Examine o cartum de Mike Baldwin, publicado no Instagram por Cartoon Collections, em 03.01.2021.
“I grant you three wishes – as long as
they’re not hand sanitiser, face masks
or toilet paper.”
O cartum sugere que
Leia a crônica “O chope e a passagem”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder a questão.
Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência. Um caso com a Leopoldina.
– Entrou mulher na sua vida, Nicanor? Casado há tão pouco tempo!
– Não senhor, Leopoldina é a estrada de ferro.
Sucede que Nicanor mora – morar é força de expressão, ele passa a noite – lá para as bandas de Cordovil, e vem para o batente no trem de subúrbio da Leopoldina. Paga pelo transporte a inexistente, a irreal quantia de dez cruzeiros.
– Eu achava barato, pra que vou mentir ao senhor que não achava? Me parecia uma camaradagem especial, uma largueza de quem pode pra quem não pode; até rico tem disso, quando está bêbedo. Era o único troço barato na vida. Como tudo mais está pela hora da morte, ficava uma coisa pela outra, quer dizer, não chegava a ficar, mas amolecia. E eu gostava, eu gosto da Leopoldina.
– Realmente, ela foi uma mãe para você.
– Não foi? Por isso é que estou muito chateado comigo mesmo.
– Não entendo, Nicanor.
– A Leopoldina está me convidando a pagar mais vinte cruzeiros pela passagem.
– Então? Não é justo?
– Justo ela diz que é, mas eu não acho não.
– Nicanor!
– Vou ligar o rádio de pilha para o senhor escutar. Não, faz muito barulho, eu resumo, eu resumo. A Leopoldina e a Central vendem por dia oitocentos e vinte mil passagens a dez cruzeiros. Cada passagem custa, batata, sessenta cruzeiros. O prejuízo é de quarenta e um milhões por dia. Então elas propõem à gente rachar o prejuízo, cobrando trinta cruzeiros.
– Boa solução.
– Boa como, se a estrada, quando tudo aumenta duzentos por cento, cobra só metade do custo da passagem, e a gente agora fica sabendo que está roubando dela?
– Roubando nada, Nicanor. Ela mesma é que queria o prejuízo. Você não vai fazer a greve de passageiro por causa disso?
– Aí é que está. Não posso aceitar este sacrifício da Leopoldina, mas vir de a pé é fogo, e de táxi só se eu fosse o motorista ou o atropelado.
– Esqueça essas coisas. Excesso de escrúpulo é doença.
– Ela própria é que me bota isso na cabeça, gritando no rádio e na televisão, de cinco em cinco minutos: “É justo você pagar mais por um chope do que por uma passagem de subúrbio? É justo? É justo?”. Aí, eu respondo cá dentro que não. Aí ela grita que o justo é pagar a metade da passagem. Aí, com a ideia de justiça me formigando na sinagoga, eu sinto que o justo é pagar o preço exato, e fico danado comigo porque, verdade verdade, prefiro pagar trinta a sessenta, e se possível continuar mesmo nos dez, que que há? Mas aí a demonstração me enche tanto que acabo com vontade de gritar: “Cobra logo sessenta! Cento e vinte!”.
Ia explicar a Nicanor que ele sempre pagou muito mais do que dez cruzeiros pela passagem; que, sem perceber, paga o preço de uma cervejaria, e nós também, que não viajamos pela Rede Ferroviária Federal; todos pagamos o déficit. Mas preferi oferecer-lhe um chope, no balcão.
– E quem disse que eu bebo? Penso logo no trem e sinto remorso. Aí, perde o sabor.
(Caminhos de João Brandão, 2016.)
Depreende-se da crônica que
Leia a crônica “O chope e a passagem”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder a questão.
Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência. Um caso com a Leopoldina.
– Entrou mulher na sua vida, Nicanor? Casado há tão pouco tempo!
– Não senhor, Leopoldina é a estrada de ferro.
Sucede que Nicanor mora – morar é força de expressão, ele passa a noite – lá para as bandas de Cordovil, e vem para o batente no trem de subúrbio da Leopoldina. Paga pelo transporte a inexistente, a irreal quantia de dez cruzeiros.
– Eu achava barato, pra que vou mentir ao senhor que não achava? Me parecia uma camaradagem especial, uma largueza de quem pode pra quem não pode; até rico tem disso, quando está bêbedo. Era o único troço barato na vida. Como tudo mais está pela hora da morte, ficava uma coisa pela outra, quer dizer, não chegava a ficar, mas amolecia. E eu gostava, eu gosto da Leopoldina.
– Realmente, ela foi uma mãe para você.
– Não foi? Por isso é que estou muito chateado comigo mesmo.
– Não entendo, Nicanor.
– A Leopoldina está me convidando a pagar mais vinte cruzeiros pela passagem.
– Então? Não é justo?
– Justo ela diz que é, mas eu não acho não.
– Nicanor!
– Vou ligar o rádio de pilha para o senhor escutar. Não, faz muito barulho, eu resumo, eu resumo. A Leopoldina e a Central vendem por dia oitocentos e vinte mil passagens a dez cruzeiros. Cada passagem custa, batata, sessenta cruzeiros. O prejuízo é de quarenta e um milhões por dia. Então elas propõem à gente rachar o prejuízo, cobrando trinta cruzeiros.
– Boa solução.
– Boa como, se a estrada, quando tudo aumenta duzentos por cento, cobra só metade do custo da passagem, e a gente agora fica sabendo que está roubando dela?
– Roubando nada, Nicanor. Ela mesma é que queria o prejuízo. Você não vai fazer a greve de passageiro por causa disso?
– Aí é que está. Não posso aceitar este sacrifício da Leopoldina, mas vir de a pé é fogo, e de táxi só se eu fosse o motorista ou o atropelado.
– Esqueça essas coisas. Excesso de escrúpulo é doença.
– Ela própria é que me bota isso na cabeça, gritando no rádio e na televisão, de cinco em cinco minutos: “É justo você pagar mais por um chope do que por uma passagem de subúrbio? É justo? É justo?”. Aí, eu respondo cá dentro que não. Aí ela grita que o justo é pagar a metade da passagem. Aí, com a ideia de justiça me formigando na sinagoga, eu sinto que o justo é pagar o preço exato, e fico danado comigo porque, verdade verdade, prefiro pagar trinta a sessenta, e se possível continuar mesmo nos dez, que que há? Mas aí a demonstração me enche tanto que acabo com vontade de gritar: “Cobra logo sessenta! Cento e vinte!”.
Ia explicar a Nicanor que ele sempre pagou muito mais do que dez cruzeiros pela passagem; que, sem perceber, paga o preço de uma cervejaria, e nós também, que não viajamos pela Rede Ferroviária Federal; todos pagamos o déficit. Mas preferi oferecer-lhe um chope, no balcão.
– E quem disse que eu bebo? Penso logo no trem e sinto remorso. Aí, perde o sabor.
(Caminhos de João Brandão, 2016.)
Considerando as reflexões do narrador, constitui exemplo de hipérbole o verbo sublinhado em
Leia a crônica “O chope e a passagem”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder a questão.
Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência. Um caso com a Leopoldina.
– Entrou mulher na sua vida, Nicanor? Casado há tão pouco tempo!
– Não senhor, Leopoldina é a estrada de ferro.
Sucede que Nicanor mora – morar é força de expressão, ele passa a noite – lá para as bandas de Cordovil, e vem para o batente no trem de subúrbio da Leopoldina. Paga pelo transporte a inexistente, a irreal quantia de dez cruzeiros.
– Eu achava barato, pra que vou mentir ao senhor que não achava? Me parecia uma camaradagem especial, uma largueza de quem pode pra quem não pode; até rico tem disso, quando está bêbedo. Era o único troço barato na vida. Como tudo mais está pela hora da morte, ficava uma coisa pela outra, quer dizer, não chegava a ficar, mas amolecia. E eu gostava, eu gosto da Leopoldina.
– Realmente, ela foi uma mãe para você.
– Não foi? Por isso é que estou muito chateado comigo mesmo.
– Não entendo, Nicanor.
– A Leopoldina está me convidando a pagar mais vinte cruzeiros pela passagem.
– Então? Não é justo?
– Justo ela diz que é, mas eu não acho não.
– Nicanor!
– Vou ligar o rádio de pilha para o senhor escutar. Não, faz muito barulho, eu resumo, eu resumo. A Leopoldina e a Central vendem por dia oitocentos e vinte mil passagens a dez cruzeiros. Cada passagem custa, batata, sessenta cruzeiros. O prejuízo é de quarenta e um milhões por dia. Então elas propõem à gente rachar o prejuízo, cobrando trinta cruzeiros.
– Boa solução.
– Boa como, se a estrada, quando tudo aumenta duzentos por cento, cobra só metade do custo da passagem, e a gente agora fica sabendo que está roubando dela?
– Roubando nada, Nicanor. Ela mesma é que queria o prejuízo. Você não vai fazer a greve de passageiro por causa disso?
– Aí é que está. Não posso aceitar este sacrifício da Leopoldina, mas vir de a pé é fogo, e de táxi só se eu fosse o motorista ou o atropelado.
– Esqueça essas coisas. Excesso de escrúpulo é doença.
– Ela própria é que me bota isso na cabeça, gritando no rádio e na televisão, de cinco em cinco minutos: “É justo você pagar mais por um chope do que por uma passagem de subúrbio? É justo? É justo?”. Aí, eu respondo cá dentro que não. Aí ela grita que o justo é pagar a metade da passagem. Aí, com a ideia de justiça me formigando na sinagoga, eu sinto que o justo é pagar o preço exato, e fico danado comigo porque, verdade verdade, prefiro pagar trinta a sessenta, e se possível continuar mesmo nos dez, que que há? Mas aí a demonstração me enche tanto que acabo com vontade de gritar: “Cobra logo sessenta! Cento e vinte!”.
Ia explicar a Nicanor que ele sempre pagou muito mais do que dez cruzeiros pela passagem; que, sem perceber, paga o preço de uma cervejaria, e nós também, que não viajamos pela Rede Ferroviária Federal; todos pagamos o déficit. Mas preferi oferecer-lhe um chope, no balcão.
– E quem disse que eu bebo? Penso logo no trem e sinto remorso. Aí, perde o sabor.
(Caminhos de João Brandão, 2016.)
Considerando o contexto, verifica-se o emprego de expressão própria da linguagem coloquial em
Leia a crônica “O chope e a passagem”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder a questão.
Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência. Um caso com a Leopoldina.
– Entrou mulher na sua vida, Nicanor? Casado há tão pouco tempo!
– Não senhor, Leopoldina é a estrada de ferro.
Sucede que Nicanor mora – morar é força de expressão, ele passa a noite – lá para as bandas de Cordovil, e vem para o batente no trem de subúrbio da Leopoldina. Paga pelo transporte a inexistente, a irreal quantia de dez cruzeiros.
– Eu achava barato, pra que vou mentir ao senhor que não achava? Me parecia uma camaradagem especial, uma largueza de quem pode pra quem não pode; até rico tem disso, quando está bêbedo. Era o único troço barato na vida. Como tudo mais está pela hora da morte, ficava uma coisa pela outra, quer dizer, não chegava a ficar, mas amolecia. E eu gostava, eu gosto da Leopoldina.
– Realmente, ela foi uma mãe para você.
– Não foi? Por isso é que estou muito chateado comigo mesmo.
– Não entendo, Nicanor.
– A Leopoldina está me convidando a pagar mais vinte cruzeiros pela passagem.
– Então? Não é justo?
– Justo ela diz que é, mas eu não acho não.
– Nicanor!
– Vou ligar o rádio de pilha para o senhor escutar. Não, faz muito barulho, eu resumo, eu resumo. A Leopoldina e a Central vendem por dia oitocentos e vinte mil passagens a dez cruzeiros. Cada passagem custa, batata, sessenta cruzeiros. O prejuízo é de quarenta e um milhões por dia. Então elas propõem à gente rachar o prejuízo, cobrando trinta cruzeiros.
– Boa solução.
– Boa como, se a estrada, quando tudo aumenta duzentos por cento, cobra só metade do custo da passagem, e a gente agora fica sabendo que está roubando dela?
– Roubando nada, Nicanor. Ela mesma é que queria o prejuízo. Você não vai fazer a greve de passageiro por causa disso?
– Aí é que está. Não posso aceitar este sacrifício da Leopoldina, mas vir de a pé é fogo, e de táxi só se eu fosse o motorista ou o atropelado.
– Esqueça essas coisas. Excesso de escrúpulo é doença.
– Ela própria é que me bota isso na cabeça, gritando no rádio e na televisão, de cinco em cinco minutos: “É justo você pagar mais por um chope do que por uma passagem de subúrbio? É justo? É justo?”. Aí, eu respondo cá dentro que não. Aí ela grita que o justo é pagar a metade da passagem. Aí, com a ideia de justiça me formigando na sinagoga, eu sinto que o justo é pagar o preço exato, e fico danado comigo porque, verdade verdade, prefiro pagar trinta a sessenta, e se possível continuar mesmo nos dez, que que há? Mas aí a demonstração me enche tanto que acabo com vontade de gritar: “Cobra logo sessenta! Cento e vinte!”.
Ia explicar a Nicanor que ele sempre pagou muito mais do que dez cruzeiros pela passagem; que, sem perceber, paga o preço de uma cervejaria, e nós também, que não viajamos pela Rede Ferroviária Federal; todos pagamos o déficit. Mas preferi oferecer-lhe um chope, no balcão.
– E quem disse que eu bebo? Penso logo no trem e sinto remorso. Aí, perde o sabor.
(Caminhos de João Brandão, 2016.)
“Mas aí a demonstração me enche tanto que acabo com vontade de gritar: ‘Cobra logo sessenta! Cento e vinte!’.” (19º parágrafo)
Ao se transpor o trecho para o discurso indireto, o termo sublinhado assume a seguinte forma: