Na questão, oriente-se pelos seguintes textos.
Texto I
Inania Verba
Ah! Quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregada à tua cruz e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava...
O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a Palavra pesada abafa a Ideia leve,
Que, em perfume e clarão, refulgia e voava.
Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! Quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? E o céu que foge à mão que se levanta?
E a ira muda? E o asco mudo? E o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?
(BILAC, OLAVO. Inania Verba. In Alma Inquieta – Poesias. São Paulo. Martin Claret. P.96)
Texto II
Tortura Eterna
Impotência cruel, ó vã tortura!
Ó Força inútil, ansiedade humana!
Ó círculo dantesco da loucura!
Ó luta, ó luta secular, insana!
Que tu não possas, Alma soberana,
Perpetuamente refulgir na Altura,
Na Aleluia da Luz, na clara Hosana
Do Sol, cantar, imortalmente pura.
Que tu não possas, Sentimento ardente,
Viver, vibrar nos brilhos do ar fremente,
Por entre as chamas, os clarões supernos.
Ó Sons intraduzíveis, Formas, Cores!...
Ah! que eu não possa eternizar as dores
Nos bronzes e nos mármores eternos!
(CRUZ E SOUSA. Obra Completa. Rio de Janeiro. Aguilar, 1961.)
I – Ambos os textos são expressos por meio da espécie lírica denominada soneto, de largo uso na estética parnasiana (que tem Olavo Bilac como um dos seus expoentes), mas de uso limitado na estética simbolista (da qual Cruz e Sousa é o nosso mais significativo autor).
II – Os dois textos têm em comum a preocupação com o rigor formal (rima e métrica rigorosas, vocabulário cuidado, esquema rímico...) e o emprego da metalinguagem, visto que ambos elegem o fazer poético como tema.
III – Nos dois poemas ocorre o emprego de vocábulos (Forma, Palavra, Ideia, Força, Alma, Altura, Aleluia, Luz, Hosana Sol, Sentimento, Formas, Cores) com iniciais maiúsculas para que, em ambos haja uma indistinção entre o concreto e o abstrato.