Considere o cartum de Santiago para responder à questão.
Diferentemente _____________ esperado, Cinderela não se ateve_____________ alterações no horário de verão, portanto foi impossível que o encanto se ___________.
Leia o texto “Desolação”, de Hélio Schwartsman, para responder à questão.
A bioética1 é a mais depressiva das especialidades filosóficas. Seus manuais são uma coleção de situações médicas trágicas que geram dilemas sem solução. O caso do bebê Charlie Gard ilustra isso com perfeição.
Charlie tinha 11 meses e estava internado no Great Ormond Street Hospital, em Londres. Respirava com a ajuda de aparelhos. Ele sofria de uma síndrome genética rara que afeta o DNA mitocondrial, de modo que suas células não conseguiam produzir energia suficiente para funcionar bem.
Os médicos do hospital julgaram que estender a vida do bebê seria desumano. Como os pais não concordavam, a decisão foi para as mãos da Justiça, que deu razão aos médicos, autorizando o desligamento dos aparelhos. Houve recursos, mas a sentença foi, em um primeiro momento, confirmada pela Corte de Apelações, a Suprema Corte britânica e a Corte Europeia de Direitos Humanos.
O caso, porém, ganhou dimensões políticas. Os pais insistiram na possibilidade de um tratamento experimental e receberam o apoio de Donald Trump e do Vaticano, que se ofereceram para tentar salvar o bebê. Theresa May se pôs ao lado da Justiça, que não permitia a transferência da criança para outro país.
Não houve final feliz aqui. Os médicos e as cortes estão certos ao definir que esforços terapêuticos precisam parar em algum ponto. Não dá para insistir em tratamentos fúteis. Por cruel que seja dizê-lo, é preciso pensar também em custos. Creio, entretanto, que os juízes avançaram o sinal ao vetar, de início, uma transferência sem ônus para o sistema. Ainda que ela pudesse prolongar o sofrimento do bebê, essa é uma esfera da intimidade em que a Justiça sabiamente evita entrar. É raro cortes determinarem que pacientes/responsáveis desistam de um tratamento de câncer com mínima chance de sucesso, por exemplo.
Se existe um princípio heurístico2 na sempre triste bioética, é o de que o respeito à autonomia do paciente e seus familiares é quase sempre a resposta menos ruim.
(www.folha.uol.com.br, 09.07.2017. Adaptado.)
1 bioética: estudo transdisciplinar que investiga as condições necessárias para a administração responsável da vida humana, animal e ambiental.
2 heurístico: referente à heurística, método analítico para o descobrimento de verdades científicas.
De acordo com o texto,
Leia o texto “Desolação”, de Hélio Schwartsman, para responder à questão.
A bioética1 é a mais depressiva das especialidades filosóficas. Seus manuais são uma coleção de situações médicas trágicas que geram dilemas sem solução. O caso do bebê Charlie Gard ilustra isso com perfeição.
Charlie tinha 11 meses e estava internado no Great Ormond Street Hospital, em Londres. Respirava com a ajuda de aparelhos. Ele sofria de uma síndrome genética rara que afeta o DNA mitocondrial, de modo que suas células não conseguiam produzir energia suficiente para funcionar bem.
Os médicos do hospital julgaram que estender a vida do bebê seria desumano. Como os pais não concordavam, a decisão foi para as mãos da Justiça, que deu razão aos médicos, autorizando o desligamento dos aparelhos. Houve recursos, mas a sentença foi, em um primeiro momento, confirmada pela Corte de Apelações, a Suprema Corte britânica e a Corte Europeia de Direitos Humanos.
O caso, porém, ganhou dimensões políticas. Os pais insistiram na possibilidade de um tratamento experimental e receberam o apoio de Donald Trump e do Vaticano, que se ofereceram para tentar salvar o bebê. Theresa May se pôs ao lado da Justiça, que não permitia a transferência da criança para outro país.
Não houve final feliz aqui. Os médicos e as cortes estão certos ao definir que esforços terapêuticos precisam parar em algum ponto. Não dá para insistir em tratamentos fúteis. Por cruel que seja dizê-lo, é preciso pensar também em custos. Creio, entretanto, que os juízes avançaram o sinal ao vetar, de início, uma transferência sem ônus para o sistema. Ainda que ela pudesse prolongar o sofrimento do bebê, essa é uma esfera da intimidade em que a Justiça sabiamente evita entrar. É raro cortes determinarem que pacientes/responsáveis desistam de um tratamento de câncer com mínima chance de sucesso, por exemplo.
Se existe um princípio heurístico2 na sempre triste bioética, é o de que o respeito à autonomia do paciente e seus familiares é quase sempre a resposta menos ruim.
(www.folha.uol.com.br, 09.07.2017. Adaptado.)
1 bioética: estudo transdisciplinar que investiga as condições necessárias para a administração responsável da vida humana, animal e ambiental.
2 heurístico: referente à heurística, método analítico para o descobrimento de verdades científicas.
Assinale a afirmação correta sobre o texto.
Leia o texto “Um cinturão”, de Graciliano Ramos, para responder à questão.
As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos […].
Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, […] e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. […]
Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me […]. Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem daquele perigo.
Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. […]
O assombro gelava-me o sangue, escancarava-me os olhos.
Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. […]
O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente. […]
Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, […] uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. […] Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo. […]
Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, […] e a folha de couro fustigou-me as costas. […] Nenhum socorro. […]
Achava-me num deserto. […]
Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. […]
O suplício durou bastante. […]
Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, […] engolir soluços, gemer baixinho […]. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, […] sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram o refúgio onde me abatia, aniquilado.
Pareceu-me que a figura imponente minguava […]. Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou.
Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra.
Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça.
(Italo Moriconi (org). Os cem melhores contos brasileiros do século, 2001. Adaptado.)
Assinale a alternativa cujo trecho expresse as ideias do sexto parágrafo sem alterar o sentido do texto.
Leia o texto “Um cinturão”, de Graciliano Ramos, para responder à questão.
As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos […].
Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, […] e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. […]
Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me […]. Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem daquele perigo.
Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. […]
O assombro gelava-me o sangue, escancarava-me os olhos.
Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. […]
O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente. […]
Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, […] uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. […] Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo. […]
Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, […] e a folha de couro fustigou-me as costas. […] Nenhum socorro. […]
Achava-me num deserto. […]
Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. […]
O suplício durou bastante. […]
Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, […] engolir soluços, gemer baixinho […]. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, […] sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram o refúgio onde me abatia, aniquilado.
Pareceu-me que a figura imponente minguava […]. Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou.
Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra.
Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça.
(Italo Moriconi (org). Os cem melhores contos brasileiros do século, 2001. Adaptado.)
Assinale a alternativa cuja afirmação sobre a expressão destacada esteja correta.
Leia o poema “Dia de chuva”, do escritor português Antônio Botto, para responder à questão.
Amanheceu a chover.
Na vidraça do meu quarto,
A bater, impertinente,
A chuva lembra uma queixa
Dolorosa, sem remédio!
Ninguém passa! Nesta rua
Moro eu e mora o tédio.
O vento atira com ela
De encontro à minha janela;
E ela, a chuva, batucando
Na vidraça do meu quarto,
Fica escorrendo e alagando.
Esta indecisa luz fria
Que põe sintomas de um véu
Negro e solto pelo céu!
E a chuva cai, não abranda,
Insiste, bate, fustiga,
E o dia avança e vai abrindo mais
O seu curso de lentas melodias
Diluídas no corpo da existência
Através de um rosário de ilusões!
São sempre assim estes dias
Tristíssimos como a história
De uma ansiedade partida!
Chuva, névoa, desconforto,
A imagem da minha vida!
(Antônio Soares Amora et al.
Presença da literatura portuguesa, 1961. Adaptado.)
Os trechos que apresentam, respectivamente, personificação e gradação – figuras utilizadas pelo eu lírico para externar seu desencanto em relação à vida – são: