Questões de Português - Gramática - Pontuação - Dois pontos
Leia o texto a seguir para responder a questão.
Texto
Nem aqui, nem lá: os efeitos da transnacionalidade sobre os migrantes*
Ao se mudar para um novo país, um imigrante enfrenta as dificuldades da distância de amigos e de familiares e, a curto prazo, sofre adversidades no processo de integração. Por mais que uma rede de contatos se forme aos poucos, com a distância, os obstáculos são enfrentados sozinhos, e enquanto o migrante estiver fora de seu país de origem, vai passar por uma situação comumente conhecida como “nem aqui, nem lá.”
Nem aqui, pois dificilmente o imigrante ficará 100% integrado, sempre levando consigo a cultura e os costumes do país de origem. E nem lá, pois, enquanto estiver afastado, estará distante de seu país de residência habitual, perdendo acontecimentos importantes e querendo estar próximo dos entes queridos. Assim é a vida de todos que escolhem ou que precisam continuar suas vidas longe de seus países de origem.
Quer seja um imigrante, quer seja um refugiado, os momentos difíceis são os mesmos no que diz respeito à cultura, aos entes queridos e aos momentos para se dividir. Estar com alguém do mesmo país ameniza as dificuldades, e com a tecnologia fica relativamente possível estar mais próximo, mas ainda assim, estar em outro país, longe dos costumes e da vida habitual, mexe com todos aqueles que emigram.
Como nação, as pessoas geralmente dividem um sentimento de identidade e de pertencimento, envolvendo uma consciência nacional. O Brasil, tendo sempre sido um país que acolheu e acolhe diversas nacionalidades, fez da heterogeneidade algo natural.
No entanto, para que essa identidade coletiva seja formada, geralmente há um conjunto de dialetos, de línguas, de religião nacional, de cidadania, de serviço militar, de sistema educacional, hinos e bandeiras que precisam ser usados como ferramentas para criar algo mais homogêneo. É preciso olhar para a sociedade que está recebendo e perceber suas características. Mas como os imigrantes podem perceber as mudanças que estão ocorrendo no processo migratório? É uma dinâmica que muitas vezes leva ao “nem aqui, nem lá”. Através da assimilação, os imigrantes aos poucos deixariam de lado sua cultura do país de origem e se tornariam parte do país que os recebeu. Com a integração, no entanto, ambas as culturas se acomodam: os recém-chegados se adaptam gradualmente, mas há também transformações no país que decide hospedar.
Desse modo, o “nem aqui, nem lá”, um efeito da transnacionalidade, é um processo simultâneo que mexe com os imigrantes nos países de destino e seu envolvimento com a sociedade local. O que pode minimizar esse choque são comunidades que promovam a incorporação desses imigrantes, para que haja esforços mútuos das nacionalidades envolvidas e essas saiam ganhando com um ambiente mais diverso e plural.
Ao mesmo tempo, a transnacionalidade permite que esses indivíduos mantenham identidades múltiplas, contatos e afiliações. Esse fenômeno tem efeitos positivos e negativos, tanto para aqueles que se mudam para outro país, como para os que ficam. Como impactos negativos, pode ser mencionado que geralmente pessoas transnacionais têm que lidar com um sentimento de não pertencimento, quando inicialmente é difícil se estabelecer em um lugar onde eles tentam fazer parecer como um lar. Além disso, alguns expatriados podem viver numa “bolha nacional” fora de seu país de origem, não dispostos a integrar, nem de aprender a língua ou fazer alguns esforços para se adaptar à nova cultura. Como pontos positivos, os transnacionais têm a possibilidade de enviar remessas e de dividir conhecimentos e experiências culturais com os que ficaram para trás.
Migrantes transnacionais têm que lidar com desafios diferentes quando se movem. Embora pudesse ser dito que seja mais fácil migrar agora por conta da tecnologia e lugares mais heterogêneos, ainda é difícil passar por um processo de integração, algo que depende dos esforços dos imigrantes, pois a integração é uma via de mão dupla, que pode ser amenizada quando a população local é mais aberta ao diverso e ao acolhimento.
*Migrante: o que muda de lugar, de região ou de país. (DICIONÁRIO ON LINE). Disponível em: www.dicio.com.br/migrante/. Acesso em: 30 jan. 2020 (adaptado).
Assinale a alternativa CORRETA.
Em: “Nem aqui, nem lá: os efeitos da transnacionalidade sobre os migrantes”, o uso dos dois-pontos sugere uma:
Observe as relações de sentido estabelecidas no texto a seguir
“Religiões são orgulhosas. A ciência é humilde” Autor lança HQ baseada em seu best-seller ‘Sapiens’, diz que, sem conhecimento, abrimos espaço para teorias da conspiração ridículas e alerta: ‘é como se a natureza estivesse nos treinando para algo pior no futuro’
O Globo. Segundo Caderno. 8/11/20, p. 2.
O emprego de dois-pontos, no texto,
A literatura sobre desenvolvimento econômico do último quarto de século nos dá um exemplo meridiano do papel dos mitos nas ciências sociais: (l. 01-02)
O trecho introduzido pelos dois-pontos, após a sequência acima, tem valor de:
TESTEMUNHA DE MIM
Entrevista com Paula Sibilia
Quais são as principais mudanças trazidas pelas redes sociais na relação entre o Eu e o Outro?
O que eu analiso nos meus livros não é exatamente uma mudança trazida pelas redes sociais – ou por
qualquer outra tecnologia como os celulares ou a internet, por exemplo. Trata-se de uma transformação
histórica bem mais radical porque vem de mais longe, envolvendo um conjunto de fatores socioculturais,
[5] políticos e econômicos bastante complexos. Foram essas mudanças que levaram à invenção desses
dispositivos técnicos hoje tão popularizados. Ou seja: o fenômeno que estamos querendo compreender
não foi “causado” pelos dispositivos digitais, mas compreende as tecnologias como mais um fator que,
em muitos casos, é mais uma consequência do que uma causa.
E no que consiste essa transformação? Ela seria um desdobramento da “sociedade do espetáculo”
[10] antevista por Guy Debord?
É algo bastante complexo e denso, difícil de resumir em poucas palavras e até mesmo de mapear; mas
tem relação, sim, com o diagnóstico que Guy Debord apresentou (há mais de meio século!) em suas teses
sobre a sociedade do espetáculo. À luz de certos fenômenos já claramente vigentes naquela época, tais
como o consumismo e a forte influência dos meios audiovisuais (o cinema, a televisão e, sobretudo,
[15] a publicidade), esse artista e ativista francês vislumbrou uma transformação muito problemática nos
modos de viver. Claro que Guy Debord não poderia ter imaginado, em 1967, nem em seus piores
pesadelos, algo como Facebook. Contudo, a dinâmica que hoje vemos se generalizar em vários sentidos
já estava sendo configurada naqueles tempos; e foi o avanço desses movimentos históricos que levou
ao desenvolvimento dessas tecnologias que hoje usamos tão ativamente para nos relacionar conosco,
[20] com os outros e com o mundo de modos muito diferentes de como o fazíamos poucas décadas atrás.
Por quais transformações passou essa configuração histórica do “eu”?
Hoje vemos como se desenvolvem outros tipos de eu, bastante distantes daqueles que proliferaram, de
modo hegemônico, ao longo dos séculos 19 e 20 nas sociedades ocidentais. O cerne dessa subjetividade
moderna se localizava “dentro” de cada um, era tematizado como uma essência oculta e misteriosa,
[25] porém muito mais valiosa e verdadeira do que as vãs aparências. Com as transformações ocorridas nas
últimas décadas, esse eixo “interior” foi se deslocando para o campo do visível: passou a priorizar tudo
aquilo que se vê, o que os outros enxergam de nós. A imagem corporal se tornou primordial, daí toda a
relevância dada ao aspecto físico e ao fenômeno conhecido como “culto ao corpo”. Mas não se esgota
apenas nisso: também é fundamental que os atos e os comportamentos antes ocultos (ou considerados
[30] íntimos) agora se exponham publicamente, para que os outros sejam capazes de testemunhar, julgar e,
de preferência, celebrar ou legitimar.
E “o outro”? As redes sociais representam uma ameaça à alteridade?
Primeiro, creio importante destacar que não há nada de essencialmente negativo nesta transformação
histórica das subjetividades. Ao contrário até, pois não deixa de ser uma interessante conquista histórica
[35] esse deslocamento da interioridade psicológica moderna (afinal, e em vários sentidos, uma sorte
de prisão para o “eu”) em direção ao campo da sociabilidade. Contudo, como nas últimas décadas
também ocorreu uma feroz intensificação do capitalismo e uma generalização da lógica empresarial,
que – junto com a dinâmica própria do espetáculo – passou a impregnar todos os âmbitos da vida, essa
transformação histórica foi capturada pelo mercado. Não apenas no sentido literal, que é evidente,
[40] mas também em planos mais sutis, que envolvem os modos de lidar consigo, com os outros e com o
mundo de acordo com os códigos da mídia ou do marketing. Vemos, então, uma instrumentalização do
outro como mero público consumidor do eu, algo que tende a ignorar toda a riqueza potencialmente
transformadora da alteridade.
Qual é o papel das imagens nesse contexto?
[45] Não deixa de ser surpreendente que tenhamos adotado com tanto entusiasmo, com tanta rapidez
e eficácia, esses aparelhos com câmeras, telas e acesso aos outros a todo momento e em qualquer
lugar. São canais midiáticos que funcionam como vitrines para exibir e “compartilhar” o que fazemos,
gostamos, queremos, sonhamos, curtimos, etc. Os modos mais habituais de utilizá-los é praticando uma
certa “edição”, uma sorte de performance de um “personagem real” que fazemos de nós mesmos,
[50] quase sempre comandada pelos códigos do marketing e pela estética da publicidade. Essas estratégias
podem ser mais ou menos bem-sucedidas, mas de todo modo são tentativas de solicitar a aprovação
dos outros, bem decalcadas na lógica do mercado e do espetáculo.
http://bravo.vc/seasons/s06e01
Com as transformações ocorridas nas últimas décadas, esse eixo “interior” foi se deslocando para o campo
do visível: passou a priorizar tudo aquilo que se vê, o que os outros enxergam de nós (l. 25-27)
Mantendo o sentido original, os dois-pontos podem ser substituídos pela seguinte expressão:
Leia a crônica a seguir, de Luis Fernando Veríssimo, e responda a questão
Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico: só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.
Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes. Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido gritando “Não me olhem! Não me olhem!”, só para chamar a atenção.
O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele. Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.
O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.
O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma platéia, o tímido não pensa nos membros da platéia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para a platéia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.
VERISSIMO, Luis Fernando. Da Timidez. In: Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 111-112.
Sobre o trecho “E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra”, assinale a alternativa que substitui, corretamente, os dois pontos, sem alterar o sentido original.
Para responder a questão, leia a crônica “Lênin sim, Cauby não”, de Moacyr Scliar.
É o último reduto do marxismo-leninismo, diziam os amigos, e isso para ele era motivo de orgulho: realmente, a pequena livraria tinha um enorme estoque das obras de Marx, Engels, Lênin, Stalin, Mao. Munição para muitas revoluções, segundo a sua visão.
O problema é que essa munição não saía do paiol. Ninguém comprava os livros. Coisa que o deixava revoltado — é um mundo de alienados, este nosso — mas, de certa forma, satisfeito: no fundo, não queria separar-se daquelas obras que evocavam a sua vida de militante.
Claro que precisava viver, mas isso resolvia de outra maneira: havia, no pequeno recinto, uma seção de CDs populares, e para aquilo sim, havia procura. Cauby Peixoto, por exemplo, vendia como pão quente.
Tudo mudou quando o rapaz começou a frequentar a livraria. Era um rapaz magro, de óculos, que andava sempre de impermeável, por mais calor que fizesse. Vinha, não dizia nada, ficava folheando os livros. Depois ia embora sem dizer nada. Não demorou muito para que ele fizesse o diagnóstico: o jovem estava surrupiando a literatura revolucionária.
Dedução simples: os livros não se vendiam, mas estavam sumindo. De outra parte, não eram muitos os frequentadores do sebo. E sobretudo, não eram muitos os que vinham ali de capa — cuja finalidade era óbvia.
Depois de muito hesitar, acabou interpelando o rapaz. Tentou fazer a coisa com jeito, para não ofendê-lo. Para sua surpresa, o garoto não apenas admitiu os furtos, como os justificou:
— Estou apenas procedendo a uma divisão da riqueza intelectual que você concentrava aqui no sebo, como outros concentram a renda. Ou você não sabe que, como diz Proudhon, a propriedade privada é um roubo?
O dono da livraria teve de concordar. Exigiu apenas que o jovem levasse só um livro de cada vez, para não liquidar o acervo. E esse acordo funcionou muito bem. Até o dia em que o rapaz, vítima de súbita tentação, furtou um CD do Cauby. O homem então expulsou-o, indignado. Roubar Lênin tudo bem, era um ato revolucionário. Mas roubar o Cauby nada tinha de progressista. E, sem discos de Cauby, do que iria ele viver?
(www.folha.uol.com.br, 16.11.1998.)
Em “Dedução simples: os livros não se vendiam, mas estavam sumindo.” (5º parágrafo), os dois-pontos anunciam
Faça seu login GRÁTIS
Minhas Estatísticas Completas
Estude o conteúdo com a Duda
Estude com a Duda
Selecione um conteúdo para aprender mais: