A tecnologia para que possamos interferir de modo direto e decisivo sobre o que antigamente se chamava “grande cadeia do ser” já está disponível. Com uma técnica que permite editar o DNA, já é possível modificar um mosquito fazendo, por exemplo, com que ele produza somente gametas do sexo masculino e transmita tal característica aos descendentes. Assim, se indivíduos alterados forem liberados numa população, é questão de tempo até que ela encontre a extinção por ausência de fêmeas. Se esse mosquito for o Anopheles gambiae, principal responsável pela transmissão da malária na África, estaremos poupando centenas de milhares de bebês a cada ano.
Entretanto, é arriscado interferir em ecossistemas. Qual o impacto da extinção desse mosquito na cadeia alimentar? O nicho ecológico por ele ocupado não seria tomado por outra espécie? Que garantia temos de que o parasita da malária não se adaptaria ao próximo mosquito?
Não devemos renunciar a moldar o mundo para nossa conveniência – o que já fazemos há milhares de anos –, mas é importante providenciar antes protocolos de segurança que reduzam a chance de nos tornarmos vítimas do muito que não sabemos.
(Folha de S.Paulo, 19.10.2016. Adaptado.)
O trecho “O nicho ecológico por ele ocupado não seria tomado por outra espécie?” está construído na voz passiva. Na transposição para a voz ativa, este trecho assume a seguinte forma: