Para responder à questão, leia a fábula “A última vontade”, de Millôr Fernandes.
Aben Assan, filho espúrio¹ e estrafalário², sempre contrariava as decisões de Ibin Bibar, seu pai. Desde menino — já lá vão quatro décadas —, fazia exatamente o oposto do que o velho mandava ou sugeria. A princípio, o pai não percebeu, depois percebeu, enfim certificou-se — o comportamento do filho era coisa cruel e deliberada. Por isso, quando sentiu que ia morrer, querendo ser enterrado no maravilhoso mausoléu da família, Ibin Bibar chamou Aben Assan e disse:
— Meu filho, não quero ir pro cemitério da cidade, onde estão enterrados todos os nossos ancestrais. Quero estar num lugar onde não sejam possíveis reverências nem adulações póstumas, todas hipócritas. Pegue meu corpo e jogue no lamaçal lá no fim da estrada. — E, dizendo isso, condizentemente, morreu.
Ao ver o pai morto, Aben Assan teve uma súbita crise de arrependimento por tudo que havia feito na vida. E resolveu mudar seu comportamento para com aquele que sempre o tratara como... um pai. Pensou: “Não, ele nunca mereceu a maneira como eu o tratei. Desta vez, a última, vou fazer exatamente o que ele pediu.”
E ajudado por empregados um tanto relutantes, pegou o corpo do pai e o atirou no lamaçal no fim da estrada.
MORAL: Cria corvos e te arrancam os olhos.
1 espúrio: ilegítimo, bastardo.
2 estrafalário: desprezível.
(100 fábulas fabulosas, 2012.)
Na fábula, o plano concebido pelo pai fracassa devido