IFAL 2012/2
40 Questões
Texto
Crônica dos 30 anos
Fábio José dos Santos*
Na minha infância, havia uma
brincadeira através da qual, por meio de uma
espécie de numerologia pueril e leiga, era
possível descobrir, no presente dos oito ou nove
[5] anos, como seria o nosso futuro. Por meio dessa
consulta – séria, é bom deixar claro –, éramos
capazes de obter dados relacionados a áreas
diferentes da nossa vida. Era possível prever, por
exemplo, quando iríamos nos casar, qual seria
[10] nossa profissão, se seríamos ricos, pobres ou
lascados, e, ainda, quantos filhos teríamos.
Naquela época, contraí matrimônio aos vinte e
cinco, e tive três ou quatro filhos. Penso que
passei pelas três condições financeiras possíveis
[15] – comi caviar e degustei farinha seca. Ah, e
passei por várias profissões. (Não preciso dizer
que fiz a consulta mais de uma vez)
O fato é que, em geral, rejeitei, voluntária
ou involuntariamente, a série completa dos
[20] vaticínios que fiz quando criança. O Tempo é
senhor dos destinos, creio. Contudo, a história
não se escreve sozinha, ela é o resultado de
como conduzimos nossas vidas, muito embora
estejamos
habilitados a
escrever apenas
rascunhos, que
servem para compor
a versão mais ou
[30] menos final do livro
da vida (em certos
casos, o texto pode
ser reescrito, quase que integralmente).
Hoje é o dia em que celebro minha
[35] trigésima primavera. E enquanto recebo os
parabéns – inclusive de amigos distantes no
tempo e no espaço –, sinto que o Tempo já me
pesou menos. Com efeito, já lá se foram trinta
anos que comecei a morrer... E ainda me lembro
[40] do cheiro e do gosto de algumas coisas do
passado... Mas o passado passou. E o ruim
desse processo é que o tempo, inflexível, não
permite que recuemos na linha da vida até
aqueles momentos que tanto nos fizeram felizes.
[45] E, em trinta anos, quantas experiências
prazerosas eu tive...
Durante todos esses anos, eu cresci. O
mundo cresceu também. Aliás, tudo ficou maior.
É verdade que a experiência nos faz aumentar o
[50] tamanho das coisas que nos cercam. E o que
antes era pequeno, como era o nosso mundo,
assume proporções hercúleas. Por que mesmo
temos de ser responsáveis? Não seria bem mais
fácil se nossos pais sempre passassem à frente
[55] e, como há vinte, vinte e cinco anos, resolvessem
todos os problemas como sempre o fizeram, num
passe de mágica? E me fica a questão: é mesmo
imperativo que experimentemos a dor, o
desespero, as turbulências, enfim, a morte? Mas
[60] tudo isso estava lá, também.
De qualquer forma, hoje celebro trinta
anos de idade. Segundo o professor Narciso,
cheguei à metade da minha vida. De fato. De
fato. Nesse tempo, vi o mesmo de diversas
[65] formas. Conheci e continuo conhecendo muitas
coisas novas. Fui de um extremo ao outro dos
hemisférios do meu mundo. Eu mudei; tudo
mudou. E as previsões da infância não se
realizaram. Não casei aos vinte e cinco, não
[70] tenho (ainda?) nenhum dos quatro filhos que me
seriam destinados, não me tornei presidente nem
cantor. Aquelas previsões não foram bem
previstas. Contudo, preciso deixar claro: isso não
me frustra. Preciso dizer a todos: acho que sou
[75] muito bem sucedido. A emenda, se houve, saiu
bem melhor que o soneto. Preciso dizer, ainda: a
danada da consulta aos números lá dos idos
anos 80 não era capaz de prever aquilo que,
julgo, era mais fundamental, a saber, se o
[80] interessado seria ou não seria feliz, a despeito,
entre outros, de sua condição de rico, pobre ou
lascado. Mas eu posso afirmar, do alto dos meus
trinta bem vividos anos, que a felicidade tem-me
acompanhado ao longo de todos esses anos,
[85] razão por que me sinto, hoje, imensamente
realizado.
Os números erraram – graças a Deus!
__________
*Professor de Língua Portuguesa do IFAL, Campus
[90] Maceió
As palavras sublinhadas, no primeiro parágrafo, possuem regras específicas de acentuação que não foram contrariadas, exceto em:
Texto
Crônica dos 30 anos
Fábio José dos Santos*
Na minha infância, havia uma
brincadeira através da qual, por meio de uma
espécie de numerologia pueril e leiga, era
possível descobrir, no presente dos oito ou nove
[5] anos, como seria o nosso futuro. Por meio dessa
consulta – séria, é bom deixar claro –, éramos
capazes de obter dados relacionados a áreas
diferentes da nossa vida. Era possível prever, por
exemplo, quando iríamos nos casar, qual seria
[10] nossa profissão, se seríamos ricos, pobres ou
lascados, e, ainda, quantos filhos teríamos.
Naquela época, contraí matrimônio aos vinte e
cinco, e tive três ou quatro filhos. Penso que
passei pelas três condições financeiras possíveis
[15] – comi caviar e degustei farinha seca. Ah, e
passei por várias profissões. (Não preciso dizer
que fiz a consulta mais de uma vez)
O fato é que, em geral, rejeitei, voluntária
ou involuntariamente, a série completa dos
[20] vaticínios que fiz quando criança. O Tempo é
senhor dos destinos, creio. Contudo, a história
não se escreve sozinha, ela é o resultado de
como conduzimos nossas vidas, muito embora
estejamos
habilitados a
escrever apenas
rascunhos, que
servem para compor
a versão mais ou
[30] menos final do livro
da vida (em certos
casos, o texto pode
ser reescrito, quase que integralmente).
Hoje é o dia em que celebro minha
[35] trigésima primavera. E enquanto recebo os
parabéns – inclusive de amigos distantes no
tempo e no espaço –, sinto que o Tempo já me
pesou menos. Com efeito, já lá se foram trinta
anos que comecei a morrer... E ainda me lembro
[40] do cheiro e do gosto de algumas coisas do
passado... Mas o passado passou. E o ruim
desse processo é que o tempo, inflexível, não
permite que recuemos na linha da vida até
aqueles momentos que tanto nos fizeram felizes.
[45] E, em trinta anos, quantas experiências
prazerosas eu tive...
Durante todos esses anos, eu cresci. O
mundo cresceu também. Aliás, tudo ficou maior.
É verdade que a experiência nos faz aumentar o
[50] tamanho das coisas que nos cercam. E o que
antes era pequeno, como era o nosso mundo,
assume proporções hercúleas. Por que mesmo
temos de ser responsáveis? Não seria bem mais
fácil se nossos pais sempre passassem à frente
[55] e, como há vinte, vinte e cinco anos, resolvessem
todos os problemas como sempre o fizeram, num
passe de mágica? E me fica a questão: é mesmo
imperativo que experimentemos a dor, o
desespero, as turbulências, enfim, a morte? Mas
[60] tudo isso estava lá, também.
De qualquer forma, hoje celebro trinta
anos de idade. Segundo o professor Narciso,
cheguei à metade da minha vida. De fato. De
fato. Nesse tempo, vi o mesmo de diversas
[65] formas. Conheci e continuo conhecendo muitas
coisas novas. Fui de um extremo ao outro dos
hemisférios do meu mundo. Eu mudei; tudo
mudou. E as previsões da infância não se
realizaram. Não casei aos vinte e cinco, não
[70] tenho (ainda?) nenhum dos quatro filhos que me
seriam destinados, não me tornei presidente nem
cantor. Aquelas previsões não foram bem
previstas. Contudo, preciso deixar claro: isso não
me frustra. Preciso dizer a todos: acho que sou
[75] muito bem sucedido. A emenda, se houve, saiu
bem melhor que o soneto. Preciso dizer, ainda: a
danada da consulta aos números lá dos idos
anos 80 não era capaz de prever aquilo que,
julgo, era mais fundamental, a saber, se o
[80] interessado seria ou não seria feliz, a despeito,
entre outros, de sua condição de rico, pobre ou
lascado. Mas eu posso afirmar, do alto dos meus
trinta bem vividos anos, que a felicidade tem-me
acompanhado ao longo de todos esses anos,
[85] razão por que me sinto, hoje, imensamente
realizado.
Os números erraram – graças a Deus!
__________
*Professor de Língua Portuguesa do IFAL, Campus
[90] Maceió
Assinale a alternativa condizente.
