Leia o texto de Claudio Angelo para responder às questão.
Do alto de um morro à beira-mar perto da cidadezinha de Ilulissat, na Groenlândia, é possível ouvir o som do aquecimento global. Coincidência ou não, ele lembra um barulho de motor.
O morro fica na margem de um fiorde que avança quase em linha reta para o interior da ilha. Seja qual for a época do ano, a água ali está permanentemente coalhada de icebergs. A paisagem ao redor é de uma beleza agreste e solitária. O ar, muito seco e límpido, permite ver com clareza as montanhas na outra margem, a quilômetros de distância, e tudo o que existe entre uma e outra são blocos colossais de gelo flutuante, esculpidos em formatos surreais: uns se parecem com navios encalhados, outros com pirâmides, ou com muralhas de um castelo com ameias, ou com catedrais góticas de uma torre só. Alguns têm pontes escavadas pelo mar; outros têm túneis; outros, ainda, ostentam suas próprias praias.
A quietude do local só é quebrada de vez em quando por um barco de pesca ao longe. E por um murmúrio constante que um desavisado poderia facilmente confundir com o ronco de um gerador a diesel, até lembrar que está no meio do nada, numa reserva natural de centenas de quilômetros ao norte do Círculo Polar Ártico. De tempos em tempos, o ronco se eleva num estrondo imenso, como se algo muito grande estivesse explodindo além de onde a vista alcança. E está.
O som vem do gelo se mexendo. O som vem do gelo se esfacelando e tombando sobre a água. O som vem do gelo derretendo.
O fiorde de Ilulissat é o lugar do planeta em que as consequências do aquecimento global deixaram de ser um murmúrio e se tornaram um estrondo.
(A espiral da morte, 2016. Adaptado.)
Segundo o texto, o que distingue a região retratada é que