TEXTO
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
[5] Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
[10] Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
[15] sua raiz vai ao meu avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
PRADO, Adélia Prado. Com Licença Poética. In: PRADO, Adélia. Adélia Prado: Poesia reunida. 6. ed. São Paulo: Siciliano, 1996. p. 11.
A intertextualidade é um dos fatores responsáveis pela construção de sentidos de um texto. Ela é percebida quando um texto faz remissão a outro(s) já produzido(s) e que faz(em) parte da memória dos leitores, por ser(em) reconhecido(s) na literatura.
Considerando o que se afirma acima a respeito da intertextualidade, atente para os seguintes versos do texto.
I. “Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira”. (linhas 01-03)
II. “Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir”. (linhas 06-07)
III. “Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou”. (linhas 17-18)
No que concerne à intertextualidade, é correto afirmar que ela ocorre em