A questão focaliza a peça Auto da compadecida, de Ariano Suassuna.
Chicó: Foi uma velha que me vendeu barato, porque ia se mudar, mas recomendou todo cuidado, porque o cavalo era bento. E só podia ser mesmo, porque cavalo bom como aquele eu nunca tinha visto. Uma vez corremos atrás de uma garrota, das seis da manhã até as seis da tarde, sem parar nem um momento, eu a cavalo, ele a pé. Fui derrubar a novilha já de noitinha, mas quando acabei o serviço e enchocalhei a rês, olhei ao redor, e não conhecia o lugar onde estávamos. Tomei uma vereda que havia assim e saí tangendo o boi...
João Grilo: O boi? Não era uma garrota?
Chicó: Uma garrota e um boi.
João Grilo: E você corria atrás dos dois de uma vez?
Chicó: (Irritado.) Corria, é proibido?
João Grilo: Não, mas eu me admiro é eles correrem tanto
tempo juntos, sem se apartarem. Como foi isso?
Chicó: Não sei, só sei que foi assim. Saí tangendo os bois e
de repente avistei uma cidade. Você sabe que eu comecei a correr da ribeira do Taperoá, na Paraíba. Pois bem,
na entrada da rua perguntei a um homem onde estava e
ele me disse que era Propriá, de Sergipe.
João Grilo: Sergipe, Chicó?
Chicó: Sergipe, João. Eu tinha corrido até lá no meu cavalo.
Só sendo bento mesmo!
João Grilo: Mas Chicó, e o rio São Francisco?
Chicó: Só podia estar seco nesse tempo, porque não me
lembro quando passei... E nesse tempo todo o cavalo ali
comigo, sem reclamar nada!
João Grilo: Eu me admirava era se ele reclamasse.
(Auto da compadecida, 2018.)
Depreende-se desse diálogo uma característica marcante do personagem Chicó.
Tal característica mostra-se relacionada com o conteúdo do seguinte ditado popular: