Leia o texto a seguir para responder às questão.
À padronização linguística e as atitudes populares A padronização afeta diversas áreas da vida além da língua — cunhagens, pesos e medidas, tomadas elétricas e até latas de molho de tomate. Bens manufaturados geralmente são padronizados de modo que todos os exemplares de qualquer classe sejam idênticos. Nesses casos a uniformidade é obviamente desejável por razões sociais, e sobretudo, econômicas. Assim, na medida em que as línguas têm valores econômicos, aquelas mais afetadas pela padronização (essencialmente as que estão inseridas num contexto de culturas de língua padrão) têm valores econômicos mais altos do que as que são menos afetadas ou nada afetadas. A padronização leva a uma maior eficiência nas trocas de qualquer tipo.
Um efeito extremamente importante da padronização tem sido o desenvolvimento da consciência, entres os falantes, de uma forma de língua “correta” ou canônica. Nas culturas de língua padrão, praticamente todo mundo adere à ideologia da língua padrão, e um aspecto dela é uma firme crença na correção.
Essa crença assume a seguinte forma: quando houver duas ou mais variantes de alguma palavra ou construção, somente uma delas pode estar certa. E considerado óbvio, como senso comum, que algumas formas são certas e outras, erradas. A sentença “eu vi ele”, por exemplo, é obviamente errada, e “eu o vi” é — de forma igualmente óbvia — correta.
Para a maioria das pessoas em culturas de língua padrão é assim e pronto: nenhuma justificativa é necessária para rejeitar “eu vi ele”, e quando alguma justificativa é dada (por exemplo, que o pronome “ele” exerce a função de sujeito, não de objeto), ela é post hoc, isto é vem depois da constatação do erro. De fato, todos os argumentos prescritivos sobre correção que dependem de fatores intralinguísticos são racionalizações post hoc. Portanto, o que determina a noção de correção é o simples senso comum: todo mundo sabe isso, faz parte da cultura saber ISSO, e quem pensar de outra maneira é um marginal, isto é, uma pessoa que não participa da cultura comum, e por isso suas opiniões podem ser descartadas.
É importante ressaltar o quanto o apelo ao senso comum é poderoso. Chamá-lo de “senso comum” implica que qualquer debate sobre a questão é supérfluo: todo mundo seguramente tem que saber que a opinião expressa é a opinião correta — responsável, decente, moral. Os que vierem a discordar dela não podem ser levados a sério: é provável que sejam excêntricos, irresponsáveis, ou talvez, desonestos.
Embora as atitudes linguísticas ancoradas no senso comum sejam ideologicamente carregadas, aqueles que as sustentam não as veem assim. Para eles, os juízos desfavoráveis sobre as pessoas que usam a língua “incorretamente” são juízos puramente linguísticos, sancionados por autoridades sobre língua. As pessoas não associam necessariamente esses juízos com preconceito ou discriminação em termos de raça ou classe social: elas acreditam que, sejam quais forem as características sociais dos falantes que usam formas linguísticas estigmatizadas, estes simplesmente falam de um modo errado e têm todas possibilidades de aprender a falar corretamente. Se não o fazem, é por culpa própria deles, como indivíduos, seja qual for a raça, cor, credo ou classe; existe uma abundância de modelos do “bom” falar para eles.
MILROY, James. Ideologias linguísticas e as consequências da padronização. In: LAGARES, Xoan; BAGNO, Marcos (Org.). Políticas da norma e conflitos linguísticos. São Paulo: Parábola, 2011. p. 58-
No enunciado “A padronização afeta diversas áreas da vida além da língua — cunhagens, pesos e medidas, tomadas elétricas e até latas de molho de tomate”, o uso do travessão equivale, em termos semânticos e sintáticos, ao uso do seguinte sinal de pontuação: