A sociedade contemporânea e o consumismo*
Matheus Arcaro**
[1] Consumir é uma atividade humana. Certo, mas o que consumimos? Rapidamente, vem à mente uma
[2] resposta elementar: bens materiais e serviços. Contudo, mesmo sem uma reflexão mais profunda, é possível
[3] concluir que isso não é tudo. Consumimos também tempo, espaço e, principalmente, representações. A re-
[4] presentação da perfeição, da beleza, da força, da atuação sobre as possibilidades. Por exemplo: quando um
[5] indivíduo compra um carro, além do bem material, ele adquire o domínio sobre a distância e, dependendo do
[6] modelo do veículo, status, virilidade etc.
[7] Na sociedade contemporânea, consumo e felicidade estão intrinsecamente ligados. Segundo Bau-
[8] drillard, eles se associam, principalmente, quando a Indústria Cultural mostra, em suas produções (novelas,
[9] propagandas, filmes), personagens realizados porque adquiriram bens materiais. Todavia, quem compra obje
[10] tos crendo que obterá felicidade, muitas vezes, não a encontra e, assim, cai em um vazio que só um novo con-
[11] sumo pode preencher. A incessante decepção de encontrar a felicidade no consumo leva a indústria a sempre
[12] produzir lançamentos para trocar a insatisfação por uma nova necessidade. Epicuro dizia que a ambição é a
[13] grande vilã da felicidade, pois o sentimento de insaciedade conduz o homem a buscar incessantemente mais
[14] do que o necessário para viver bem.
[15] Não é exagero afirmar que tudo é mercadoria na contemporaneidade. Mesmo as relações do indivíduo
[16] com o outro e consigo mesmo são coisificadas.[...]
[17] Muitas pessoas só conseguem encontrar raros momentos de felicidade nas festas, passeios, novelas,
[18] filmes, músicas, entorpecentes, ou seja, apenas fugindo dessa vida estressante, conflituosa e contraditória.
[19] Mas não há efetividade sem contradições. E, assim, novamente cai-se na decepção. Trabalha-se seis dias da
[20] semana para ter condições financeiras de desfrutar um sábado nas festas, um domingo nas praias ou uma
[21] viagem de uma semana. E, quanto mais se desfruta, mais traumatizado pode tornar-se e acabar mais vicia-
[22] do nesse processo catártico. Theodor Adorno afirmava: “Divertir-se significa que não devemos pensar; que
[23] devemos esquecer a dor, mesmo onde ela se mostra. Na base do divertimento, planta-se a impotência.” [...]
[24] Guy Debord descreve a sociedade contemporânea como a “sociedade do espetáculo”, que substitui o
[25] cogito cartesiano “Penso, logo existo!” por “Sou visto, logo existo!”. A mídia, obviamente, é o centro de seus
[26] exames. Mesmo quando se veste de criticidade, é preciso analisá-la com ressalvas, pois, na maioria das ve-
[27] zes, ou ela é descritiva ou sensacionalista. [...]
[28] E, além disso, é nos meios de comunicação que se propaga o que deve ser consumido. Cientificiza-se
[29] o discurso midiático, como nos casos dos cremes de beleza que são testados nos melhores laboratórios, pelos
[30] melhores cientistas. Perde-se a credibilidade no vazio discursivo, como se observa na capa de uma revista de
[31] circulação nacional: “Chegue com todo gás aos cem anos!”. Cabe a questão: estamos preparados para viver
[32] cem anos? Difícil, pois, na sociedade contemporânea, a vida do sujeito resume-se à vida “ativa”. E, para ser
[33] “ativo”, esse sujeito precisa trabalhar oito horas por dia (às vezes mais) em um local de que muitas vezes não
[34] gosta. Como consequência, ele acaba subutilizando sua capacidade crítica, reflexiva e estética e, sem perce-
[35] ber, abre mão da sua humanidade. Vale tamanho sacrifício em prol do consumo?
*Texto disponível em: http://www.educadois.com.br/sociedade-contemporanea- -consumismo/. Acesso em: 21 abr. 2017. Adaptação. **Colunista.
Qual das propostas de substituição vocabular para “elementar” (linha 2), “intrinsecamente” (linha 7), e “em prol do” (linha 35), respectivamente, produziria paráfrases com sentidos mais próximos aos dos enunciados originais?