Nada mais importante para chamar a
atenção sobre uma verdade do que exagerá-
la. Mas também, nada mais perigoso, ........
um dia vem a reação indispensável e a relega
[5] injustamente para a categoria do erro, até
que se efetue a operação difícil de chegar a
um ponto de vista objetivo, sem desfigurá-la
de um lado nem de outro. É o que tem
ocorrido com o estudo da relação entre a obra
[10] e o seu condicionamento social, que a certa
altura chegou a ser vista como chave para
compreendê-la, depois foi rebaixada como
falha de visão, — e talvez só agora comece a
ser proposta nos devidos termos.
[15] De fato, antes se procurava mostrar que
o valor e o significado de uma obra
dependiam de ela exprimir ou não certo
aspecto da realidade, e que este aspecto
constituía o que ela tinha de essencial.
[20] Depois, chegou-se à posição oposta,
procurando-se mostrar que a matéria de uma
obra é secundária, e que a sua importância
deriva das operações formais postas em jogo,
conferindo-lhe uma peculiaridade que a torna
[25] de fato independente de quaisquer
condicionamentos, sobretudo social,
considerado inoperante como elemento de
compreensão. Hoje sabemos que a
integridade da obra não permite adotar
[30] nenhuma dessas visões ........ ; e que só a
podemos entender fundindo texto e contexto
numa interpretação dialeticamente íntegra,
em que tanto o velho ponto de vista que
explicava pelos fatores externos, quanto o
[35] outro, norteado pela convicção de que a
estrutura é virtualmente independente, se
combinam como momentos necessários do
processo interpretativo. Sabemos, ainda, que
o externo (no caso, o social) importa, não
[40] como causa, nem como significado, mas como
elemento que desempenha certo papel na
constituição da estrutura, tornando-se,
portanto, interno.
Neste caso, saímos dos aspectos
[45] periféricos da sociologia, ou da história
sociologicamente orientada, para chegar a
uma interpretação estética que assimilou a
dimensão social como fator de arte. Quando
isto se dá, ocorre o paradoxo assinalado
[50] inicialmente: o externo se torna interno e a
crítica deixa de ser sociológica, para ser
apenas crítica. Segundo esta ordem de ideias, ]
o ângulo sociológico adquire uma validade
maior do que tinha. Em ........, não pode mais
[55] ser imposto como critério único, ou mesmo
preferencial, pois a importância de cada fator
depende do caso a ser analisado. Uma crítica
que se queira integral deve deixar de ser
unilateralmente sociológica, psicológica ou
[60] linguística, para utilizar livremente os
elementos capazes de conduzirem a uma
interpretação coerente.
Adaptado de: CANDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. 9. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.
Considere as seguintes afirmações sobre o uso de pronomes no texto.
I - O pronome a (l. 04) faz referência à expressão a reação indispensável (l. 04).
II - A forma pronominal la (l. 07) faz referência à expressão uma verdade (l. 02).
III- O pronome se (l. 42) faz referência à expressão o externo (l. 39).
Quais das afirmações acima estão corretas?