“tem que haver respeito às diferenças”! Em diferentes
situações de agressão, clamamos pelo respeito à
pessoa, às leis, aos direitos, aos deveres, à justiça. O
[5] que significa de fato esse respeito? O que buscamos
quando gritamos por respeito?
A palavra ou o conceito respeito é atribuído, no
caso da presente reflexão, às diferenças. Por isso quero
lembrar algo sobre o sentido da palavra respeito. Sua
[10] origem está no latim respectus e indica um sentimento
de apreço, consideração, deferência, algo que merece
um segundo olhar, uma segunda chance, uma segunda
atenção.
Não tem a ver com concordância com a posição
[15] alheia, mas permissão para que ela se manifeste
livremente quando não cause dano a outrem. Respeito
exige reciprocidade e aí entramos num terreno muito
complexo que, de certa forma, está ausente nas
instituições sociais mantidas pelo capitalismo vigente, o
[20] maior educador de nosso povo. E isso porque, quando
pensamos em respeito e reciprocidade, já temos um
quadro mental interpretativo em que submetemos uns
aos outros.
Respeitar o diferente não é convencê-lo a aderir
[25] ao modelo de comportamento que eu apresento como
correto ou que a mídia determinou como correto. Tal
forma de respeito, na realidade, é um sutil autoritarismo,
um convencimento de que o diferente tem que ser igual
a mim mesmo, se eu o afirmo como diferente. Sou eu
[30] que afirmo o outro/a como diferente.
Por isso, colocar a palavra respeito como anterior
às diferenças significa, de certa forma, limitá-las a uma
espécie de ordem interpretativa, visto que sozinha
a palavra não se dá a si mesma um significado. E a
[35] pergunta que surge imediatamente é: quem estabelece
o significado e a ordem do respeito, quem a determina,
quem a promove? Estamos dessa forma diante das
múltiplas interpretações e dos limites que a palavra
respeito contém.
[40] Respeito às diferenças sexuais! Respeito às
diferentes etnias! Respeito às diferentes idades!
Respeito às leis! Respeito à floresta, à terra, aos rios,
aos mares… Tudo tem que ter respeito, mas como se
pode viver e entender algo mais desse respeito? O
[45] que fazer para que ele seja efetivo em favorecer o bem
comum?
Diante dessa difícil tarefa, tenho dificuldades com
as afirmações sobre respeito ilimitado ou absoluto.
Creio que esse absoluto não existe, isso porque não
[50] o experimentamos. Minha existência no mundo é por
si só limitada a esse momento no qual vivo, ao espaço
que ocupo, à minha educação, à minha família, a tudo o
que recebi. Sou o que sinto, sou as minhas simpatias e
antipatias, sou os interesses que defendo e os valores
[55] que prezo. Tudo isso sou eu, meu corpo, corpo aberto
a tantas coisas e, ao mesmo tempo, limitado a tantas
outras.
Por isso não posso respeitar todas as diferenças
e todas as opiniões. Não posso respeitar tudo no
[60] sentido de ter que acolher algumas formas de existir
que me agridem, ameaçam, matam, destroem minhas
convicções, minha maneira de estar no mundo. Tudo
isso para afirmar que o respeito às diferenças não pode
ser absoluto, não é experimentado como absoluto, mas
[65] é limitado aos nossos próprios limites.
Meu corpo é minha abertura e meu limite em todas
as relações. Nossos corpos são aberturas e limites
situados e datados. Por isso o discurso sobre o respeito
às diferenças é, às vezes, muito banal, e inconsistente.
[70] Para esse discurso ter consistência numa sociedade
plural como a nossa precisa ser apoiado e secundado
por direitos sociais efetivos, por leis que garantam a
convivência e promovam de fato relações de justiça. A
afirmação de direitos cidadãos é exigida na convivência
[75] social e dá respaldo à falta de respeito explicitada de
múltiplas formas.
Sair da mentira de certos idealismos políticos, de
certas crenças religiosas que apenas acolhem pelas
palavras, se faz necessário. Como enfrentar-nos a
[80] nossa própria hipocrisia? Como enfrentar-nos aos
nossos próprios absolutos mentirosos?
Um caminho é o do conhecimento de nós mesmos,
do hábito de pensar sobre nossa vida, de aprender
com nossa própria história desde a nossa infância.
[85] Tal aprendizado nos leva a acolher a unilateralidade
e, portanto, o limite de minha percepção, de minha
perspectiva, de meu saber, de minha opinião, de meu
sentimento, de minha diferença.
