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TEXTO
Cuidados Paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento.
Em breve, quando for possível olhar para a pandemia do coronavírus e enxergar algum aprendizado promovido pela reviravolta na ordem mundial, um ramo relativamente novo da medicina estará contabilizado na lista de progressos: os cuidados paliativos. A área pode ser definida como um tratamento multiprofissional, que visa à melhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves que necessitam de conforto físico, psicológico, espiritual e social.
Os cuidados paliativos são o caminho quando não há perspectiva de cura e manter o bem-estar do paciente, com o máximo de independência possível e sem dor, é o que mais importa. [...]
Essa especialidade, que envolve médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais, ganha terreno e representatividade, tanto devido ao aumento da expectativa de vida da população como por conta do progresso da medicina, que proporciona maior tempo de vida àqueles com doenças crônicas — problemas cardiovasculares e pulmonares, distúrbios neurológicos, tumores, entre outras.
Com a Covid-19 fomos colocados frente a frente com a mortalidade e a fragilidade da vida (incluindo a nossa), o que gerou reflexão e talvez tenha acelerado o processo de entendimento sobre a importância dos cuidados paliativos, que já são recomendados por várias sociedades médicas, contemplando o controle dos sintomas, o trabalho em equipe, a incorporação dos valores do paciente e a boa comunicação entre os profissionais e as famílias como parte essencial do plano de tratamento.
Infelizmente, na realidade do sistema de saúde atual, quem deveria ter acesso aos cuidados paliativos acaba buscando atendimento de emergência em hospitais. E isso acontece diariamente. Existem dados que sugerem que até um terço das mortes que acontecem no pronto-atendimento são esperadas por serem consequência de uma doença grave em fase avançada.
Portanto, existe um grupo identificável que merece uma abordagem diferenciada, mas não tem acesso a ela. Falamos de pessoas com insuficiência cardíaca grave e demências avançadas, entre outras patologias críticas, que chegam ao hospital com sintomas descontrolados e em grande sofrimento, sem consciência da gravidade da situação e sem nunca terem visto um médico de cuidados paliativos antes.
Aprendemos a medicina como ciência binária. Doença é igual a tratamento: pneumonia pressupõe antibiótico; insuficiência respiratória, intubação. A pessoa e sua individualidade parecem não fazer parte da equação. Somos treinados a intubar, mas não a avaliar os benefícios da intubação para um paciente de 90 anos, com um quadro clínico severo. O que esperar de uma terapia com antibióticos para aqueles em fase final? Ela melhora de fato os sintomas? Estou trazendo algum benefício ao transfundir? Hidratar?
São respostas a essas perguntas que as equipes de pronto-atendimento, emergência e terapia intensiva precisam buscar, sem perder o foco da subjetividade porque o melhor para um pode não ser o melhor para o outro, mesmo com igual diagnóstico. Cada um sente e reage de maneira distinta. Vejamos um exemplo: a esclerose lateral amiotrófica é uma doença que, com a progressão, pode submeter os acometidos a ficarem presos a um respirador até o fim da vida. Para alguns, essa dependência é pior do que a morte, enquanto outros se adaptam e relatam conformidade. A conclusão é que não há como fazer uma boa medicina sem saber quem é quem.
Quem é aquele paciente cujo diagnóstico é tão grave? É uma pessoa religiosa? Independente? Tem filhos? Quais são suas preocupações diante do fim inevitável? O que é prioridade para ele a partir daquele momento? O que é importante preservar? O que traz paz? Os cuidados paliativos têm uma premissa: conhecer ao máximo a pessoa, mesmo com todas as dificuldades que a situação impõe, para dispensar cuidados de forma efetiva e beneficente.
Profissionais de saúde devem saber avaliar a capacidade de decisão do doente, interpretar o que falam ou apurar junto aos familiares como o paciente gostaria de ser tratado diante do quadro clínico – se ele pudesse falar, como se manifestaria a respeito? Porque, mesmo quando essa pessoa não pode decidir, o foco ainda é ela. Seus valores devem ser levados em conta na tomada de decisão.
[...] os cuidados paliativos humanizam a medicina e a relação médico-paciente na medida em que colocam de lado a obsessão pela cura e deixam emergir o foco na pessoa. Nem sempre, porém, isso significa adotar medidas prolongadoras de vida. Em contrapartida, certos procedimentos invasivos podem até não fazer muito sentido para o médico diante de um diagnóstico. Mas, quando há chance de sucesso para fazer com que um paciente viva mais seis meses e consiga seu objetivo de conhecer um neto que vai nascer (mesmo encarando eventuais desconfortos para chegar lá), esses métodos devem ser considerados.
O olhar do profissional de saúde deve considerar o paciente de forma multidimensional porque seu sofrimento não se resume à dor física. Quando se descobre uma doença grave, além da agonia relacionada ao diagnóstico, existem outros padecimentos, como a perda do papel social e o medo de não ser mais capaz de sustentar a família, por exemplo. Da mesma forma, a amputação de uma perna ou braço irá gerar uma necessidade de readaptação que transcende o aspecto motor, com muito peso psicológico envolvido.
Caberá aos profissionais estarem devidamente preparados para identificar e acolher todas essas aflições, intervir para aliviá-las da melhor forma e, quando chegar o momento, identificar que o fim está próximo, reconhecer situações de refratariedade, fazer um excelente controle de sintomas e não prolongar de forma fútil o processo de morte. [...]
[...] os cuidados paliativos são a ciência do detalhe. Uma mistura precisa de técnica e humanidade. Mas essa matéria a faculdade raramente ensina. Infelizmente, em muitas situações, ainda compete a quem abraçou a causa buscar capacitação para aprender a usar todas as ferramentas disponíveis da especialidade. O contraponto é muito compensador: ouvir o paciente, compreendêlo e fazer o melhor para aliviar suas dores físicas e emocionais nos reconecta com a nossa opção pela medicina e traz a satisfação de exercermos o nosso melhor como profissionais de saúde e como seres humanos.
(RIBEIRO, Sabrina Corrêa da Costa, Cuidados paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento. https://saude.abril.com.br/blog/com- apalavra/cuidados-paliativos-um-jeito-hum ano-de-assistir-o-paciente-em-sofrimento/)
No título do texto, “Cuidados paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento”, a estrutura em destaque
TEXTO
Cuidados Paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento.
Em breve, quando for possível olhar para a pandemia do coronavírus e enxergar algum aprendizado promovido pela reviravolta na ordem mundial, um ramo relativamente novo da medicina estará contabilizado na lista de progressos: os cuidados paliativos. A área pode ser definida como um tratamento multiprofissional, que visa à melhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves que necessitam de conforto físico, psicológico, espiritual e social.
Os cuidados paliativos são o caminho quando não há perspectiva de cura e manter o bem-estar do paciente, com o máximo de independência possível e sem dor, é o que mais importa. [...]
Essa especialidade, que envolve médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais, ganha terreno e representatividade, tanto devido ao aumento da expectativa de vida da população como por conta do progresso da medicina, que proporciona maior tempo de vida àqueles com doenças crônicas — problemas cardiovasculares e pulmonares, distúrbios neurológicos, tumores, entre outras.
Com a Covid-19 fomos colocados frente a frente com a mortalidade e a fragilidade da vida (incluindo a nossa), o que gerou reflexão e talvez tenha acelerado o processo de entendimento sobre a importância dos cuidados paliativos, que já são recomendados por várias sociedades médicas, contemplando o controle dos sintomas, o trabalho em equipe, a incorporação dos valores do paciente e a boa comunicação entre os profissionais e as famílias como parte essencial do plano de tratamento.
Infelizmente, na realidade do sistema de saúde atual, quem deveria ter acesso aos cuidados paliativos acaba buscando atendimento de emergência em hospitais. E isso acontece diariamente. Existem dados que sugerem que até um terço das mortes que acontecem no pronto-atendimento são esperadas por serem consequência de uma doença grave em fase avançada.
Portanto, existe um grupo identificável que merece uma abordagem diferenciada, mas não tem acesso a ela. Falamos de pessoas com insuficiência cardíaca grave e demências avançadas, entre outras patologias críticas, que chegam ao hospital com sintomas descontrolados e em grande sofrimento, sem consciência da gravidade da situação e sem nunca terem visto um médico de cuidados paliativos antes.
Aprendemos a medicina como ciência binária. Doença é igual a tratamento: pneumonia pressupõe antibiótico; insuficiência respiratória, intubação. A pessoa e sua individualidade parecem não fazer parte da equação. Somos treinados a intubar, mas não a avaliar os benefícios da intubação para um paciente de 90 anos, com um quadro clínico severo. O que esperar de uma terapia com antibióticos para aqueles em fase final? Ela melhora de fato os sintomas? Estou trazendo algum benefício ao transfundir? Hidratar?
São respostas a essas perguntas que as equipes de pronto-atendimento, emergência e terapia intensiva precisam buscar, sem perder o foco da subjetividade porque o melhor para um pode não ser o melhor para o outro, mesmo com igual diagnóstico. Cada um sente e reage de maneira distinta. Vejamos um exemplo: a esclerose lateral amiotrófica é uma doença que, com a progressão, pode submeter os acometidos a ficarem presos a um respirador até o fim da vida. Para alguns, essa dependência é pior do que a morte, enquanto outros se adaptam e relatam conformidade. A conclusão é que não há como fazer uma boa medicina sem saber quem é quem.
Quem é aquele paciente cujo diagnóstico é tão grave? É uma pessoa religiosa? Independente? Tem filhos? Quais são suas preocupações diante do fim inevitável? O que é prioridade para ele a partir daquele momento? O que é importante preservar? O que traz paz? Os cuidados paliativos têm uma premissa: conhecer ao máximo a pessoa, mesmo com todas as dificuldades que a situação impõe, para dispensar cuidados de forma efetiva e beneficente.
Profissionais de saúde devem saber avaliar a capacidade de decisão do doente, interpretar o que falam ou apurar junto aos familiares como o paciente gostaria de ser tratado diante do quadro clínico – se ele pudesse falar, como se manifestaria a respeito? Porque, mesmo quando essa pessoa não pode decidir, o foco ainda é ela. Seus valores devem ser levados em conta na tomada de decisão.
[...] os cuidados paliativos humanizam a medicina e a relação médico-paciente na medida em que colocam de lado a obsessão pela cura e deixam emergir o foco na pessoa. Nem sempre, porém, isso significa adotar medidas prolongadoras de vida. Em contrapartida, certos procedimentos invasivos podem até não fazer muito sentido para o médico diante de um diagnóstico. Mas, quando há chance de sucesso para fazer com que um paciente viva mais seis meses e consiga seu objetivo de conhecer um neto que vai nascer (mesmo encarando eventuais desconfortos para chegar lá), esses métodos devem ser considerados.
O olhar do profissional de saúde deve considerar o paciente de forma multidimensional porque seu sofrimento não se resume à dor física. Quando se descobre uma doença grave, além da agonia relacionada ao diagnóstico, existem outros padecimentos, como a perda do papel social e o medo de não ser mais capaz de sustentar a família, por exemplo. Da mesma forma, a amputação de uma perna ou braço irá gerar uma necessidade de readaptação que transcende o aspecto motor, com muito peso psicológico envolvido.
Caberá aos profissionais estarem devidamente preparados para identificar e acolher todas essas aflições, intervir para aliviá-las da melhor forma e, quando chegar o momento, identificar que o fim está próximo, reconhecer situações de refratariedade, fazer um excelente controle de sintomas e não prolongar de forma fútil o processo de morte. [...]
[...] os cuidados paliativos são a ciência do detalhe. Uma mistura precisa de técnica e humanidade. Mas essa matéria a faculdade raramente ensina. Infelizmente, em muitas situações, ainda compete a quem abraçou a causa buscar capacitação para aprender a usar todas as ferramentas disponíveis da especialidade. O contraponto é muito compensador: ouvir o paciente, compreendêlo e fazer o melhor para aliviar suas dores físicas e emocionais nos reconecta com a nossa opção pela medicina e traz a satisfação de exercermos o nosso melhor como profissionais de saúde e como seres humanos.
(RIBEIRO, Sabrina Corrêa da Costa, Cuidados paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento. https://saude.abril.com.br/blog/com- apalavra/cuidados-paliativos-um-jeito-hum ano-de-assistir-o-paciente-em-sofrimento/)
A partir do fragmento “Em breve, quando for possível olhar para a pandemia do coronavírus e enxergar algum aprendizado promovido pela reviravolta na ordem mundial, um ramo relativamente novo da medicina estará contabilizado na lista de progressos: os cuidados paliativos”, pode-se inferir que
TEXTO
Cuidados Paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento.
Em breve, quando for possível olhar para a pandemia do coronavírus e enxergar algum aprendizado promovido pela reviravolta na ordem mundial, um ramo relativamente novo da medicina estará contabilizado na lista de progressos: os cuidados paliativos. A área pode ser definida como um tratamento multiprofissional, que visa à melhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves que necessitam de conforto físico, psicológico, espiritual e social.
Os cuidados paliativos são o caminho quando não há perspectiva de cura e manter o bem-estar do paciente, com o máximo de independência possível e sem dor, é o que mais importa. [...]
Essa especialidade, que envolve médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais, ganha terreno e representatividade, tanto devido ao aumento da expectativa de vida da população como por conta do progresso da medicina, que proporciona maior tempo de vida àqueles com doenças crônicas — problemas cardiovasculares e pulmonares, distúrbios neurológicos, tumores, entre outras.
Com a Covid-19 fomos colocados frente a frente com a mortalidade e a fragilidade da vida (incluindo a nossa), o que gerou reflexão e talvez tenha acelerado o processo de entendimento sobre a importância dos cuidados paliativos, que já são recomendados por várias sociedades médicas, contemplando o controle dos sintomas, o trabalho em equipe, a incorporação dos valores do paciente e a boa comunicação entre os profissionais e as famílias como parte essencial do plano de tratamento.
Infelizmente, na realidade do sistema de saúde atual, quem deveria ter acesso aos cuidados paliativos acaba buscando atendimento de emergência em hospitais. E isso acontece diariamente. Existem dados que sugerem que até um terço das mortes que acontecem no pronto-atendimento são esperadas por serem consequência de uma doença grave em fase avançada.
Portanto, existe um grupo identificável que merece uma abordagem diferenciada, mas não tem acesso a ela. Falamos de pessoas com insuficiência cardíaca grave e demências avançadas, entre outras patologias críticas, que chegam ao hospital com sintomas descontrolados e em grande sofrimento, sem consciência da gravidade da situação e sem nunca terem visto um médico de cuidados paliativos antes.
Aprendemos a medicina como ciência binária. Doença é igual a tratamento: pneumonia pressupõe antibiótico; insuficiência respiratória, intubação. A pessoa e sua individualidade parecem não fazer parte da equação. Somos treinados a intubar, mas não a avaliar os benefícios da intubação para um paciente de 90 anos, com um quadro clínico severo. O que esperar de uma terapia com antibióticos para aqueles em fase final? Ela melhora de fato os sintomas? Estou trazendo algum benefício ao transfundir? Hidratar?
São respostas a essas perguntas que as equipes de pronto-atendimento, emergência e terapia intensiva precisam buscar, sem perder o foco da subjetividade porque o melhor para um pode não ser o melhor para o outro, mesmo com igual diagnóstico. Cada um sente e reage de maneira distinta. Vejamos um exemplo: a esclerose lateral amiotrófica é uma doença que, com a progressão, pode submeter os acometidos a ficarem presos a um respirador até o fim da vida. Para alguns, essa dependência é pior do que a morte, enquanto outros se adaptam e relatam conformidade. A conclusão é que não há como fazer uma boa medicina sem saber quem é quem.
Quem é aquele paciente cujo diagnóstico é tão grave? É uma pessoa religiosa? Independente? Tem filhos? Quais são suas preocupações diante do fim inevitável? O que é prioridade para ele a partir daquele momento? O que é importante preservar? O que traz paz? Os cuidados paliativos têm uma premissa: conhecer ao máximo a pessoa, mesmo com todas as dificuldades que a situação impõe, para dispensar cuidados de forma efetiva e beneficente.
Profissionais de saúde devem saber avaliar a capacidade de decisão do doente, interpretar o que falam ou apurar junto aos familiares como o paciente gostaria de ser tratado diante do quadro clínico – se ele pudesse falar, como se manifestaria a respeito? Porque, mesmo quando essa pessoa não pode decidir, o foco ainda é ela. Seus valores devem ser levados em conta na tomada de decisão.
[...] os cuidados paliativos humanizam a medicina e a relação médico-paciente na medida em que colocam de lado a obsessão pela cura e deixam emergir o foco na pessoa. Nem sempre, porém, isso significa adotar medidas prolongadoras de vida. Em contrapartida, certos procedimentos invasivos podem até não fazer muito sentido para o médico diante de um diagnóstico. Mas, quando há chance de sucesso para fazer com que um paciente viva mais seis meses e consiga seu objetivo de conhecer um neto que vai nascer (mesmo encarando eventuais desconfortos para chegar lá), esses métodos devem ser considerados.
O olhar do profissional de saúde deve considerar o paciente de forma multidimensional porque seu sofrimento não se resume à dor física. Quando se descobre uma doença grave, além da agonia relacionada ao diagnóstico, existem outros padecimentos, como a perda do papel social e o medo de não ser mais capaz de sustentar a família, por exemplo. Da mesma forma, a amputação de uma perna ou braço irá gerar uma necessidade de readaptação que transcende o aspecto motor, com muito peso psicológico envolvido.
Caberá aos profissionais estarem devidamente preparados para identificar e acolher todas essas aflições, intervir para aliviá-las da melhor forma e, quando chegar o momento, identificar que o fim está próximo, reconhecer situações de refratariedade, fazer um excelente controle de sintomas e não prolongar de forma fútil o processo de morte. [...]
[...] os cuidados paliativos são a ciência do detalhe. Uma mistura precisa de técnica e humanidade. Mas essa matéria a faculdade raramente ensina. Infelizmente, em muitas situações, ainda compete a quem abraçou a causa buscar capacitação para aprender a usar todas as ferramentas disponíveis da especialidade. O contraponto é muito compensador: ouvir o paciente, compreendêlo e fazer o melhor para aliviar suas dores físicas e emocionais nos reconecta com a nossa opção pela medicina e traz a satisfação de exercermos o nosso melhor como profissionais de saúde e como seres humanos.
(RIBEIRO, Sabrina Corrêa da Costa, Cuidados paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento. https://saude.abril.com.br/blog/com- apalavra/cuidados-paliativos-um-jeito-hum ano-de-assistir-o-paciente-em-sofrimento/)
Considere:
“Quem é aquele paciente cujo diagnóstico é tão grave? É uma pessoa religiosa? Independente? Tem filhos? Quais são suas preocupações diante do fim inevitável? O que é prioridade para ele a partir daquele momento? O que é importante preservar? O que traz paz? Os cuidados paliativos têm uma premissa: conhecer ao máximo a pessoa, mesmo com todas as dificuldades que a situação impõe, para dispensar cuidados de forma efetiva e beneficente.”
As frases interrogativas existentes no fragmento acima sugerem que
TEXTO
Cuidados Paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento.
Em breve, quando for possível olhar para a pandemia do coronavírus e enxergar algum aprendizado promovido pela reviravolta na ordem mundial, um ramo relativamente novo da medicina estará contabilizado na lista de progressos: os cuidados paliativos. A área pode ser definida como um tratamento multiprofissional, que visa à melhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves que necessitam de conforto físico, psicológico, espiritual e social.
Os cuidados paliativos são o caminho quando não há perspectiva de cura e manter o bem-estar do paciente, com o máximo de independência possível e sem dor, é o que mais importa. [...]
Essa especialidade, que envolve médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais, ganha terreno e representatividade, tanto devido ao aumento da expectativa de vida da população como por conta do progresso da medicina, que proporciona maior tempo de vida àqueles com doenças crônicas — problemas cardiovasculares e pulmonares, distúrbios neurológicos, tumores, entre outras.
Com a Covid-19 fomos colocados frente a frente com a mortalidade e a fragilidade da vida (incluindo a nossa), o que gerou reflexão e talvez tenha acelerado o processo de entendimento sobre a importância dos cuidados paliativos, que já são recomendados por várias sociedades médicas, contemplando o controle dos sintomas, o trabalho em equipe, a incorporação dos valores do paciente e a boa comunicação entre os profissionais e as famílias como parte essencial do plano de tratamento.
Infelizmente, na realidade do sistema de saúde atual, quem deveria ter acesso aos cuidados paliativos acaba buscando atendimento de emergência em hospitais. E isso acontece diariamente. Existem dados que sugerem que até um terço das mortes que acontecem no pronto-atendimento são esperadas por serem consequência de uma doença grave em fase avançada.
Portanto, existe um grupo identificável que merece uma abordagem diferenciada, mas não tem acesso a ela. Falamos de pessoas com insuficiência cardíaca grave e demências avançadas, entre outras patologias críticas, que chegam ao hospital com sintomas descontrolados e em grande sofrimento, sem consciência da gravidade da situação e sem nunca terem visto um médico de cuidados paliativos antes.
Aprendemos a medicina como ciência binária. Doença é igual a tratamento: pneumonia pressupõe antibiótico; insuficiência respiratória, intubação. A pessoa e sua individualidade parecem não fazer parte da equação. Somos treinados a intubar, mas não a avaliar os benefícios da intubação para um paciente de 90 anos, com um quadro clínico severo. O que esperar de uma terapia com antibióticos para aqueles em fase final? Ela melhora de fato os sintomas? Estou trazendo algum benefício ao transfundir? Hidratar?
São respostas a essas perguntas que as equipes de pronto-atendimento, emergência e terapia intensiva precisam buscar, sem perder o foco da subjetividade porque o melhor para um pode não ser o melhor para o outro, mesmo com igual diagnóstico. Cada um sente e reage de maneira distinta. Vejamos um exemplo: a esclerose lateral amiotrófica é uma doença que, com a progressão, pode submeter os acometidos a ficarem presos a um respirador até o fim da vida. Para alguns, essa dependência é pior do que a morte, enquanto outros se adaptam e relatam conformidade. A conclusão é que não há como fazer uma boa medicina sem saber quem é quem.
Quem é aquele paciente cujo diagnóstico é tão grave? É uma pessoa religiosa? Independente? Tem filhos? Quais são suas preocupações diante do fim inevitável? O que é prioridade para ele a partir daquele momento? O que é importante preservar? O que traz paz? Os cuidados paliativos têm uma premissa: conhecer ao máximo a pessoa, mesmo com todas as dificuldades que a situação impõe, para dispensar cuidados de forma efetiva e beneficente.
Profissionais de saúde devem saber avaliar a capacidade de decisão do doente, interpretar o que falam ou apurar junto aos familiares como o paciente gostaria de ser tratado diante do quadro clínico – se ele pudesse falar, como se manifestaria a respeito? Porque, mesmo quando essa pessoa não pode decidir, o foco ainda é ela. Seus valores devem ser levados em conta na tomada de decisão.
[...] os cuidados paliativos humanizam a medicina e a relação médico-paciente na medida em que colocam de lado a obsessão pela cura e deixam emergir o foco na pessoa. Nem sempre, porém, isso significa adotar medidas prolongadoras de vida. Em contrapartida, certos procedimentos invasivos podem até não fazer muito sentido para o médico diante de um diagnóstico. Mas, quando há chance de sucesso para fazer com que um paciente viva mais seis meses e consiga seu objetivo de conhecer um neto que vai nascer (mesmo encarando eventuais desconfortos para chegar lá), esses métodos devem ser considerados.
O olhar do profissional de saúde deve considerar o paciente de forma multidimensional porque seu sofrimento não se resume à dor física. Quando se descobre uma doença grave, além da agonia relacionada ao diagnóstico, existem outros padecimentos, como a perda do papel social e o medo de não ser mais capaz de sustentar a família, por exemplo. Da mesma forma, a amputação de uma perna ou braço irá gerar uma necessidade de readaptação que transcende o aspecto motor, com muito peso psicológico envolvido.
Caberá aos profissionais estarem devidamente preparados para identificar e acolher todas essas aflições, intervir para aliviá-las da melhor forma e, quando chegar o momento, identificar que o fim está próximo, reconhecer situações de refratariedade, fazer um excelente controle de sintomas e não prolongar de forma fútil o processo de morte. [...]
[...] os cuidados paliativos são a ciência do detalhe. Uma mistura precisa de técnica e humanidade. Mas essa matéria a faculdade raramente ensina. Infelizmente, em muitas situações, ainda compete a quem abraçou a causa buscar capacitação para aprender a usar todas as ferramentas disponíveis da especialidade. O contraponto é muito compensador: ouvir o paciente, compreendêlo e fazer o melhor para aliviar suas dores físicas e emocionais nos reconecta com a nossa opção pela medicina e traz a satisfação de exercermos o nosso melhor como profissionais de saúde e como seres humanos.
(RIBEIRO, Sabrina Corrêa da Costa, Cuidados paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento. https://saude.abril.com.br/blog/com- apalavra/cuidados-paliativos-um-jeito-hum ano-de-assistir-o-paciente-em-sofrimento/)
No fragmento “Vejamos um exemplo: a esclerose lateral amiotrófica é uma doença que, com a progressão, pode submeter os acometidos a ficarem presos a um respirador até o fim da vida. Para alguns, essa dependência é pior do que a morte, enquanto outros se adaptam e relatam conformidade”, o exemplo citado é um recurso argumentativo que
I. traz uma informação concreta extraída da realidade.
II. reforça o aspecto teórico do texto.
III. traduz uma ideia de contestação.
IV. influencia no importante papel de convencer o leitor.
V. reitera a ideia de que cada um sente e reage de maneira distinta.
Está(ão) correta(s) apenas:
TEXTO
Cuidados Paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento.
Em breve, quando for possível olhar para a pandemia do coronavírus e enxergar algum aprendizado promovido pela reviravolta na ordem mundial, um ramo relativamente novo da medicina estará contabilizado na lista de progressos: os cuidados paliativos. A área pode ser definida como um tratamento multiprofissional, que visa à melhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves que necessitam de conforto físico, psicológico, espiritual e social.
Os cuidados paliativos são o caminho quando não há perspectiva de cura e manter o bem-estar do paciente, com o máximo de independência possível e sem dor, é o que mais importa. [...]
Essa especialidade, que envolve médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais, ganha terreno e representatividade, tanto devido ao aumento da expectativa de vida da população como por conta do progresso da medicina, que proporciona maior tempo de vida àqueles com doenças crônicas — problemas cardiovasculares e pulmonares, distúrbios neurológicos, tumores, entre outras.
Com a Covid-19 fomos colocados frente a frente com a mortalidade e a fragilidade da vida (incluindo a nossa), o que gerou reflexão e talvez tenha acelerado o processo de entendimento sobre a importância dos cuidados paliativos, que já são recomendados por várias sociedades médicas, contemplando o controle dos sintomas, o trabalho em equipe, a incorporação dos valores do paciente e a boa comunicação entre os profissionais e as famílias como parte essencial do plano de tratamento.
Infelizmente, na realidade do sistema de saúde atual, quem deveria ter acesso aos cuidados paliativos acaba buscando atendimento de emergência em hospitais. E isso acontece diariamente. Existem dados que sugerem que até um terço das mortes que acontecem no pronto-atendimento são esperadas por serem consequência de uma doença grave em fase avançada.
Portanto, existe um grupo identificável que merece uma abordagem diferenciada, mas não tem acesso a ela. Falamos de pessoas com insuficiência cardíaca grave e demências avançadas, entre outras patologias críticas, que chegam ao hospital com sintomas descontrolados e em grande sofrimento, sem consciência da gravidade da situação e sem nunca terem visto um médico de cuidados paliativos antes.
Aprendemos a medicina como ciência binária. Doença é igual a tratamento: pneumonia pressupõe antibiótico; insuficiência respiratória, intubação. A pessoa e sua individualidade parecem não fazer parte da equação. Somos treinados a intubar, mas não a avaliar os benefícios da intubação para um paciente de 90 anos, com um quadro clínico severo. O que esperar de uma terapia com antibióticos para aqueles em fase final? Ela melhora de fato os sintomas? Estou trazendo algum benefício ao transfundir? Hidratar?
São respostas a essas perguntas que as equipes de pronto-atendimento, emergência e terapia intensiva precisam buscar, sem perder o foco da subjetividade porque o melhor para um pode não ser o melhor para o outro, mesmo com igual diagnóstico. Cada um sente e reage de maneira distinta. Vejamos um exemplo: a esclerose lateral amiotrófica é uma doença que, com a progressão, pode submeter os acometidos a ficarem presos a um respirador até o fim da vida. Para alguns, essa dependência é pior do que a morte, enquanto outros se adaptam e relatam conformidade. A conclusão é que não há como fazer uma boa medicina sem saber quem é quem.
Quem é aquele paciente cujo diagnóstico é tão grave? É uma pessoa religiosa? Independente? Tem filhos? Quais são suas preocupações diante do fim inevitável? O que é prioridade para ele a partir daquele momento? O que é importante preservar? O que traz paz? Os cuidados paliativos têm uma premissa: conhecer ao máximo a pessoa, mesmo com todas as dificuldades que a situação impõe, para dispensar cuidados de forma efetiva e beneficente.
Profissionais de saúde devem saber avaliar a capacidade de decisão do doente, interpretar o que falam ou apurar junto aos familiares como o paciente gostaria de ser tratado diante do quadro clínico – se ele pudesse falar, como se manifestaria a respeito? Porque, mesmo quando essa pessoa não pode decidir, o foco ainda é ela. Seus valores devem ser levados em conta na tomada de decisão.
[...] os cuidados paliativos humanizam a medicina e a relação médico-paciente na medida em que colocam de lado a obsessão pela cura e deixam emergir o foco na pessoa. Nem sempre, porém, isso significa adotar medidas prolongadoras de vida. Em contrapartida, certos procedimentos invasivos podem até não fazer muito sentido para o médico diante de um diagnóstico. Mas, quando há chance de sucesso para fazer com que um paciente viva mais seis meses e consiga seu objetivo de conhecer um neto que vai nascer (mesmo encarando eventuais desconfortos para chegar lá), esses métodos devem ser considerados.
O olhar do profissional de saúde deve considerar o paciente de forma multidimensional porque seu sofrimento não se resume à dor física. Quando se descobre uma doença grave, além da agonia relacionada ao diagnóstico, existem outros padecimentos, como a perda do papel social e o medo de não ser mais capaz de sustentar a família, por exemplo. Da mesma forma, a amputação de uma perna ou braço irá gerar uma necessidade de readaptação que transcende o aspecto motor, com muito peso psicológico envolvido.
Caberá aos profissionais estarem devidamente preparados para identificar e acolher todas essas aflições, intervir para aliviá-las da melhor forma e, quando chegar o momento, identificar que o fim está próximo, reconhecer situações de refratariedade, fazer um excelente controle de sintomas e não prolongar de forma fútil o processo de morte. [...]
[...] os cuidados paliativos são a ciência do detalhe. Uma mistura precisa de técnica e humanidade. Mas essa matéria a faculdade raramente ensina. Infelizmente, em muitas situações, ainda compete a quem abraçou a causa buscar capacitação para aprender a usar todas as ferramentas disponíveis da especialidade. O contraponto é muito compensador: ouvir o paciente, compreendêlo e fazer o melhor para aliviar suas dores físicas e emocionais nos reconecta com a nossa opção pela medicina e traz a satisfação de exercermos o nosso melhor como profissionais de saúde e como seres humanos.
(RIBEIRO, Sabrina Corrêa da Costa, Cuidados paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento. https://saude.abril.com.br/blog/com- apalavra/cuidados-paliativos-um-jeito-hum ano-de-assistir-o-paciente-em-sofrimento/)
Considere os fragmentos seguintes:
“[...] até um terço das mortes [...] são esperadas por serem
consequências de uma doença grave em fase avançada.”
“Somos treinados a intubar, mas não a avaliar o benefício da
intubação [...]”.
“Quando se descobre uma doença grave, [...] existem outros
padecimentos [...]”.
“[...] fazer o melhor para aliviar suas dores [...]”.
As relações semânticas entre as estruturas oracionais presentes em cada fragmento acima estão, correta e respectivamente, identificadas em:
TEXTO
Cuidados Paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento.
Em breve, quando for possível olhar para a pandemia do coronavírus e enxergar algum aprendizado promovido pela reviravolta na ordem mundial, um ramo relativamente novo da medicina estará contabilizado na lista de progressos: os cuidados paliativos. A área pode ser definida como um tratamento multiprofissional, que visa à melhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves que necessitam de conforto físico, psicológico, espiritual e social.
Os cuidados paliativos são o caminho quando não há perspectiva de cura e manter o bem-estar do paciente, com o máximo de independência possível e sem dor, é o que mais importa. [...]
Essa especialidade, que envolve médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais, ganha terreno e representatividade, tanto devido ao aumento da expectativa de vida da população como por conta do progresso da medicina, que proporciona maior tempo de vida àqueles com doenças crônicas — problemas cardiovasculares e pulmonares, distúrbios neurológicos, tumores, entre outras.
Com a Covid-19 fomos colocados frente a frente com a mortalidade e a fragilidade da vida (incluindo a nossa), o que gerou reflexão e talvez tenha acelerado o processo de entendimento sobre a importância dos cuidados paliativos, que já são recomendados por várias sociedades médicas, contemplando o controle dos sintomas, o trabalho em equipe, a incorporação dos valores do paciente e a boa comunicação entre os profissionais e as famílias como parte essencial do plano de tratamento.