Texto
Crônica dos 30 anos
Fábio José dos Santos*
Na minha infância, havia uma
brincadeira através da qual, por meio de uma
espécie de numerologia pueril e leiga, era
possível descobrir, no presente dos oito ou nove
[5] anos, como seria o nosso futuro. Por meio dessa
consulta – séria, é bom deixar claro –, éramos
capazes de obter dados relacionados a áreas
diferentes da nossa vida. Era possível prever, por
exemplo, quando iríamos nos casar, qual seria
[10] nossa profissão, se seríamos ricos, pobres ou
lascados, e, ainda, quantos filhos teríamos.
Naquela época, contraí matrimônio aos vinte e
cinco, e tive três ou quatro filhos. Penso que
passei pelas três condições financeiras possíveis
[15] – comi caviar e degustei farinha seca. Ah, e
passei por várias profissões. (Não preciso dizer
que fiz a consulta mais de uma vez)
O fato é que, em geral, rejeitei, voluntária
ou involuntariamente, a série completa dos
[20] vaticínios que fiz quando criança. O Tempo é
senhor dos destinos, creio. Contudo, a história
não se escreve sozinha, ela é o resultado de
como conduzimos nossas vidas, muito embora
estejamos
habilitados a
escrever apenas
rascunhos, que
servem para compor
a versão mais ou
[30] menos final do livro
da vida (em certos
casos, o texto pode
ser reescrito, quase que integralmente).
Hoje é o dia em que celebro minha
[35] trigésima primavera. E enquanto recebo os
parabéns – inclusive de amigos distantes no
tempo e no espaço –, sinto que o Tempo já me
pesou menos. Com efeito, já lá se foram trinta
anos que comecei a morrer... E ainda me lembro
[40] do cheiro e do gosto de algumas coisas do
passado... Mas o passado passou. E o ruim
desse processo é que o tempo, inflexível, não
permite que recuemos na linha da vida até
aqueles momentos que tanto nos fizeram felizes.
[45] E, em trinta anos, quantas experiências
prazerosas eu tive...
Durante todos esses anos, eu cresci. O
mundo cresceu também. Aliás, tudo ficou maior.
É verdade que a experiência nos faz aumentar o
[50] tamanho das coisas que nos cercam. E o que
antes era pequeno, como era o nosso mundo,
assume proporções hercúleas. Por que mesmo
temos de ser responsáveis? Não seria bem mais
fácil se nossos pais sempre passassem à frente
[55] e, como há vinte, vinte e cinco anos, resolvessem
todos os problemas como sempre o fizeram, num
passe de mágica? E me fica a questão: é mesmo
imperativo que experimentemos a dor, o
desespero, as turbulências, enfim, a morte? Mas
[60] tudo isso estava lá, também.
De qualquer forma, hoje celebro trinta
anos de idade. Segundo o professor Narciso,
cheguei à metade da minha vida. De fato. De
fato. Nesse tempo, vi o mesmo de diversas
[65] formas. Conheci e continuo conhecendo muitas
coisas novas. Fui de um extremo ao outro dos
hemisférios do meu mundo. Eu mudei; tudo
mudou. E as previsões da infância não se
realizaram. Não casei aos vinte e cinco, não
[70] tenho (ainda?) nenhum dos quatro filhos que me
seriam destinados, não me tornei presidente nem
cantor. Aquelas previsões não foram bem
previstas. Contudo, preciso deixar claro: isso não
me frustra. Preciso dizer a todos: acho que sou
[75] muito bem sucedido. A emenda, se houve, saiu
bem melhor que o soneto. Preciso dizer, ainda: a
danada da consulta aos números lá dos idos
anos 80 não era capaz de prever aquilo que,
julgo, era mais fundamental, a saber, se o
[80] interessado seria ou não seria feliz, a despeito,
entre outros, de sua condição de rico, pobre ou
lascado. Mas eu posso afirmar, do alto dos meus
trinta bem vividos anos, que a felicidade tem-me
acompanhado ao longo de todos esses anos,
[85] razão por que me sinto, hoje, imensamente
realizado.
Os números erraram – graças a Deus!
__________
*Professor de Língua Portuguesa do IFAL, Campus
[90] Maceió
No texto apresentado, o professor Fábio explora vários recursos da língua portuguesa a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Em qual passagem isso não acontece?
Texto
Crônica dos 30 anos
Fábio José dos Santos*
Na minha infância, havia uma
brincadeira através da qual, por meio de uma
espécie de numerologia pueril e leiga, era
possível descobrir, no presente dos oito ou nove
[5] anos, como seria o nosso futuro. Por meio dessa
consulta – séria, é bom deixar claro –, éramos
capazes de obter dados relacionados a áreas
diferentes da nossa vida. Era possível prever, por
exemplo, quando iríamos nos casar, qual seria
[10] nossa profissão, se seríamos ricos, pobres ou
lascados, e, ainda, quantos filhos teríamos.
Naquela época, contraí matrimônio aos vinte e
cinco, e tive três ou quatro filhos. Penso que
passei pelas três condições financeiras possíveis
[15] – comi caviar e degustei farinha seca. Ah, e
passei por várias profissões. (Não preciso dizer
que fiz a consulta mais de uma vez)
O fato é que, em geral, rejeitei, voluntária
ou involuntariamente, a série completa dos
[20] vaticínios que fiz quando criança. O Tempo é
senhor dos destinos, creio. Contudo, a história
não se escreve sozinha, ela é o resultado de
como conduzimos nossas vidas, muito embora
estejamos
habilitados a
escrever apenas
rascunhos, que
servem para compor
a versão mais ou
[30] menos final do livro
da vida (em certos
casos, o texto pode
ser reescrito, quase que integralmente).
Hoje é o dia em que celebro minha
[35] trigésima primavera. E enquanto recebo os
parabéns – inclusive de amigos distantes no
tempo e no espaço –, sinto que o Tempo já me
pesou menos. Com efeito, já lá se foram trinta
anos que comecei a morrer... E ainda me lembro
[40] do cheiro e do gosto de algumas coisas do
passado... Mas o passado passou. E o ruim
desse processo é que o tempo, inflexível, não
permite que recuemos na linha da vida até
aqueles momentos que tanto nos fizeram felizes.
[45] E, em trinta anos, quantas experiências
prazerosas eu tive...
Durante todos esses anos, eu cresci. O
mundo cresceu também. Aliás, tudo ficou maior.
É verdade que a experiência nos faz aumentar o
[50] tamanho das coisas que nos cercam. E o que
antes era pequeno, como era o nosso mundo,
assume proporções hercúleas. Por que mesmo
temos de ser responsáveis? Não seria bem mais
fácil se nossos pais sempre passassem à frente
[55] e, como há vinte, vinte e cinco anos, resolvessem
todos os problemas como sempre o fizeram, num
passe de mágica? E me fica a questão: é mesmo
imperativo que experimentemos a dor, o
desespero, as turbulências, enfim, a morte? Mas
[60] tudo isso estava lá, também.
De qualquer forma, hoje celebro trinta
anos de idade. Segundo o professor Narciso,
cheguei à metade da minha vida. De fato. De
fato. Nesse tempo, vi o mesmo de diversas
[65] formas. Conheci e continuo conhecendo muitas
coisas novas. Fui de um extremo ao outro dos
hemisférios do meu mundo. Eu mudei; tudo
mudou. E as previsões da infância não se
realizaram. Não casei aos vinte e cinco, não
[70] tenho (ainda?) nenhum dos quatro filhos que me
seriam destinados, não me tornei presidente nem
cantor. Aquelas previsões não foram bem
previstas. Contudo, preciso deixar claro: isso não
me frustra. Preciso dizer a todos: acho que sou
[75] muito bem sucedido. A emenda, se houve, saiu
bem melhor que o soneto. Preciso dizer, ainda: a
danada da consulta aos números lá dos idos
anos 80 não era capaz de prever aquilo que,
julgo, era mais fundamental, a saber, se o
[80] interessado seria ou não seria feliz, a despeito,
entre outros, de sua condição de rico, pobre ou
lascado. Mas eu posso afirmar, do alto dos meus
trinta bem vividos anos, que a felicidade tem-me
acompanhado ao longo de todos esses anos,
[85] razão por que me sinto, hoje, imensamente
realizado.
Os números erraram – graças a Deus!
__________
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[90] Maceió
Para cada frase retirada do texto, uma outra foi posta ao lado como significado equivalente ou mais apropriado. Assinale a opção em que isso não ocorre.
Texto
Crônica dos 30 anos
Fábio José dos Santos*
Na minha infância, havia uma
brincadeira através da qual, por meio de uma
espécie de numerologia pueril e leiga, era
possível descobrir, no presente dos oito ou nove
[5] anos, como seria o nosso futuro. Por meio dessa
consulta – séria, é bom deixar claro –, éramos
capazes de obter dados relacionados a áreas
diferentes da nossa vida. Era possível prever, por
exemplo, quando iríamos nos casar, qual seria
[10] nossa profissão, se seríamos ricos, pobres ou
lascados, e, ainda, quantos filhos teríamos.
Naquela época, contraí matrimônio aos vinte e
cinco, e tive três ou quatro filhos. Penso que
passei pelas três condições financeiras possíveis
[15] – comi caviar e degustei farinha seca. Ah, e
passei por várias profissões. (Não preciso dizer
que fiz a consulta mais de uma vez)
O fato é que, em geral, rejeitei, voluntária
ou involuntariamente, a série completa dos
[20] vaticínios que fiz quando criança. O Tempo é
senhor dos destinos, creio. Contudo, a história
não se escreve sozinha, ela é o resultado de
como conduzimos nossas vidas, muito embora
estejamos
habilitados a
escrever apenas
rascunhos, que
servem para compor
a versão mais ou
[30] menos final do livro
da vida (em certos
casos, o texto pode
ser reescrito, quase que integralmente).
Hoje é o dia em que celebro minha
[35] trigésima primavera. E enquanto recebo os
parabéns – inclusive de amigos distantes no
tempo e no espaço –, sinto que o Tempo já me
pesou menos. Com efeito, já lá se foram trinta
anos que comecei a morrer... E ainda me lembro
[40] do cheiro e do gosto de algumas coisas do
passado... Mas o passado passou. E o ruim
desse processo é que o tempo, inflexível, não
permite que recuemos na linha da vida até
aqueles momentos que tanto nos fizeram felizes.
[45] E, em trinta anos, quantas experiências
prazerosas eu tive...
Durante todos esses anos, eu cresci. O
mundo cresceu também. Aliás, tudo ficou maior.
É verdade que a experiência nos faz aumentar o
[50] tamanho das coisas que nos cercam. E o que
antes era pequeno, como era o nosso mundo,
assume proporções hercúleas. Por que mesmo
temos de ser responsáveis? Não seria bem mais
fácil se nossos pais sempre passassem à frente
[55] e, como há vinte, vinte e cinco anos, resolvessem
todos os problemas como sempre o fizeram, num
passe de mágica? E me fica a questão: é mesmo
imperativo que experimentemos a dor, o
desespero, as turbulências, enfim, a morte? Mas
[60] tudo isso estava lá, também.
De qualquer forma, hoje celebro trinta
anos de idade. Segundo o professor Narciso,
cheguei à metade da minha vida. De fato. De
fato. Nesse tempo, vi o mesmo de diversas
[65] formas. Conheci e continuo conhecendo muitas
coisas novas. Fui de um extremo ao outro dos
hemisférios do meu mundo. Eu mudei; tudo
mudou. E as previsões da infância não se
realizaram. Não casei aos vinte e cinco, não
[70] tenho (ainda?) nenhum dos quatro filhos que me
seriam destinados, não me tornei presidente nem
cantor. Aquelas previsões não foram bem
previstas. Contudo, preciso deixar claro: isso não
me frustra. Preciso dizer a todos: acho que sou
[75] muito bem sucedido. A emenda, se houve, saiu
bem melhor que o soneto. Preciso dizer, ainda: a
danada da consulta aos números lá dos idos
anos 80 não era capaz de prever aquilo que,
julgo, era mais fundamental, a saber, se o
[80] interessado seria ou não seria feliz, a despeito,
entre outros, de sua condição de rico, pobre ou
lascado. Mas eu posso afirmar, do alto dos meus
trinta bem vividos anos, que a felicidade tem-me
acompanhado ao longo de todos esses anos,
[85] razão por que me sinto, hoje, imensamente
realizado.
Os números erraram – graças a Deus!
__________
*Professor de Língua Portuguesa do IFAL, Campus
[90] Maceió
Em “O Tempo é senhor dos destinos, creio.”, temos, dentro dos aspectos morfossintáticos, condições de afirmar que
Texto
Crônica dos 30 anos
Fábio José dos Santos*
Na minha infância, havia uma
brincadeira através da qual, por meio de uma
espécie de numerologia pueril e leiga, era
possível descobrir, no presente dos oito ou nove
[5] anos, como seria o nosso futuro. Por meio dessa
consulta – séria, é bom deixar claro –, éramos
capazes de obter dados relacionados a áreas
diferentes da nossa vida. Era possível prever, por
exemplo, quando iríamos nos casar, qual seria
[10] nossa profissão, se seríamos ricos, pobres ou
lascados, e, ainda, quantos filhos teríamos.
Naquela época, contraí matrimônio aos vinte e
cinco, e tive três ou quatro filhos. Penso que
passei pelas três condições financeiras possíveis
[15] – comi caviar e degustei farinha seca. Ah, e
passei por várias profissões. (Não preciso dizer
que fiz a consulta mais de uma vez)
O fato é que, em geral, rejeitei, voluntária
ou involuntariamente, a série completa dos
[20] vaticínios que fiz quando criança. O Tempo é
senhor dos destinos, creio. Contudo, a história
não se escreve sozinha, ela é o resultado de
como conduzimos nossas vidas, muito embora
estejamos
habilitados a
escrever apenas
rascunhos, que
servem para compor
a versão mais ou
[30] menos final do livro
da vida (em certos
casos, o texto pode
ser reescrito, quase que integralmente).
Hoje é o dia em que celebro minha
[35] trigésima primavera. E enquanto recebo os
parabéns – inclusive de amigos distantes no
tempo e no espaço –, sinto que o Tempo já me
pesou menos. Com efeito, já lá se foram trinta
anos que comecei a morrer... E ainda me lembro
[40] do cheiro e do gosto de algumas coisas do
passado... Mas o passado passou. E o ruim
desse processo é que o tempo, inflexível, não
permite que recuemos na linha da vida até
aqueles momentos que tanto nos fizeram felizes.
[45] E, em trinta anos, quantas experiências
prazerosas eu tive...
Durante todos esses anos, eu cresci. O
mundo cresceu também. Aliás, tudo ficou maior.
É verdade que a experiência nos faz aumentar o
[50] tamanho das coisas que nos cercam. E o que
antes era pequeno, como era o nosso mundo,
assume proporções hercúleas. Por que mesmo
temos de ser responsáveis? Não seria bem mais
fácil se nossos pais sempre passassem à frente
[55] e, como há vinte, vinte e cinco anos, resolvessem
todos os problemas como sempre o fizeram, num
passe de mágica? E me fica a questão: é mesmo
imperativo que experimentemos a dor, o
desespero, as turbulências, enfim, a morte? Mas
[60] tudo isso estava lá, também.
De qualquer forma, hoje celebro trinta
anos de idade. Segundo o professor Narciso,
cheguei à metade da minha vida. De fato. De
fato. Nesse tempo, vi o mesmo de diversas
[65] formas. Conheci e continuo conhecendo muitas
coisas novas. Fui de um extremo ao outro dos
hemisférios do meu mundo. Eu mudei; tudo
mudou. E as previsões da infância não se
realizaram. Não casei aos vinte e cinco, não
[70] tenho (ainda?) nenhum dos quatro filhos que me
seriam destinados, não me tornei presidente nem
cantor. Aquelas previsões não foram bem
previstas. Contudo, preciso deixar claro: isso não
me frustra. Preciso dizer a todos: acho que sou
[75] muito bem sucedido. A emenda, se houve, saiu
bem melhor que o soneto. Preciso dizer, ainda: a
danada da consulta aos números lá dos idos
anos 80 não era capaz de prever aquilo que,
julgo, era mais fundamental, a saber, se o
[80] interessado seria ou não seria feliz, a despeito,
entre outros, de sua condição de rico, pobre ou
lascado. Mas eu posso afirmar, do alto dos meus
trinta bem vividos anos, que a felicidade tem-me
acompanhado ao longo de todos esses anos,
[85] razão por que me sinto, hoje, imensamente
realizado.
Os números erraram – graças a Deus!
__________
*Professor de Língua Portuguesa do IFAL, Campus
[90] Maceió
Observe as seguintes palavras retiradas da crônica: PUERIL, VATICÍNIOS, PRIMAVERA, HERCÚLEAS, HEMISFÉRIOS e EMENDA. Qual, das opções a seguir, corresponde, respectivamente, aos seus sinônimos, de acordo com o contexto em que foram utilizadas?