Os dados a seguir integram o Mapa da Violência – Homicídio de Mulheres, um dos mais respeitados anuários de violência do País. As estatísticas foram reunidas com base no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, que registra os atendimentos na rede do SUS.
Com base na análise dos dados, conclui-se que
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O PODER MÉDICO
Moacyr Scliar
O poder médico é algo que tem história. Mas nem sempre os médicos foram poderosos: os primeiros de Roma eram gregos, prisioneiros de guerra levados para a capital do Império como escravos. Com o tempo, a medicina foi se estruturando como profissão. Um passo importante foi a criação das faculdades de Medicina, tornando-a uma profissão codificada, com espírito de corpo bastante intenso. E, então, a partir do conhecimento médico, nasceu o poder médico.
A obra que melhor mostra isso é O Alienista, de Machado de Assis, absolutamente notável e contestadora. Mas o que era o alienista? Era o médico que tomava conta dos loucos, dos alienados; simplesmente decidia quem ia para o hospício ou não.
E o doutor Simão Bacamarte exerce esse grande poder. Só que ele próprio é louco, e isso as pessoas não sabem, por ser impensável o fato. E ele vai botando as pessoas no hospício, inclusive a própria mulher. Há uma revolta contra ele, mas o movimento não triunfa porque os revoltosos são intimidados pela figura do detentor de um conhecimento que eles não têm, e que se traduz em poder. Ora, todo poder tem aspectos positivos e negativos.
(ALVES, Rubem e SCLIAR, Moacyr. Rubem Alves & Moacyr Scliar conversam sobre o corpo e a alma – Uma abordagem médico-literária. Campinas: Saberes, 2011, p. 72-73. Adaptado).
Acerca do uso e função dos conectivos para garantir a ligação e a progressão das ideias do texto, está correta a seguinte afirmação:
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O TEMPO E OS TEMPOS
Mario Quintana
Vivemos conjugando o tempo passado (saudade, para os românticos) e o tempo futuro (esperança, para os idealistas). Mais felizes os animais, que, na sua gramática imediata, apenas lhes sobra um tempo: o presente do indicativo. E que nem dá tempo para suspiros...
Na idade em que eu fazia umas ficções – é o termo – um dia o Erico Veríssimo me disse, naquela sua maneira discreta e indireta de dar conselho: deve-se escrever sempre no presente do indicativo, dá mais vida à ação, às personagens, o leitor se sente como uma testemunha ocular do caso.
Trinta e seis anos depois, o crítico Fausto Cunha notou a preferência, em meus poemas, pelo pretérito imperfeito. Por quê? Não sei, mas deve ser porque o tempo passado empresta às coisas um sabor definitivo, esse misterioso sentimento de saudade com que a gente olha uma cena num quadro de Renoir, um Anjo ou uma Vênus de Boticelli. Sem escusar-me, eu diria que o pretérito imperfeito não é um tempo morto: é um tempo continuativo...
Porém, voltemos ao Erico. Confesso-lhe que sempre penso nele no presente do indicativo. Ele está aqui, tão presente que nem dá tempo para a saudade.
(QUINTANA, Mario. A Vaca e o Hipogrifo. Rio de Janeiro: Mediafashion, 2008, p. 51 e 255. Adaptado.)
Sobre as ideias do autor acerca da experiência temporal e do modo como a linguagem verbal a representa, são feitas as seguintes afirmações:
I. Para diferenciar o humano e os animais, o autor afirma a vantagem destes por não lastimarem nostalgicamente o que já aconteceu e não ansiarem imaginosamente pelo porvir -– eles vivem o instantâneo, o imediato do momento presente.
II. Se o crítico aponta para uma recorrência estilística, nos poemas de Quintana, a mesma preferência por certo tempo verbal verifica-se igualmente nesse seu texto em prosa, onde predomina o passado continuativo usado para representar fatos definitivos ou não concluídos.
III. A repetição da mesma palavra no título, apenas flexionada em número, antecipa o jogo com seus diferentes significados que o autor mobilizará no restante do texto; processo semelhante ocorre no último parágrafo, com os dois sentidos com os quais é usada a palavra “presente”.
É correto o que se afirma em
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BIOSSENSORES NA MEDICINA
Rodrigo de Oliveira Andrade
Avanços recentes no campo da biologia molecular estão ampliando as possibilidades de uso de biossensores no diagnóstico e na prevenção de doenças. Desenvolvidos com base em elementos de reconhecimento biológico, como antígenos e anticorpos, esses dispositivos podem se tornar aparelhos portáteis e baratos, semelhantes aos utilizados na medição das taxas de glicose no sangue. Amplamente usados em outros países, atraem cada vez mais a atenção de pesquisadores brasileiros, que passaram a investir especificamente na detecção de doenças infecciosas negligenciadas, associadas à pobreza e à falta de saneamento básico.
Nos EUA, os biossensores estão sendo usados para acelerar os resultados de exames ou no monitoramento das condições de saúde de indivíduos com Aids e hepatite C. Caso se mostrem eficazes nos próximos estágios de avaliação, esses aparelhos podem se tornar uma alternativa aos exames de laboratórios de análises clínicas e ser usados em consultórios médicos ou por agentes de saúde em visitas às pessoas de regiões remotas do país.
(Revista Pesquisa FAPESP, Ano 18, n. 258. São Paulo: FAPESP, agosto de 2017, p. 68-69. Adaptado.)
Algumas das principais informações desse texto de divulgação científica aparecem adequadamente condensadas no seguinte parágrafo:
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ACIDENTE NA SALA
Ferreira Gullar
movo a perna esquerda
de mau jeito
e a cabeça do fêmur
atrita
com o osso da bacia
sofro um tranco
e me ouço
perguntar:
aconteceu comigo
ou com meu osso?
e outra pergunta:
eu sou meu osso?
ou sou somente a mente
que a ele não se junta?
e outra:
se osso não pergunta,
quem pergunta?
alguém que não é osso
(nem carne)
em mim habita?
alguém que nunca ouço
a não ser quando
em meu corpo
um osso com outro osso atrita?
(GULLAR, Ferreira. Rio de Janeiro: José Olympio, 2015, p. 569.)
Sendo o poema um gênero privilegiado para a verificação do uso de elementos linguísticos como expedientes expressivos, são feitas as seguintes afirmações críticas sobre os recursos estilísticos mobilizados no texto de Gullar:
I. Enquanto a repetição das consoantes s, ç e ss apoia a ideia do corpo como um mecanismo cujo funcionamento segue um ritmo normal, a recorrência do r, sobretudo acompanhado de outras consoantes, como t e f, reforça sonoramente a ocorrência de um mau jeito, tal como no sexto verso do poema.
II. Se o acidente em ambiente doméstico leva o eu-lírico a perceber uma dissociação física entre parte e todo, o desencontro ganha contornos existenciais mais amplos, expressos em dúvidas acerca das distinções carne/espírito, corpo e mente.
III. Expressando-se em primeira pessoa, o eu-lírico dialoga com um outro sujeito para o qual indaga, sem obter resposta definitiva, acerca do sentido da existência, formulando seguidas interrogações de cunho filosofante.
É correto o que se afirma em
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HORA DE FECHAR A BOCA?
Gláucia Leal
Há séculos nossa espécie convive com a prática do jejum – seja por necessidade, em razão de tempos de grande escassez, por opção, em razão de motivos religiosos ou, mais recentemente, adotando a abstenção alimentar (e em muitos casos a restrição calórica intensa) para perda de peso ou até motivo de saúde. A questão, porém, é polêmica.
Especialistas reconhecem que o fasting induz a um processo chamado autofagia, importante na reciclagem de material intracelular, capaz de contribuir para manter positivamente o metabolismo energético, evitando a degradação e favorecendo a reciclagem de proteínas, glicogênio ou lipídeos, relacionados com doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer. Mas essa é só uma parte da história.
Estudos apontam também que o jejum prolongado pode causar graves danos ao nosso corpo quando feito de maneira desregulada. Alguns profissionais são assertivos: ficar muitas horas sem comer faz mal, asseguram. Outros alertam para o fato de que a prática não é para qualquer pessoa: idosos e doentes, crianças, gestantes, lactantes e pessoas propensas a distúrbios alimentares não devem aderir. Quando ficamos várias horas sem nos alimentar, as reservas de glicose do organismo diminuem e outras fontes de energia, como proteína e gordura, passam a ser utilizadas pelo organismo. Dentro de um longo período, uma alteração grave pode ser a hipoglicemia rebote. Jejuar por muitos dias pode ocasionar, ainda, queda de resistência imunológica e infecções.
(“Carta da Editora”. Revista Scientific American – Mente Cérebro. Ano XII, n. 292. São Paulo: Segmento, maio de 2017, p. 3. Adaptado.)
Em qual período se confrontam adequadamente alguns aspectos positivos e negativos da prática de jejum apresentados no texto?