Tudo parece um círculo vicioso e sem saída. Mas
[90] não é. Não é sem saída dentro dos limites provisórios de
nossa história porque podemos tentar mudar de lugar,
perceber de outro ponto o mundo que nos constitui e
envolve.
Podemos apreender os limites de nossa
[95] humanidade comum e conviver juntos. Podemos captar
e reconhecer nossas emoções e desejos de poder.
Podemos nos ajudar a entender a nossa convivência
sempre de novo.
E é essa a tarefa ética da Política e da Educação em suas diferentes expressões. Alargar visões, abrir às necessidades
[100] vitais de todos para todos, mostrar a interdependência entre as pessoas, a riqueza e a necessidade da diversidade,
a multiplicidade de aspectos da vida que permitem às ciências de tocar na franja do tecido humano. Nossas próprias
emoções podem ser educadas mesmo se sofremos com esses processos de limite da ‘infinitude’ de nossos desejos de
dominação. De fato algo pode mudar em nossos comportamentos.
DIÁLOGOS DA FÉ. O que é mesmo respeito às diferenças? Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/o-que-emesmo-o-respeito-as-diferencas/. Acesso em: 8 jan.2020. Adaptado.
São passagens do texto que podem ser associadas ao conteúdo do diálogo destacado:
TEXTO
Um dos refrãos mais ouvidos nos dias de hoje é:
“tem que haver respeito às diferenças”! Em diferentes
situações de agressão, clamamos pelo respeito à
pessoa, às leis, aos direitos, aos deveres, à justiça. O
[5] que significa de fato esse respeito? O que buscamos
quando gritamos por respeito?
A palavra ou o conceito respeito é atribuído, no
caso da presente reflexão, às diferenças. Por isso quero
lembrar algo sobre o sentido da palavra respeito. Sua
[10] origem está no latim respectus e indica um sentimento
de apreço, consideração, deferência, algo que merece
um segundo olhar, uma segunda chance, uma segunda
atenção.
Não tem a ver com concordância com a posição
[15] alheia, mas permissão para que ela se manifeste
livremente quando não cause dano a outrem. Respeito
exige reciprocidade e aí entramos num terreno muito
complexo que, de certa forma, está ausente nas
instituições sociais mantidas pelo capitalismo vigente, o
[20] maior educador de nosso povo. E isso porque, quando
pensamos em respeito e reciprocidade, já temos um
quadro mental interpretativo em que submetemos uns
aos outros.
Respeitar o diferente não é convencê-lo a aderir
[25] ao modelo de comportamento que eu apresento como
correto ou que a mídia determinou como correto. Tal
forma de respeito, na realidade, é um sutil autoritarismo,
um convencimento de que o diferente tem que ser igual
a mim mesmo, se eu o afirmo como diferente. Sou eu
[30] que afirmo o outro/a como diferente.
Por isso, colocar a palavra respeito como anterior
às diferenças significa, de certa forma, limitá-las a uma
espécie de ordem interpretativa, visto que sozinha
a palavra não se dá a si mesma um significado. E a
[35] pergunta que surge imediatamente é: quem estabelece
o significado e a ordem do respeito, quem a determina,
quem a promove? Estamos dessa forma diante das
múltiplas interpretações e dos limites que a palavra
respeito contém.
[40] Respeito às diferenças sexuais! Respeito às
diferentes etnias! Respeito às diferentes idades!
Respeito às leis! Respeito à floresta, à terra, aos rios,
aos mares… Tudo tem que ter respeito, mas como se
pode viver e entender algo mais desse respeito? O
[45] que fazer para que ele seja efetivo em favorecer o bem
comum?
Diante dessa difícil tarefa, tenho dificuldades com
as afirmações sobre respeito ilimitado ou absoluto.
Creio que esse absoluto não existe, isso porque não
[50] o experimentamos. Minha existência no mundo é por
si só limitada a esse momento no qual vivo, ao espaço
que ocupo, à minha educação, à minha família, a tudo o
que recebi. Sou o que sinto, sou as minhas simpatias e
antipatias, sou os interesses que defendo e os valores
[55] que prezo. Tudo isso sou eu, meu corpo, corpo aberto
a tantas coisas e, ao mesmo tempo, limitado a tantas
outras.
Por isso não posso respeitar todas as diferenças
e todas as opiniões. Não posso respeitar tudo no
[60] sentido de ter que acolher algumas formas de existir
que me agridem, ameaçam, matam, destroem minhas
convicções, minha maneira de estar no mundo. Tudo
isso para afirmar que o respeito às diferenças não pode
ser absoluto, não é experimentado como absoluto, mas
[65] é limitado aos nossos próprios limites.
Meu corpo é minha abertura e meu limite em todas
as relações. Nossos corpos são aberturas e limites
situados e datados. Por isso o discurso sobre o respeito
às diferenças é, às vezes, muito banal, e inconsistente.
[70] Para esse discurso ter consistência numa sociedade
plural como a nossa precisa ser apoiado e secundado
por direitos sociais efetivos, por leis que garantam a
convivência e promovam de fato relações de justiça. A
afirmação de direitos cidadãos é exigida na convivência
[75] social e dá respaldo à falta de respeito explicitada de
múltiplas formas.
Sair da mentira de certos idealismos políticos, de
certas crenças religiosas que apenas acolhem pelas
palavras, se faz necessário. Como enfrentar-nos a
[80] nossa própria hipocrisia? Como enfrentar-nos aos
nossos próprios absolutos mentirosos?
Um caminho é o do conhecimento de nós mesmos,
do hábito de pensar sobre nossa vida, de aprender
com nossa própria história desde a nossa infância.
[85] Tal aprendizado nos leva a acolher a unilateralidade
e, portanto, o limite de minha percepção, de minha
perspectiva, de meu saber, de minha opinião, de meu
sentimento, de minha diferença.
Tudo parece um círculo vicioso e sem saída. Mas
[90] não é. Não é sem saída dentro dos limites provisórios de
nossa história porque podemos tentar mudar de lugar,
perceber de outro ponto o mundo que nos constitui e
envolve.
Podemos apreender os limites de nossa
[95] humanidade comum e conviver juntos. Podemos captar
e reconhecer nossas emoções e desejos de poder.
Podemos nos ajudar a entender a nossa convivência
sempre de novo.
E é essa a tarefa ética da Política e da Educação em suas diferentes expressões. Alargar visões, abrir às necessidades
[100] vitais de todos para todos, mostrar a interdependência entre as pessoas, a riqueza e a necessidade da diversidade,
a multiplicidade de aspectos da vida que permitem às ciências de tocar na franja do tecido humano. Nossas próprias
emoções podem ser educadas mesmo se sofremos com esses processos de limite da ‘infinitude’ de nossos desejos de
dominação. De fato algo pode mudar em nossos comportamentos.
DIÁLOGOS DA FÉ. O que é mesmo respeito às diferenças? Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/o-que-emesmo-o-respeito-as-diferencas/. Acesso em: 8 jan.2020. Adaptado.
“Por isso, colocar a palavra respeito como anterior às diferenças significa, de certa forma, limitá-las a uma espécie de ordem interpretativa, visto que sozinha a palavra não se dá a si mesma um significado.” (l. 31-34).
Sobre o período destacado, é correto afirmar que
I. na oração que inicia o período, o sujeito é inexistente
II. “de certa forma” expressa ideia de restrição.
III. “las” constitui um termo anafórico de “diferenças” e morfossintaticamente funciona como objeto direto.
IV. “se” e “si” exercem funções morfossintáticas idênticas.
V. “visto que” expressa ideia de causa.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a
Texto A
Mulher proletária
Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
[5] forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
[10] a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
LIMA, Jorge de. Mulher proletária Disponível em: https://www.escritas.org/pt/t/6593/mulher-proletaria. Acesso em: 8 jan.2020.
Texto B
(...) A partir daquele momento, não houve quem não fosse fecundado pela esperança, dom que Bamidele trazia no sentido de seu nome. Toda a comunidade, mulheres, homens, os poucos velhos que ainda persistiam vivos, alguns mais jovens que escolheram não morrer, os pequenininhos que ainda não tinham sido contaminados totalmente pela tristeza, todos se engravidaram da criança nossa, do ser que ia chegar. E antes, muito antes de sabermos, a vida dele já estava escrita na linha circular de nosso tempo. Lá estava mais uma nossa descendência sendo lançada à vida pelas mãos de nossos ancestrais. Ficamos plenos de esperança, mas não cegos diante de todas as nossas dificuldades. Sabíamos que tínhamos várias questões a enfrentar. A maior era a nossa dificuldade interior de acreditar novamente no valor da vida...Mas sempre inventamos a nossa sobrevivência. Entre nós, ainda estava a experiente Omolara, a que havia nascido no tempo certo. Parteira que repetia com sucesso a história de seu próprio nascimento, Omolara havia se recusado a se deixar morrer. E no momento exato em que a vida milagrou no ventre de Bamidele, Omolara, aquela que tinha o dom de fazer vir as pessoas ao mundo, a conhecedora de todo ritual do nascimento, acolheu a criança de Bamidele. Uma menina que buscava caminho em meio à correnteza das águas íntimas de sua mãe. E todas nós sentimos, no instante em que Ayoluwa nascia, todas nós sentimos algo se contorcer em nossos ventres, os homens também. Ninguém se assustou. Sabíamos que estávamos parindo em nós mesmos uma nova vida. E foi bonito o primeiro choro daquela que veio para trazer a alegria para o nosso povo. O seu inicial grito, comprovando que nascia viva, acordou todos nós. E a partir daí tudo mudou. Tomamos novamente a vida com as nossas mãos. Ayoluwa, alegria de nosso povo, continua entre nós, ela veio não com a promessa da salvação, mas também não veio para morrer na cruz. Não digo que esse mundo desconsertado já se consertou. Mas Ayoluwa, alegria de nosso povo, e sua mãe, Bamidele, a esperança, continuam fermentando o pão nosso de cada dia. E quando a dor vem encostar-se a nós, enquanto um olho chora, o outro espia o tempo procurando a solução.
EVARISTO, Conceição. Ayoluwa,a alegria do nosso povo. Olhos D’Água. PDF. Disponível em: http://lelivros.org/?utm_ source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=link. Acesso em: 6 jan. 2020. Adaptado.
A análise sintático-semântica dos elementos linguísticos que compõem o poema permite afirmar:
Em relação aos audiosvisuais indicados, marque com V ou com F, conforme sejam as análises pertinentes ou não às suas respectivas obras.
( ) Em O Grande Ditador, filme de 1940, de Charles Chaplin, tem seu ponto alto no discurso final em que um sósia de Adenoide Hynkel, líder político, desconstrói toda política separatista cultivada durante o final da Primeira Guerra Mundial e início da Segunda, por meio de palavras que evocam a fraternidade, a união e o respeito entre os povos, sentimentos atemporais tão necessários na atualidade, conforme se comprova na canção Diáspora, dos Tribalistas: “ Onde está/ Meu irmão/Sem irmã/ O meu filho sem pai/ Minha mãe/ Sem avó/ Dando a mão pra ninguém/ Sem lugar/ Pra ficar/Os meninos sem paz”.
( ) O filme O Grande Ditador, escrito em 1938, constitui uma narrativa visionária de Charles Chaplin sobre o poderio nazista e fascista e seus pregadores, cuja imagem mais contundente é representada na figura de Adenoide brincando com uma bola como se essa fora o globo terrestre, cujo desejo se concretiza pela vitória dos nazistas.
( ) O documentário de Luiz Bolognese, Ex-Pajé, traz à tona uma questão já vivenciada em nosso passado histórico, sob uma nova perspectiva, ao retratar a subjugação de um povo e o sentimento de rejeição de um pajé em sua comunidade, em que tinha respeito, admiração e conhecimento de uma cultura ancestral. Manipulados por líderes religiosos, a aldeia vai perdendo sua identidade étnica, mantida até então pela narrativa oral, e se vê dividida entre a preservação e a rejeição dessa etnia, configuradas na pessoa de Perpera, e seus conflitos íntimos ideológicos.
( ) Em Ex-Pajé, fica evidente a necessidade de toda comunidade tentar preservar seus costumes, sua língua, sua medicina curandeira e sua culinária, tal qual ocorreu em 1500, quando se deu a colonização portuguesa, divergindo somente no aspecto etnocídio, já que não há comprovação de aculturamento de qualquer ordem.
( ) Abrigo Nuclear, filme produzido na Bahia, em 1981, por Roberto Pires, tem como proposta narrar uma imaginável realidade científica, já que se vivia o pleno período da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, e a paz mundial estava constantemente ameaçada. Protegidos em um mundo subterrâneo por causa da contaminação da terra, seus habitantes também vivem um regime autoritário e fascista, representado pelo domínio do comandante Avo e seus seguidores. Alguns dissidentes, sob a tutela da geóloga Lix, elaboram o Projeto Alfa, cujo objetivo é o retorno do ser humano à superfície.
A alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo, é a