[1]Destruição em Gaza desencadeia uma onda de criatividade
[2]As imagens de tantas casas destruídas, de
[3]tantas explosões de bombas e de tantos corpos
[4]em mortalhas podem começar a se fundir de
[5]maneira indistinta. Todavia, Belal Khaled, um
[6]jovem fotojornalista e pintor local, via símbolos e
[7]histórias na fumaça ao seu redor.
[8]Primeiramente, em uma nuvem negra que
[9]manchava o céu azul em uma praia, ele viu
[10]indícios de um nariz ___________, um bigode
[11]grosso e cabelos despenteados, “como se fosse
[12]um velho observando a situação em Gaza”, disse
[13]Khaled. Depois, na foto feita por um amigo de uma nuvem de fumaça mais alta e rala, ele viu um punho com o
[14]dedo indicador estendido, um gesto feito por muçulmanos quando dizem “não há outro deus senão Alá”.
[15]Usando Photoshop, Khaled acrescentou algumas linhas simples para salientar esses ícones ocultos e postou
[16]sua obra de arte no Facebook, onde ela foi partilhada e “curtida” milhares de vezes.
[17]“Os artistas veem coisas invisíveis para os outros”, afirmou Khaled, 23, que trabalha em uma agência de
[18]notícias turca.
[19]Provavelmente, enquanto houver guerra,
[20]haverá artistas cujas interpretações do campo de
[21]batalha são úteis para uma compreensão cultural do
[22]conflito.
[23]Em Gaza, onde há __________ de materiais
[24]para artistas e a liberdade de expressão muitas
[25]vezes é reprimida, o conflito acirrado que começou
[26]em 8 de julho desencadeou uma onda de
[27]criatividade impulsionada por redes de mídias
[28]sociais, que têm sido um instrumento básico na
[29]guerra de propaganda paralela entre os que apoiam
[30]os militantes palestinos e os defensores da posição
[31]de Israel.
[32]Pelo menos seis artistas, alguns distantes de
[33]Gaza, puseram em circulação desenhos como os de
[34]Khaled, feitos em cima de fotos das explosões de
[35]bombas israelenses. (A maioria desses artistas
[36]afirma ter sido pioneira nisso.) Outros postaram
[37]pinturas mais explícitas de morte, destruição,
[38]foguetes e aviões de guerra, peças gráficas cruas com slogans estridentes, manipulações digitais e charges
[39]políticas. Entre os mais interessantes está uma série de mash-ups (fusões) de Basel Elmaqosui, combinando
[40]telas clássicas com cenas de rua.
[41]Elmaqosui inseriu “Os Jogadores de Cartas”, de Cézanne, em uma foto de homens jogando cartas sobre
[42]um cobertor em uma das escolas da ONU que abrigaram milhares de moradores deslocados durante semanas.
[43]Ele pôs “Criança com Pomba”, de Picasso, ao lado de uma pomba real — ou talvez um pombo branco —
[44]__________ em um dos únicos muros que restam no vilarejo destruído de Khuza’a, em frente a uma bandeira
[45]palestina. Ao lado de um bairro reduzido a escombros em Beit Hanoun, a figura de “O Grito”, de Edvard Munch,
[46]urra. “Isso só dá certo com obras famosas, para que a visão seja familiar para as pessoas”, explicou Elmaqosui,
[47]42. “Muitas dessas obras têm relação com nossa realidade. Elas mostram coisas que aconteceram antes no
[48]mundo e parecem estar se repetindo agora”.
[49]Os artistas consideram seu trabalho uma forma de resistência.
[50]“Todos em Gaza estão resistindo a sua própria maneira”, disse Manal Abu Safar, 31, que tem postado
[51]dezenas de obras com fumaça de bombas como as de Khaled no Facebook. “O artista palestino expõe sua
[52]linguagem singular por meio de pinceladas e linhas.”
[53]Abu Safar, que mora na cidade de Deir al-Balah, na região central da faixa de Gaza, e começou a
[54]desenhar durante sua infância na Líbia, disse que fez seu primeiro quadro da fumaça de um ataque com aviões
[55]F-16, uma mão fazendo o “V da vitória”, no quarto ou quinto dia da guerra.
[56]Enquanto Khaled parece buscar inspiração na fumaça real, Abu Safar, que procura fotos on-line, toma
[57]mais liberdade para sobrepor sua visão: uma serpente atacando Gaza; um mapa da Palestina histórica; Yasser
[58]Arafat apoiando a bochecha na palma da mão; a caricatura de um homem usando um capacete com a Estrela
[59]de Davi e sugando o sangue de uma criança.
[60]Khaled disse que começou a pintar há três anos — principalmente retratos obsessivos dos velhos sem
[61]esperança e dos jovens carentes em seu bairro. “Eu gosto de desenhar rostos, pois eles transmitem muitas
[62]histórias”, afirmou. “Concentro-me em desenhar os olhos, que são o ponto focal para quem observa um rosto.”
[63]Elmaqosui é bem mais experiente. Ele começou a desenhar e a pintar em um workshop em 1995 e depois
[64]foi se aperfeiçoar na Jordânia. Há cinco anos ele e dois parceiros dão aulas de fotografia e desenho para cerca
[65]de 5 mil crianças.
[66]Durante a ofensiva israelense em 2008-09 em Gaza, Elmaqosui fez uma série de 40 pinturas em preto e
[67]branco, principalmente de rostos abstratos sob o ataque de aviões e helicópteros.
[68]Ele disse que faz arte constantemente durante o atual conflito, em parte “para desanuviar a tensão com
[69]meus filhos”, que têm 16, 15, 13 e 11 anos, além de um bebê de 3 meses. Durante o conflito anterior, contou,
[70]“eu dizia a eles que as explosões eram de fogos de artifício, mas agora eles sabem que não é verdade”.
Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/new-york-times/conteudo>. Acesso em: 02/092014, às 16h25min
(fins pedagógicos – adaptado).
Assinale a alternativa que completa correta e respectivamente as lacunas das linhas 11, 24 e 45.