[1] A feição deles é serem pardos, maneira de
avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos.
Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir
[4] ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência
como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo
furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de
[7] comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de
algodão, agudos na ponta como um furador. Metem-nos pela
parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço
[10] e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal
sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou
no beber.
[13] Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados,
de tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa grandura e
rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo
[16] da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma espécie de
cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento
de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço
[19] e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena e pena, com
uma confeição branda como cera (mas não o era), de maneira
que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual, e
[22] não fazia míngua mais lavagem para a levantar.
Silvio Castro. A carta de Pero Vaz de Caminha: o descobrimento do Brasil. Porto Alegre: L&PM Pocket, 1985 (com adaptações)
Tendo o trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha como referência inicial, julgue o item.
Tendo advindo do processo de colonização, a literatura brasileira se constituiu contraditoriamente como fruto da imposição dos valores da metrópole e como expressão do local.