TEXTO:
Mitos do 11/9
Dez anos depois dos brutais atentados terroristas
de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos,
a noção de que o episódio mudou o curso da história
parece exagerada.
[5] Pelo uso de aviões sequestrados como arma, pelo
simbolismo dos alvos atingidos e pelo número de
assassinados — quase 3000 —, aquele dia se destaca
na crônica de horrores do terrorismo. Mas não se pode
sustentar que tenha acarretado mudanças duradouras
[10] no cenário mundial.
A política externa americana, na década passada,
decerto mudou. Subordinou-se quase por completo ao
propósito de combater a rede de extremistas islâmicos
responsável pelo ataque.
[15] Deflagrada um mês depois, a guerra do Afeganistão
foi reação legítima contra o Estado que dava respaldo
logístico à rede Al Qaeda. A derrubada do Taleban, que
governava o país centro-asiático, contribuiu, de modo
decisivo, para debilitar aquele grupo terrorista.
[20] O governo de George W. Bush desbaratou, porém,
o amplo apoio internacional colhido nessa primeira fase
ao iniciar, em 2003, uma guerra injustificável contra o
Iraque. Esse país não detinha armas de destruição em
massa nem seu ditador mantinha vínculos com a rede
[25] terrorista, como alegou então, por má-fé e paranoia, o
governo americano.
Num desdobramento irônico dos fatos, o Iraque é
hoje uma democracia dotada de relativa estabilidade,
enquanto o Afeganistão se acha entregue a um governo
[30] corrupto assediado por endêmica guerra civil.
De toda forma, a Al Qaeda foi desmantelada.
Produziu até agora apenas dois outros atentados de
vulto (Madri, em março de 2004; Londres, em julho de
2005), nenhum deles nos Estados Unidos. A morte do
[35] dirigente Osama bin Laden, na incursão de um comando
americano contra seu refúgio no Paquistão, em maio,
aparentemente encerra um ciclo.
É cedo para prever os rumos da atual onda de
revoltas populares contra ditaduras no mundo árabe,
[40] sendo plausível que o desenlace varie de um país a outro.
Mas o sentido implícito parece democratizante e alheio
à mitologia criada pelo extremismo islâmico.
O próprio desenvolvimento capitalista, que
dissemina informação e cria expectativas de consumo
[45] material e participação política, age como um ácido a
dissolver as incrustações de fundo agrário-religioso
nessas sociedades. O tempo e o progresso são os
maiores adversários do fundamentalismo islâmico.
De resto, a evolução histórica delineada na última
[50] década sugere que tanto os Estados Unidos como os
países árabes terão peso geopolítico declinante nos
tempos que estão por vir.
O ascenso da China e demais nações emergentes
surge como contraponto à paulatina perda de influência
[55] do mundo desenvolvido. E embora o petróleo não venha
a ser substituído tão cedo, a exploração de novos lençóis
e a diversificação da matriz energética mundial tendem
a esvaziar a importância dos exportadores tradicionais
do produto.
MITOS do 11/9. Folha de S. Paulo. São Paulo, 11 set. 2011. Opinião. Editorial. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/ fz1109201101.htm>. Acesso em: 30 set. 2011.
A ideia que tem respaldo textual é a indicada em