Infelizmente, na realidade do sistema de saúde atual, quem deveria ter acesso aos cuidados paliativos acaba buscando atendimento de emergência em hospitais. E isso acontece diariamente. Existem dados que sugerem que até um terço das mortes que acontecem no pronto-atendimento são esperadas por serem consequência de uma doença grave em fase avançada.
Portanto, existe um grupo identificável que merece uma abordagem diferenciada, mas não tem acesso a ela. Falamos de pessoas com insuficiência cardíaca grave e demências avançadas, entre outras patologias críticas, que chegam ao hospital com sintomas descontrolados e em grande sofrimento, sem consciência da gravidade da situação e sem nunca terem visto um médico de cuidados paliativos antes.
Aprendemos a medicina como ciência binária. Doença é igual a tratamento: pneumonia pressupõe antibiótico; insuficiência respiratória, intubação. A pessoa e sua individualidade parecem não fazer parte da equação. Somos treinados a intubar, mas não a avaliar os benefícios da intubação para um paciente de 90 anos, com um quadro clínico severo. O que esperar de uma terapia com antibióticos para aqueles em fase final? Ela melhora de fato os sintomas? Estou trazendo algum benefício ao transfundir? Hidratar?
São respostas a essas perguntas que as equipes de pronto-atendimento, emergência e terapia intensiva precisam buscar, sem perder o foco da subjetividade porque o melhor para um pode não ser o melhor para o outro, mesmo com igual diagnóstico. Cada um sente e reage de maneira distinta. Vejamos um exemplo: a esclerose lateral amiotrófica é uma doença que, com a progressão, pode submeter os acometidos a ficarem presos a um respirador até o fim da vida. Para alguns, essa dependência é pior do que a morte, enquanto outros se adaptam e relatam conformidade. A conclusão é que não há como fazer uma boa medicina sem saber quem é quem.
Quem é aquele paciente cujo diagnóstico é tão grave? É uma pessoa religiosa? Independente? Tem filhos? Quais são suas preocupações diante do fim inevitável? O que é prioridade para ele a partir daquele momento? O que é importante preservar? O que traz paz? Os cuidados paliativos têm uma premissa: conhecer ao máximo a pessoa, mesmo com todas as dificuldades que a situação impõe, para dispensar cuidados de forma efetiva e beneficente.
Profissionais de saúde devem saber avaliar a capacidade de decisão do doente, interpretar o que falam ou apurar junto aos familiares como o paciente gostaria de ser tratado diante do quadro clínico – se ele pudesse falar, como se manifestaria a respeito? Porque, mesmo quando essa pessoa não pode decidir, o foco ainda é ela. Seus valores devem ser levados em conta na tomada de decisão.
[...] os cuidados paliativos humanizam a medicina e a relação médico-paciente na medida em que colocam de lado a obsessão pela cura e deixam emergir o foco na pessoa. Nem sempre, porém, isso significa adotar medidas prolongadoras de vida. Em contrapartida, certos procedimentos invasivos podem até não fazer muito sentido para o médico diante de um diagnóstico. Mas, quando há chance de sucesso para fazer com que um paciente viva mais seis meses e consiga seu objetivo de conhecer um neto que vai nascer (mesmo encarando eventuais desconfortos para chegar lá), esses métodos devem ser considerados.
O olhar do profissional de saúde deve considerar o paciente de forma multidimensional porque seu sofrimento não se resume à dor física. Quando se descobre uma doença grave, além da agonia relacionada ao diagnóstico, existem outros padecimentos, como a perda do papel social e o medo de não ser mais capaz de sustentar a família, por exemplo. Da mesma forma, a amputação de uma perna ou braço irá gerar uma necessidade de readaptação que transcende o aspecto motor, com muito peso psicológico envolvido.
Caberá aos profissionais estarem devidamente preparados para identificar e acolher todas essas aflições, intervir para aliviá-las da melhor forma e, quando chegar o momento, identificar que o fim está próximo, reconhecer situações de refratariedade, fazer um excelente controle de sintomas e não prolongar de forma fútil o processo de morte. [...]
[...] os cuidados paliativos são a ciência do detalhe. Uma mistura precisa de técnica e humanidade. Mas essa matéria a faculdade raramente ensina. Infelizmente, em muitas situações, ainda compete a quem abraçou a causa buscar capacitação para aprender a usar todas as ferramentas disponíveis da especialidade. O contraponto é muito compensador: ouvir o paciente, compreendêlo e fazer o melhor para aliviar suas dores físicas e emocionais nos reconecta com a nossa opção pela medicina e traz a satisfação de exercermos o nosso melhor como profissionais de saúde e como seres humanos.
(RIBEIRO, Sabrina Corrêa da Costa, Cuidados paliativos: um jeito humano de assistir o paciente em sofrimento. https://saude.abril.com.br/blog/com- apalavra/cuidados-paliativos-um-jeito-hum ano-de-assistir-o-paciente-em-sofrimento/)
Considerando as afirmativas seguintes, assinale a correta: