Riobaldo acordava assustado em meio à madrugada, pressentindo que algum perigo se avizinhava. “A vida é ingrata no macio de si”, reflete ele. “Mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. ” Tal passagem de Grande Sertão: Veredas transcende o universo mágico de Guimarães Rosa e serve para resumir a quase inquebrantável capacidade de resiliência do povo brasileiro. Nos tempos atuais, a terrível agrura que tira o sono de todos é o vírus invisível. Ele se espalha cada vez mais rápido e sufoca até matar, provocando uma tragédia sem precedente. (...)
Apesar disso, mesmo à beira de um ataque de nervos por terem subestimado o potencial de estrago do inimigo e diante de autoridades que custam a se entender na tomada de medidas urgentes, as pessoas não perderam o otimismo e a fé.
É essa mistura de medo e de esperança que aparece com nitidez em um levantamento do Instituto Paraná Pesquisas sobre os sentimentos da população neste momento. (...)
(...) o trabalho mostra que a desolação com a situação atual do Brasil nunca foi tão flagrante. Mas, ainda assim, existe uma certa esperança que leva a crer que o futuro poderá ser diferente. (...)
Enquanto o cenário não muda, o brasileiro passa os dias remoendo seus medos e inseguranças com o presente. (...)
Por enquanto, resta respeitar as medidas de segurança e aguardar que o Ministério da Saúde acelere o programa de vacinação contra a Covid-19. De volta a Guimarães Rosa, ficam as palavras de consolo da personagem Diadorim ao protagonista da trama: “Riobaldo, tem tempos melhores. Por ora, estamos acuados em buraco”.
EDOARDO GHIROTTO, JULIANA CASTRO E TATIANA FARAH (Veja – 31.3.2021 – com adaptações)
Para desenvolver a ideia-matriz dessa reportagem, os autores exploraram o seguinte recurso: