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A Escrava Isaura foi composta fora do enquadramento habitual dos outros romances e é algo excêntrica em relação a eles: conta as desditas de uma escrava com aparência de branca, educada, de caráter nobre, vítima dum senhor devasso e cruel, terminando tudo com a punição dos culpados e o triunfo dos justos. A narrativa se funda em pessoas e lugares alheios à experiência de Bernardo Guimarães — fazenda luxuosa de Campos, a cidade do Recife — reclamando esforço aturado de imaginação. O resultado não foi bom: o livro se encontra mais próximo das lendas que dos outros romances, quando o seu próprio caráter de tese requeria maior peso de realidade.
O malogro da obra é devido em parte à tese que desejou expor, e que faz da construção novelística mero pretexto, já que não soube transcender o tom esquemático, de parábola. Mas, considerada a situação brasileira do tempo, daí provém igualmente o alcance humano e social que consagrou o livro, destacando-o como panfleto corajoso e viril, que pôs em relevo ante a imaginação popular situações intoleráveis de cativeiro. Numa literatura tão aplicada quanto a nossa, não é qualidade desprezível. Tanto mais quanto o romancista timbrou em passar da descrição à doutrina, pondo na boca de personagens (sobretudo na parte decorrida em Recife) tiradas e argumentos abolicionistas.
(Antonio Candido. Formação da literatura brasileira, 2000. Adaptado.)
As considerações do crítico literário Antonio Candido em relação à obra de Bernardo Guimarães têm o objetivo de