Esboçamos as preocupações fundamentais que a nossa peça procura refletir. A primeira e mais importante de todas se refere a uma face da sociedade brasileira que ganhou relevo nos últimos anos: a experiência capitalista que se vem implantando aqui − radical, violentamente predatória, impiedosamente seletiva − adquiriu um trágico dinamismo. O santo que produziu o milagre é conhecido por todas as pessoas de boa-fé e bom nível de informação: a brutal concentração da riqueza elevou a capacidade de consumo de bens duráveis de uma parte da população, enquanto a maioria ficou no ora veja. [Adaptado da apresentação.]
CREONTE:
(...)
O trem atrasa o quê? Nem meia hora
E o cara quebra tudo... Acha que é certo,
Jasão?...
JASÃO:
Não discuto quebrar... Agora,
quem às três da manhã tá de olho aberto,
se espreme pra chegar no emprego às sete,
lá passa o dia todo, volta às onze
da noite pra acordar a canivete
de novo às três, tinha que ser de bronze
para fazer isso sempre, todo dia,
levando na marmita arroz, feijão
e humilhação...
(...)
CREONTE:
Sociologia, Jasão...
JASÃO:
Não...
(...)
O cara já tá por aqui. Tá perto
de explodir, um trem que atrasa, ele mata,
quebra mesmo, é a gota d`água...
BUARQUE, C.; PONTES, P. Gota d’agua: uma tragédia brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
Encenada pela primeira vez em 1975, a premiada peça de teatro Gota d`água foi reapresentada diversas vezes. No momento em que foi escrita, como indicam seus autores, a peça buscou explicitar questionamentos sobre mudanças que afetaram a sociedade brasileira durante os governos militares.
Tendo como base o diálogo citado acima, entre os personagens Creonte e Jasão, um dos efeitos dessas mudanças na experiência capitalista do Brasil da época foi a:
O QUE NOSSAS METÁFORAS DIZEM DE NÓS
Para o poeta Robert Frost, a vida era um caminho que passa por encruzilhadas inevitáveis; para
Fernando Pessoa, uma sombra que passa sobre um rio. Shakespeare via o mundo como um palco
e Scott Fitzgerald percebia os seres humanos como barcos contra a corrente. Metáforas como essas
nos rodeiam, mas não só quando seguramos um livro nas mãos. Em nosso uso cotidiano da língua,
[05] elas são tão presentes que nem sequer percebemos. São exemplos “teto de vidro impede a carreira
das mulheres”, “a bolha do aluguel”, “cortar o mal pela raiz”. Considerada a forma por excelência da
linguagem figurada, a metáfora às vezes é tida como mero embelezamento do discurso.
Entretanto, desde 1980, com a publicação do livro Metáforas da vida cotidiana, essa figura retórica
recuperou seu protagonismo. Os autores George Lakoff e Mark Johnson mostraram que as alegorias
[10] desenham o mapa conceitual a partir do qual observamos, pensamos e agimos. Com frequência são
nossa bússola invisível, orientando tanto os gestos instintivos que fazemos como as decisões mais
importantes que tomamos. É muito provável que aqueles que concebem a vida como uma cruz e
os que a entendem como uma viagem não reajam da mesma forma ante um mesmo dilema. As
metáforas são ferramentas eficazes e de múltiplas utilidades. Ao partir de elementos já conhecidos,
[15] nos ajudam a examinar realidades, conceitos e teorias novas de uma maneira prática. Também nos
servem para abordar experiências traumáticas nas quais a linguagem literal se revela impotente.
São vigorosos atalhos que a mente usa para assimilar situações complexas em que a literalidade
acaba sendo tediosa, limitada e confusa. É mais fácil para nós entender que a depressão é uma
espécie de buraco negro e que o DNA é o manual de instruções de cada ser vivo.
[20] As figurações dão coesão às identidades coletivas, pois circulam sem cessar até se incorporarem
à linguagem cotidiana. Há alguns anos, os psicólogos Paul Thibodeau e Lera Boroditsky, da
Universidade Stanford (E.U.A.), analisaram os resultados de um debate sobre políticas contra a
criminalidade que recorria a duas metáforas. Quando o problema era ilustrado como se houvesse
predadores devorando a comunidade, a resposta era endurecer a vigilância policial e aplicar leis
[25] mais severas. No entanto, quando o problema era exposto como um vírus infectando a cidade, a
opção era a de adotar medidas para erradicar a desigualdade e melhorar a educação. Comparações
ruins levam a políticas ruins, escreveu o Nobel de Economia Paul Krugman.
No campo da medicina, tem havido mudanças de paradigma no que diz respeito ao impacto
emocional das metáforas. Num recente seminário organizado pela Universidade de Navarra
[30] (Espanha), a linguista Elena Semino dissertou sobre os efeitos de abordar o câncer como se
fosse uma guerra, provocando sensações negativas quando o paciente acredita estar “perdendo a
batalha”, mesmo que isso possa ser estimulante para outros. O erro, segundo a especialista, reside
em misturar os campos semânticos da guerra e da saúde. Para corrigir essa questão, a linguista
elabora o que chama de “cardápio de metáforas”, para que médicos e pacientes enfrentem a doença
[35] de forma mais construtiva.
As boas metáforas nos trazem outras perspectivas, fronteiras menos rígidas e novas categorizações
que substituem aquelas já desgastadas.
MARTA REBÓN
Adaptado de brasil.elpais.com, 11/04/2018.
Considerada a forma por excelência da linguagem figurada, a metáfora às vezes é tida como mero embelezamento do discurso. (l. 6-7)
Com a ampliação da visão sobre o papel da metáfora, ressalta-se a seguinte propriedade dessa figura de linguagem:
O QUE NOSSAS METÁFORAS DIZEM DE NÓS
Para o poeta Robert Frost, a vida era um caminho que passa por encruzilhadas inevitáveis; para
Fernando Pessoa, uma sombra que passa sobre um rio. Shakespeare via o mundo como um palco
e Scott Fitzgerald percebia os seres humanos como barcos contra a corrente. Metáforas como essas
nos rodeiam, mas não só quando seguramos um livro nas mãos. Em nosso uso cotidiano da língua,
[05] elas são tão presentes que nem sequer percebemos. São exemplos “teto de vidro impede a carreira
das mulheres”, “a bolha do aluguel”, “cortar o mal pela raiz”. Considerada a forma por excelência da
linguagem figurada, a metáfora às vezes é tida como mero embelezamento do discurso.
Entretanto, desde 1980, com a publicação do livro Metáforas da vida cotidiana, essa figura retórica
recuperou seu protagonismo. Os autores George Lakoff e Mark Johnson mostraram que as alegorias
[10] desenham o mapa conceitual a partir do qual observamos, pensamos e agimos. Com frequência são
nossa bússola invisível, orientando tanto os gestos instintivos que fazemos como as decisões mais
importantes que tomamos. É muito provável que aqueles que concebem a vida como uma cruz e
os que a entendem como uma viagem não reajam da mesma forma ante um mesmo dilema. As
metáforas são ferramentas eficazes e de múltiplas utilidades. Ao partir de elementos já conhecidos,
[15] nos ajudam a examinar realidades, conceitos e teorias novas de uma maneira prática. Também nos
servem para abordar experiências traumáticas nas quais a linguagem literal se revela impotente.
São vigorosos atalhos que a mente usa para assimilar situações complexas em que a literalidade
acaba sendo tediosa, limitada e confusa. É mais fácil para nós entender que a depressão é uma
espécie de buraco negro e que o DNA é o manual de instruções de cada ser vivo.
[20] As figurações dão coesão às identidades coletivas, pois circulam sem cessar até se incorporarem
à linguagem cotidiana. Há alguns anos, os psicólogos Paul Thibodeau e Lera Boroditsky, da
Universidade Stanford (E.U.A.), analisaram os resultados de um debate sobre políticas contra a
criminalidade que recorria a duas metáforas. Quando o problema era ilustrado como se houvesse
predadores devorando a comunidade, a resposta era endurecer a vigilância policial e aplicar leis
[25] mais severas. No entanto, quando o problema era exposto como um vírus infectando a cidade, a
opção era a de adotar medidas para erradicar a desigualdade e melhorar a educação. Comparações
ruins levam a políticas ruins, escreveu o Nobel de Economia Paul Krugman.
No campo da medicina, tem havido mudanças de paradigma no que diz respeito ao impacto
emocional das metáforas. Num recente seminário organizado pela Universidade de Navarra
[30] (Espanha), a linguista Elena Semino dissertou sobre os efeitos de abordar o câncer como se
fosse uma guerra, provocando sensações negativas quando o paciente acredita estar “perdendo a
batalha”, mesmo que isso possa ser estimulante para outros. O erro, segundo a especialista, reside
em misturar os campos semânticos da guerra e da saúde. Para corrigir essa questão, a linguista
elabora o que chama de “cardápio de metáforas”, para que médicos e pacientes enfrentem a doença
[35] de forma mais construtiva.
As boas metáforas nos trazem outras perspectivas, fronteiras menos rígidas e novas categorizações
que substituem aquelas já desgastadas.
MARTA REBÓN
Adaptado de brasil.elpais.com, 11/04/2018.
É mais fácil para nós entender que a depressão é uma espécie de buraco negro e que o DNA é o manual de instruções de cada ser vivo. (l. 18-19)
Na argumentação do segundo parágrafo, a frase citada configura um recurso de:
O QUE NOSSAS METÁFORAS DIZEM DE NÓS
Para o poeta Robert Frost, a vida era um caminho que passa por encruzilhadas inevitáveis; para
Fernando Pessoa, uma sombra que passa sobre um rio. Shakespeare via o mundo como um palco
e Scott Fitzgerald percebia os seres humanos como barcos contra a corrente. Metáforas como essas
nos rodeiam, mas não só quando seguramos um livro nas mãos. Em nosso uso cotidiano da língua,
[05] elas são tão presentes que nem sequer percebemos. São exemplos “teto de vidro impede a carreira
das mulheres”, “a bolha do aluguel”, “cortar o mal pela raiz”. Considerada a forma por excelência da
linguagem figurada, a metáfora às vezes é tida como mero embelezamento do discurso.
Entretanto, desde 1980, com a publicação do livro Metáforas da vida cotidiana, essa figura retórica
recuperou seu protagonismo. Os autores George Lakoff e Mark Johnson mostraram que as alegorias
[10] desenham o mapa conceitual a partir do qual observamos, pensamos e agimos. Com frequência são
nossa bússola invisível, orientando tanto os gestos instintivos que fazemos como as decisões mais
importantes que tomamos. É muito provável que aqueles que concebem a vida como uma cruz e
os que a entendem como uma viagem não reajam da mesma forma ante um mesmo dilema. As
metáforas são ferramentas eficazes e de múltiplas utilidades. Ao partir de elementos já conhecidos,
[15] nos ajudam a examinar realidades, conceitos e teorias novas de uma maneira prática. Também nos
servem para abordar experiências traumáticas nas quais a linguagem literal se revela impotente.
São vigorosos atalhos que a mente usa para assimilar situações complexas em que a literalidade
acaba sendo tediosa, limitada e confusa. É mais fácil para nós entender que a depressão é uma
espécie de buraco negro e que o DNA é o manual de instruções de cada ser vivo.
[20] As figurações dão coesão às identidades coletivas, pois circulam sem cessar até se incorporarem
à linguagem cotidiana. Há alguns anos, os psicólogos Paul Thibodeau e Lera Boroditsky, da
Universidade Stanford (E.U.A.), analisaram os resultados de um debate sobre políticas contra a
criminalidade que recorria a duas metáforas. Quando o problema era ilustrado como se houvesse
predadores devorando a comunidade, a resposta era endurecer a vigilância policial e aplicar leis
[25] mais severas. No entanto, quando o problema era exposto como um vírus infectando a cidade, a
opção era a de adotar medidas para erradicar a desigualdade e melhorar a educação. Comparações
ruins levam a políticas ruins, escreveu o Nobel de Economia Paul Krugman.
No campo da medicina, tem havido mudanças de paradigma no que diz respeito ao impacto
emocional das metáforas. Num recente seminário organizado pela Universidade de Navarra
[30] (Espanha), a linguista Elena Semino dissertou sobre os efeitos de abordar o câncer como se
fosse uma guerra, provocando sensações negativas quando o paciente acredita estar “perdendo a
batalha”, mesmo que isso possa ser estimulante para outros. O erro, segundo a especialista, reside
em misturar os campos semânticos da guerra e da saúde. Para corrigir essa questão, a linguista
elabora o que chama de “cardápio de metáforas”, para que médicos e pacientes enfrentem a doença
[35] de forma mais construtiva.
As boas metáforas nos trazem outras perspectivas, fronteiras menos rígidas e novas categorizações
que substituem aquelas já desgastadas.
MARTA REBÓN
Adaptado de brasil.elpais.com, 11/04/2018.
No texto, apresenta-se o princípio que estrutura as metáforas por meio da seguinte palavra sublinhada:
COM A LAMA NA ALMA
Metáforas são um perigo. Quando rompem suas barragens de figuração e jorram pelas encostas
do sentido literal, fenômeno menos raro do que parece, têm grande poder de destruição física.
Veja-se o proverbial “mar de lama”. Na crise que conduziu ao suicídio de Getúlio Vargas em 1954, a
expressão brandida pela UDN no parlamento e na imprensa virou um dos mais poderosos bordões
[05] da política brasileira em todos os tempos.
É a senha definitiva da denúncia – meio justificada, meio histérica – de uma corrupção supostamente
universal e sem freios instalada no seio do populismo de esquerda, arma de mobilização eleitoral
que o populismo de direita não inventou agora.
Curiosamente, a paternidade de “mar de lama” é atribuída ao próprio Vargas, que com imagem tão
[10] gráfica teria expressado a um coronel da Aeronáutica sua decepção com as jogadas corruptas de
Gregório Fortunato, chefe de sua guarda pessoal. Mas essa é outra história.
“Mar de lama” virou chavão, metáfora morta, mas em sua origem era uma imagem potente. É claro
que, entre aquele Brasil dos anos 1950, que mal engatinhava esperançosamente na modernidade,
e o de agora, mistura grotesca e já exausta de arcaico e pós-moderno, o mar de lama do Palácio do
[15] Catete ganhou um ar até bucólico de poça d’água, mas não é disso que quero falar aqui. O que me
interessa é a história de uma boa metáfora.
Na tradição rural – vastíssima nos sentidos geográfico e histórico – em que o Brasil nasceu e foi
criado, a lama simboliza o atraso. A urbanização é uma guerra contra ela. Carros de boi atolavam
na lama, vacas iam para o brejo.
[20] Além do atraso, coube à lama simbolizar a pobreza e a sujeira física e moral a ela associada:
metiam-se os pés cascudos no barro, emporcalhavam-se os tratadores de porcos em chiqueiros,
enlameavam-se reputações, chafurdava-se em charcos.
Pode parecer que, definitivamente suja, a lama tem o mesmo conjunto de sentidos em qualquer
cultura, mas não é assim. No repertório de diversos povos da antiguidade, a principal força
[25] simbólica da pasta de terra e água é positiva à beça: liga-se à criação da vida.
Na mitologia de gregos, sumérios, egípcios, chineses, hindus, iorubás e, claro, no próprio “Gênese”,
a humanidade foi moldada por mãos divinas tendo por matéria-prima algum tipo de argila, o que
pode estar mais perto da verdade do que se imagina.
O oceano goza de boa reputação científica como provável criadouro da vida na Terra, mas nunca abafou
[30] por completo a teoria do “laguinho morno” – cheio de lama, óbvio – que Charles Darwin propôs.
Com Mariana e, em versão incomparavelmente mais letal e absurda, Brumadinho, a velha lama brasileira,
agora acrescida de toneladas de metais venenosos e desprezo, não se limita a romper as barragens do
sentido figurado: soterra qualquer ligação com a vida que pudesse estar enterrada no barro.
Atraso, sujeira física e moral, tudo isso já parece pouco. Nossa lama simboliza a morte, ponto.
[35] Estamos enlameados até a alma.
SÉRGIO RODRIGUES
Adaptado de www1.folha.uol.com.br, 31/01/2019.
A história da expressão “mar de lama”, relatada por Sérgio Rodrigues, reforça uma ideia apontada no texto O que nossas metáforas dizem de nós.
Essa ideia está sintetizada na seguinte frase do texto base:
COM A LAMA NA ALMA
Metáforas são um perigo. Quando rompem suas barragens de figuração e jorram pelas encostas
do sentido literal, fenômeno menos raro do que parece, têm grande poder de destruição física.
Veja-se o proverbial “mar de lama”. Na crise que conduziu ao suicídio de Getúlio Vargas em 1954, a
expressão brandida pela UDN no parlamento e na imprensa virou um dos mais poderosos bordões
[05] da política brasileira em todos os tempos.
É a senha definitiva da denúncia – meio justificada, meio histérica – de uma corrupção supostamente
universal e sem freios instalada no seio do populismo de esquerda, arma de mobilização eleitoral
que o populismo de direita não inventou agora.
Curiosamente, a paternidade de “mar de lama” é atribuída ao próprio Vargas, que com imagem tão
[10] gráfica teria expressado a um coronel da Aeronáutica sua decepção com as jogadas corruptas de
Gregório Fortunato, chefe de sua guarda pessoal. Mas essa é outra história.
“Mar de lama” virou chavão, metáfora morta, mas em sua origem era uma imagem potente. É claro
que, entre aquele Brasil dos anos 1950, que mal engatinhava esperançosamente na modernidade,
e o de agora, mistura grotesca e já exausta de arcaico e pós-moderno, o mar de lama do Palácio do
[15] Catete ganhou um ar até bucólico de poça d’água, mas não é disso que quero falar aqui. O que me
interessa é a história de uma boa metáfora.
Na tradição rural – vastíssima nos sentidos geográfico e histórico – em que o Brasil nasceu e foi
criado, a lama simboliza o atraso. A urbanização é uma guerra contra ela. Carros de boi atolavam
na lama, vacas iam para o brejo.
[20] Além do atraso, coube à lama simbolizar a pobreza e a sujeira física e moral a ela associada:
metiam-se os pés cascudos no barro, emporcalhavam-se os tratadores de porcos em chiqueiros,
enlameavam-se reputações, chafurdava-se em charcos.
Pode parecer que, definitivamente suja, a lama tem o mesmo conjunto de sentidos em qualquer
cultura, mas não é assim. No repertório de diversos povos da antiguidade, a principal força
[25] simbólica da pasta de terra e água é positiva à beça: liga-se à criação da vida.
Na mitologia de gregos, sumérios, egípcios, chineses, hindus, iorubás e, claro, no próprio “Gênese”,
a humanidade foi moldada por mãos divinas tendo por matéria-prima algum tipo de argila, o que
pode estar mais perto da verdade do que se imagina.
O oceano goza de boa reputação científica como provável criadouro da vida na Terra, mas nunca abafou
[30] por completo a teoria do “laguinho morno” – cheio de lama, óbvio – que Charles Darwin propôs.
Com Mariana e, em versão incomparavelmente mais letal e absurda, Brumadinho, a velha lama brasileira,
agora acrescida de toneladas de metais venenosos e desprezo, não se limita a romper as barragens do
sentido figurado: soterra qualquer ligação com a vida que pudesse estar enterrada no barro.
Atraso, sujeira física e moral, tudo isso já parece pouco. Nossa lama simboliza a morte, ponto.
[35] Estamos enlameados até a alma.
SÉRGIO RODRIGUES
Adaptado de www1.folha.uol.com.br, 31/01/2019.
Metáforas são um perigo. (l. 1)
No primeiro parágrafo do texto Com a lama na alma, o autor dá um tratamento metafórico à própria metáfora.
Esse procedimento é exemplificado pelo seguinte trecho: