O feminismo negro não é uma luta meramente identitária, até
porque branquitude e masculinidade também são
identidades. Pensar feminismos negros é pensar projetos
democráticos. Hoje afirmo isso com muita tranquilidade, mas
[5] minha experiência de vida foi marcada pelo incômodo de uma
incompreensão fundamental. Não que eu buscasse respostas
para tudo. Na maior parte da minha infância e adolescência,
não tinha consciência de mim. Não sabia por que sentia
vergonha de levantar a mão quando a professora fazia uma
[10] pergunta já supondo que eu não saberia a resposta. Por que
eu ficava isolada na hora do recreio. Por que os meninos
diziam na minha cara que não queriam formar par com a
“neguinha” na festa junina. Eu me sentia estranha e
inadequada, e, na maioria das vezes, fazia as coisas no
[15] automático, me esforçando para não ser notada.
Djamila Ribeiro, Quem tem medo do feminismo negro?.
O trecho que melhor define a “incompreensão fundamental” (L.6) referida pela autora é: