Leia o texto a seguir para responder à questão.
YOUTUBE, O PARAÍSO DA PUBLICIDADE INFANTIL
CANAIS QUE SÓ FALTAM VENDER BRINQUEDOS ATRAEM MULTIDÕES DE CRIANÇAS NA PLATAFORMA DE VÍDEOS
Por Daniel Salgado (Adaptado)
(1) Que o YouTube é uma plataforma digital gigantesca, todo mundo sabe. E também que já existem
muitas pessoas que tiram seu provento do dinheiro gerado pelas visualizações e propagandas em seus
canais na rede. Ainda assim, não pude negar minha surpresa ao descobrir que o maior faturamento
entre os youtubers ficou com um garoto de 7 anos de idade, o americano Ryan.
(5) Dono do canal ‘RyanToysReviews’, ele e seus pais embolsaram US$ 22 milhões ao longo do último
ano. O valor, que é exorbitante em qualquer contexto, vem de seus incontáveis vídeos, nos quais o
garoto e seus progenitores aparecem brincando com diversos brinquedos recém-lançados e
comentando suas qualidades e defeitos. Seu canal, que desde 2015 acumula 17 milhões de inscritos
e 26 bilhões (!) de visualizações, posta vídeos quase diariamente. Só na última semana foram sete.
(10) Ignorando fatores como o tempo gasto pelo pequeno para gravar esses vídeos num ritmo de
conteúdo diário, é surpreendente pensar que ele arregimentou a quantia milionária ao, basicamente,
fazer propagandas para que crianças queiram comprar os mais variados brinquedos. E uma rápida
pesquisa no YouTube mostra que seus pais não são os únicos a investir nesse filão.
(14) Não acredita? É só procurar por um termo como “toys” (brinquedos, em inglês) e ver que existem
canais como ‘ToyPudding TV (12 bilhões de visualizações); ‘Super Kids Toys’ (291 milhões); ‘Kids
Diana Show’ (4 bilhões) e ‘CKN Toys’ (8 bilhões).
(17) Os formatos são dos mais variados: alguns utilizam crianças para brincar com os produtos
enviados — às vezes com vídeos patrocinados —, outros apenas mostram os brinquedos para adultos.
Há até a categoria de “unboxing”, dedicada apenas a mostrar a abertura da caixa do brinquedo.
(20) Em comum a todos está a fetichização de uma mercadoria para uma parcela da população
altamente suscetível à publicidade. Ainda que o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)
seja contrário a propaganda infantil, e haja uma legislação que coíba a prática no Brasil, o grande truque
desses canais é que eles fogem à classificação tradicional de publicidade para crianças.
(24) Não são comerciais pagos pelas empresas de brinquedos nem têm mensagens explícitas
convocando a compra do objeto x ou y. De certa maneira, funcionam quase como os desenhos
animados dos anos 90 que buscavam vender video-games, jogos de cartas e outros tantos produtos.
Que jovem daquela época não assistiu a Pokemon, Digimon ou algum programa similar?
(28) O precedente histórico não muda o fato de que esses canais glorificam e promovem
insistentemente brinquedos para as crianças na plataforma. E isso sem qualquer verniz artístico ou de
entretenimento animado como os cartuns ou gibis.
(31) As crianças, que ficam hipnotizadas pelos vídeos — quem já viu uma assistindo a esses canais
sabe do que estou falando —, saem quase sempre interessadas ou clamando pelos brinquedos
apresentados. O panorama não deve mudar: a legislação de regulação infantil varia muito de país para
país, e o YouTube, com seu alcance global, passa ao largo de controle nesse quesito, ao contrário de
canais de televisão ou revistas.
(36) É de se imaginar que, no ano que vem, os pais de Ryan e de alguns outros astros mirins da rede
tenham ainda mais ganhos para seu pé-de-meia generoso. Não faltará dinheiro para seus brinquedos.
Cabe saber se teremos nós os meios necessários para presentear nossas crianças.
Disponível em: https://epoca.globo.com/youtube-paraiso-da-publicidade-infantil-23289383. Acesso em 25 ago. 2019.
A oração em destaque “o valor, que é exorbitante em qualquer contexto, vem de seus incontáveis vídeos, nos quais o garoto e seus progenitores aparecem brincando com diversos brinquedos recém-lançados e comentando suas qualidades e defeitos.” (l. 6-8), tem a mesma classificação sintática da contida no item.