Leia o trecho do Segundo Ato de O Auto de São Lourenço, para a questão.
Segundo Ato
(Entram três diabos que querem destruir a aldeia com pecados, aos quais resistem São Lourenço, São Sebastião e o Anjo da Guarda, livrando a aldeia e prendendo os tentadores cujos nomes são: Guaixará, que é o rei; Aimbirê e Saravaia, seus criados.)
GUAIXARÁ
Esta virtude estrangeira
me irrita sobremaneira.
Quem a teria trazido,
com seus hábitos polidos
estragando a terra inteira?
Só eu
permaneço nesta aldeia
como chefe guardião.
Minha lei é a inspiração
que lhe dou, daqui vou longe
visitar outro torrão.
Quem é forte como eu?
Como eu, conceituado?
Sou diabo bem assado,
A fama me precedeu:
Guaixará sou chamado.
Meu sistema é o bem viver.
Que não seja constrangido
o prazer, nem abolido.
Quero as tabas acender
com meu fogo preferido.
Boa medida é beber
cauim até vomitar.
Isto é jeito de gozar
a vida, e se recomenda
a quem queira aproveitar.
A moçada beberrona
trago bem conceituada.
Valente é o que se embriaga
e todo o cauim entorna,
e à luta então se consagra.
Que bom costume é bailar!
Adornar-se, andar pintado,
tingir pernas, empenado
fumar e curandeirar,
andar de negro pintado.
Andar matando de fúria,
amancebar-se, comer
um ao outro, e ainda ser
espião, prender Tapuia,
desonesto a honra perder.
Para isso
com os índios convivi.
Vêm os tais padres agora
com regras fora de hora
pra que duvidem de mim.
Lei de Deus que não vigora.
Pois aqui
tem meu ajudante-mor,
diabo bem requeimado,
meu bom colaborador:
grande Aimberê, perversor
dos homens, regimentado.
[...]
ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. p.49-51.
Quanto à estrofação, métrica e rima do trecho de O auto de São Lourenço, verifica-se que os versos das
Leia o trecho do Segundo Ato de O Auto de São Lourenço, para a questão.
Segundo Ato
(Entram três diabos que querem destruir a aldeia com pecados, aos quais resistem São Lourenço, São Sebastião e o Anjo da Guarda, livrando a aldeia e prendendo os tentadores cujos nomes são: Guaixará, que é o rei; Aimbirê e Saravaia, seus criados.)
GUAIXARÁ
Esta virtude estrangeira
me irrita sobremaneira.
Quem a teria trazido,
com seus hábitos polidos
estragando a terra inteira?
Só eu
permaneço nesta aldeia
como chefe guardião.
Minha lei é a inspiração
que lhe dou, daqui vou longe
visitar outro torrão.
Quem é forte como eu?
Como eu, conceituado?
Sou diabo bem assado,
A fama me precedeu:
Guaixará sou chamado.
Meu sistema é o bem viver.
Que não seja constrangido
o prazer, nem abolido.
Quero as tabas acender
com meu fogo preferido.
Boa medida é beber
cauim até vomitar.
Isto é jeito de gozar
a vida, e se recomenda
a quem queira aproveitar.
A moçada beberrona
trago bem conceituada.
Valente é o que se embriaga
e todo o cauim entorna,
e à luta então se consagra.
Que bom costume é bailar!
Adornar-se, andar pintado,
tingir pernas, empenado
fumar e curandeirar,
andar de negro pintado.
Andar matando de fúria,
amancebar-se, comer
um ao outro, e ainda ser
espião, prender Tapuia,
desonesto a honra perder.
Para isso
com os índios convivi.
Vêm os tais padres agora
com regras fora de hora
pra que duvidem de mim.
Lei de Deus que não vigora.
Pois aqui
tem meu ajudante-mor,
diabo bem requeimado,
meu bom colaborador:
grande Aimberê, perversor
dos homens, regimentado.
[...]
ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. p.49-51.
Massaud Moisés assim define o auto: “Vinculado aos mistérios e moralidades, e talvez deles proveniente, o auto designa toda peça breve, de tema religioso ou profano, encenada durante a Idade Média.”
(Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004. p. 45).
No Brasil, o auto foi largamente utilizado com fins catequéticos. O auto de São Lourenço pertence ao conjunto de textos que são denominados de “Quinhentismo” brasileiro.
Acerca das produções textuais do referido período é certo que:
1. correspondem à cosmovisão e intenções dos
autores brasileiros.
2. são consideradas as primeiras produções literárias
e constituem a primeira escola literária no Brasil.
3. tinham, preponderantemente, dois projetos
implícitos: a informação e a catequese.
4. os textos produzidos pelos jesuítas estavam
pautados na tradução, tanto da língua indígena,
quanto de sua cultura e, nesse caso, foi utilizada
com o intuito da aculturação.
5. cartas, tratados descritivos e crônicas foram
gêneros utilizados com a intenção de informar à
Metrópole o potencial econômico da colônia.
6. a estrofe: “Andar matando de fúria/amancebar-se,
comer/um ao outro, e ainda ser/espião, prender
Tapuia,/desonesto a honra perder.” ilustra
concepções a serem rechaçadas, presentes no
projeto salvacionista Jesuíta.
7. as práticas culturais, como se vê no trecho de O
auto de São Lourenço, são consideradas salutares à
evolução cultural que se desenvolverá no Brail e
será caracterizada como sincrética.
8. estavam voltadas, também, para a educação e
formação da elite colonial do Brasil.
9. estavam em consonância com o projeto
econômico e político de expansão colonial.
10. eram preconceituosas, intolerantes e
condescendentes com a cultura do nativo, como
pode se observar no auto de José de Anchieta.
A diferença entre a soma dos números das sentenças corretas e incorretas acima é:
Leia o seguinte trecho do romance Lucíola, de José de Alencar, para a questão.
Capítulo V
As grandes sensações de dor ou de prazer pesam tanto sobre o homem, que o esmagam no primeiro momento e paralisam as forças vitais. É depois que passa esse entorpecimento das faculdades, que o espírito, insigne químico, decompõe a miríada de sensações, e vai sugando a gota de fel ou de essência que ainda estila dos favos apenas libados.
Foi o que me sucedeu; e não sei se no dia seguinte trocaria a voluptuosidade lenta e infinita de minhas recordações ainda recentes por outra hora da febre ardente que na véspera me prostrara nos braços de Lúcia. Mas então não me lembrava que vendo-a, todos os meus desejos, que eu supunha extenuados, iam acordar de novo, tigres famintos da presa em que uma vez se tinham cevado.
[...]
Vi Lúcia sentada na frente do seu camarote, vestida com certa galantaria, mas sem a profusão de adornos e a exuberância de luxo que ostentam de ordinário as cortesãs, ou porque acreditem que a sua beleza, como as caixinhas de amêndoas, cota-se pelo invólucro dourado, ou porque no seu orgulho de anjos decaídos desejem esmagar a casta simplicidade da mulher honesta, quantas vezes defraudada nessa prodigalidade.
Não me posso agora recordar das minúcias do traje de Lúcia naquela noite. O que ainda vejo neste momento, se fecho os olhos, são as nuvens brancas e nítidas, que se frocavam graciosamente, aflando com o lento movimento de seu leque; o mesmo leque de penas que eu apanhara, e que de longe parecia uma grande borboleta rubra pairando no cálice das magnólias. O rosto suave e harmonioso, o colo e as espáduas nuas, nadavam como cisnes naquele mar de leite, que ondeava sobre formas divinas.
A expressão angélica de sua fisionomia naquele instante, a atitude modesta e quase tímida, e a singeleza das vestes níveas e transparentes, davam-lhe frescor e viço de infância, que devia influir pensamentos calmos, senão puros. Entretanto o meu olhar ávido e acerado rasgava os véus ligeiros e desnudava as formas deliciosas que ainda sentia latejar sob meus lábios. As sensações amortecidas se encarnavam de novo e pulsavam com uma veemência extraordinária. Eu sofria a atração irresistível do gozo fruído, que provoca o desejo até a consunção; e conheci que essa mulher ia se tornar uma necessidade, embora momentânea, da minha vida.
– É uma bonita mulher! disse ao meu vizinho, com um ar de indiferença para disfarçar a minha emoção.
– A mais bonita mulher do Rio de Janeiro e também a mais caprichosa e excêntrica. Ninguém a compreende.
– Conheço-a apenas de vista; porém disseram-me que é uma boa moça, muito amável...
– Oh! Posso falar a este respeito. Fui seu amante quatro meses.
– E por que a deixou? Aborreceu-se?
– Não a deixei. É seu costume; um belo dia, sem causa, sem o mínimo pretexto, declara a um homem que as suas relações estão acabadas; e não há que fazer. Podem oferecer-lhe somas loucas, é tempo perdido. Também no dia seguinte, ou no mesmo, daí a uma hora, toma outro amante que não conhece, que nunca viu.
– Todas são assim, com pouca diferença; ninguém sabe qual é o fio que faz dançar essas bonecas de papelão.
– Nem tanto. Há mulheres, que, ou por interesse, ou por amizade, ou mesmo por hábito, se inquietam com a ideia de que seu amante as abandone; mas para esta é absolutamente indiferente. Tem dias em que está de um humor insuportável: fica uma estátua, e não há forças humanas que possam arrancar daquela massa inerte um sorriso, uma palavra, um movimento. Se o homem não possui grande dose de paciência para sofrê-la calado, ela fecha-lhe a porta muito delicadamente, e manda-lhe dizer pela criada – “que tenha a bondade de deixá-la tranquila para todo o sempre”. – E uma vez dito, não volta.
– Para quem tem direitos adquiridos, pareceme um tanto forte!
– É o seu engano, continuou o Cunha que estava de veia. A Lúcia não admite que ninguém adquira direitos sobre ela. Façam-lhe as propostas mais brilhantes: sua casa é sua e somente sua; ela o recebe, sempre como hóspede; como dono, nunca. Na ocasião em que o senhor a toma por amante, ela previne-o de que reserva-se plena liberdade de fazer o que quiser e de deixá-lo quando lhe aprouver, sem explicações e sem pretextos, o que sucede invariavelmente antes de seis meses; está entendido que lhe concede o mesmo direito.
[...]
ALENCAR, José de. Lucíola. 16. ed. São Paulo: Ática, 1992, p. 27.
O romance Lucíola de José de Alencar faz parte da corrente literária denominada Romantismo. A respeito de tal escola literária, no Brasil, Dante Moreira Leite comenta: “O conceito que, para quase todos, representa mais de perto o Romantismo é o desequilíbrio. Há, fundamentalmente, o desequilíbrio entre o ideal do romântico e a realidade que pode atingir; daí a revolta diante do destino, ou diante das limitações impostas ao indivíduo, bem como de sua atitude de fuga, ora para o passado ora para a utopia e os movimentos de libertação.”
Romantismo: a independência e a formação de uma imagem positiva do Brasil e dos brasileiros. In: O caráter nacional brasileiro. São Paulo: Unesp, 2002. p.215.
Acerca das características do movimento e da estética Romântica, é verdade que:
1. é considerado, também, além de uma escola literária, um modo de vida que rompe com o racionalismo do Iluminismo e do Neoclassicismo.
2. enfatiza, em suas produções, o subjetivismo, o individualismo e a liberdade de criação.
3. propõe uma ruptura com a tradição clássica, embora resgate o passado histórico como uma de suas principais características.
4. valoriza e incorpora as características do sobrenatural e do mistério em suas produções narrativas, como por exemplo, nos contos de Álvares de Azevedo.
5. busca, na exaltação da Natureza, inspiração para o desenvolvimento de ideias e ideais, tais como o do “Bom selvagem”. Tal concepção apregoa que o homem é bom e puro, se em contato com a natureza, já que o espaço social é um espaço corrompido.
6. tem como uma de suas principais características a idealização do amor, desde que o suposto amor não infrinja regras socialmente constituídas.
7. a prosa encontra muitas possibilidades de manifestação, ou seja, as tendências temáticas são diversas e, entre elas, encontram-se as tendências: urbana, regionalista, histórica e indianista.
8. para os poetas e escritores vinculados ao Romantismo, a idealização da realidade pode ser tomada como um refúgio, uma fuga para mundos imaginários.
9. vincula-se, também, a questões sociais, como no caso do Brasil, em que alguns de seus autores pleiteavam a independência política e a abolição da escravatura.
10. uma das evidências da busca de certa autonomia “nacionalista” com relação a influência europeia é a adoção de um mito nacional, que resgata o passado histórico do Brasil: o indígena brasileiro.
A soma dos números correspondentes às sentenças acima corretas é:
Leia o poema para resolver a questão.
A POESIA
Onde está
a poesia? Indaga-se
por toda parte. E a poesia
vai à esquina comprar jornal.
Cientistas esquartejam Púchkin e Baudelaire.
Exegetas desmontam a máquina da linguagem.
A poesia ri.
Baixa-se uma portaria: é proibido
misturar o poema com Ipanema.
O poeta depõe no inquérito:
meu poema é puro, flor
sem haste, juro!
Não tem passado nem futuro.
Não sabe a fel nem sabe a mel:
é de papel.
Não é como a açucena
que efêmera
passa.
E não está sujeito a traça
pois tem a proteção do inseticida.
Creia,
o meu poema está infenso à vida.
Claro, a vida é suja, a vida é dura.
E sobretudo insegura:
“Suspeito de atividades subversivas foi detido ontem
o poeta Casimiro de Abreu.”
“A Fábrica de Fiação Camboa abriu falência e deixou
sem emprego uma centena de operários.”
“A adúltera Rosa Gonçalves, depondo na 3ª Vara de Família,
afirmou descaradamente: ‘Traí ele, sim. O amor acaba, seu juiz.’”
O anel que tu me deste
era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou
Era pouco? era muito?
Era uma fome azul e navalha
uma vertigem de cabelos dentes
cheiros que traspassam o metal
e me impedem de viver ainda
Era pouco? Era louco,
um mergulho
no fundo de tua seda aberta em flor embaixo
onde eu morria
Branca e verde
branca e verde
branca branca branca branca
E agora
recostada no divã da sala
depois de tudo
a poesia ri de mim
Ih, é preciso arrumar a casa
que Andrey vai chegar
É preciso preparar o jantar
É preciso ir buscar o menino no colégio
lavar a roupa limpar a vidraça
O amor
(era muito? era pouco?
era calmo? era louco?)
passa
A infância
passa
a ambulância
passa
Só não passa, Ingrácia,
A tua grácia!
E pensar que nunca mais a terei
real e efêmera (na penumbra da tarde)
como a primavera.
E pensar
que ela também vai se juntar
ao esqueleto das noites estreladas
e dos perfumes
que dentro de mim gravitam
feito pó
(e um dia, claro,
ao acender um cigarro
talvez se deflagre com o fogo do fósforo
seu sorriso
entre meus dedos. E só).
Poesia – deter a vida com palavras?
Não – libertá-la,
fazê-la voz e fogo em nossa voz. Po-
esia – falar
o dia
acendê-lo do pó
abri-lo
como carne em cada sílaba, deflagrá-lo
como bala em cada não
como arma em cada mão
E súbito da calçada sobe
e explode
junto ao meu rosto o pás-
saro? o pás-
?
Como chamá-lo? Pombo? Bomba? Prombo? Como?
Ele
bicava o chão há pouco
era um pombo mas
súbito explode
em ajas brulhos zules bulha zalas
e foge!
como chamá-lo? Pombo? Não:
poesia
paixão
revolução
GULLAR Ferreira. Dentro da noite veloz. In: Toda poesia. 20. ed. São Paulo: José Olímpio, 2010, p. 223.
A poética de Ferreira Gullar não é estática. Sua produção abarcou diversos movimentos de grande vulto na cena literária brasileira. Homem de seu tempo, o poeta tomou como matéria poética eventos históricos, econômicos e sociais de sua época, bem como refletiu no próprio “corpo poético” suas inquietações acerca da arte e do ser e estar no mundo.
A respeito da poética gullariana, é certo que:
1. está vinculada, inicialmente, ao Modernismo de segunda geração, que apresenta como uma de suas principais características a tentativa de aproximar a escrita da oralidade.
2. há uma intensa preocupação com a linguagem e com a experimentação temática e formal.
3. é influenciada pelos movimentos de Vanguarda Europeia, o que resultou em uma poesia marcada pela ruptura com os moldes decadentistas.
4. é fortemente influenciada pelas vanguardas poéticas brasileiras, que tiveram lugar nas décadas de 50 e 60 no Brasil, entre as quais encontra-se o concretismo.
5. apresenta uma dimensão social e politizada, sendo, por isso, também chamada de “arte pela arte”.
6. contempla, em sua diversidade, poemas em prosa e a literatura de cordel.
7. tem como uma de suas características mais enfáticas a necessidade de reflexão e compreensão da relação indivíduo/sociedade.
8. em sua produção, a poesia metalinguística ocupa lugar de destaque.
9. contempla, essencialmente, temas universais humanos.
10. divide espaço com uma poesia de cunho espiritualista, na segunda fase do Modernismo brasileiro.
A soma dos números das sentenças acima corretas é:
Leia o poema para resolver a questão.
A POESIA
Onde está
a poesia? Indaga-se
por toda parte. E a poesia
vai à esquina comprar jornal.
Cientistas esquartejam Púchkin e Baudelaire.
Exegetas desmontam a máquina da linguagem.
A poesia ri.
Baixa-se uma portaria: é proibido
misturar o poema com Ipanema.
O poeta depõe no inquérito:
meu poema é puro, flor
sem haste, juro!
Não tem passado nem futuro.
Não sabe a fel nem sabe a mel:
é de papel.
Não é como a açucena
que efêmera
passa.
E não está sujeito a traça
pois tem a proteção do inseticida.
Creia,
o meu poema está infenso à vida.
Claro, a vida é suja, a vida é dura.
E sobretudo insegura:
“Suspeito de atividades subversivas foi detido ontem
o poeta Casimiro de Abreu.”
“A Fábrica de Fiação Camboa abriu falência e deixou
sem emprego uma centena de operários.”
“A adúltera Rosa Gonçalves, depondo na 3ª Vara de Família,
afirmou descaradamente: ‘Traí ele, sim. O amor acaba, seu juiz.’”
O anel que tu me deste
era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou
Era pouco? era muito?
Era uma fome azul e navalha
uma vertigem de cabelos dentes
cheiros que traspassam o metal
e me impedem de viver ainda
Era pouco? Era louco,
um mergulho
no fundo de tua seda aberta em flor embaixo
onde eu morria
Branca e verde
branca e verde
branca branca branca branca
E agora
recostada no divã da sala
depois de tudo
a poesia ri de mim
Ih, é preciso arrumar a casa
que Andrey vai chegar
É preciso preparar o jantar
É preciso ir buscar o menino no colégio
lavar a roupa limpar a vidraça
O amor
(era muito? era pouco?
era calmo? era louco?)
passa
A infância
passa
a ambulância
passa
Só não passa, Ingrácia,
A tua grácia!
E pensar que nunca mais a terei
real e efêmera (na penumbra da tarde)
como a primavera.
E pensar
que ela também vai se juntar
ao esqueleto das noites estreladas
e dos perfumes
que dentro de mim gravitam
feito pó
(e um dia, claro,
ao acender um cigarro
talvez se deflagre com o fogo do fósforo
seu sorriso
entre meus dedos. E só).
Poesia – deter a vida com palavras?
Não – libertá-la,
fazê-la voz e fogo em nossa voz. Po-
esia – falar
o dia
acendê-lo do pó
abri-lo
como carne em cada sílaba, deflagrá-lo
como bala em cada não
como arma em cada mão
E súbito da calçada sobe
e explode
junto ao meu rosto o pás-
saro? o pás-
?
Como chamá-lo? Pombo? Bomba? Prombo? Como?
Ele
bicava o chão há pouco
era um pombo mas
súbito explode
em ajas brulhos zules bulha zalas
e foge!
como chamá-lo? Pombo? Não:
poesia
paixão
revolução
GULLAR Ferreira. Dentro da noite veloz. In: Toda poesia. 20. ed. São Paulo: José Olímpio, 2010, p. 223.
Analise as sentenças acerca do poema Poesia e identifique-as como ‘Falsas (F)’ ou ‘Verdadeiras (V)’:
1. Em “[...]E a poesia/vai à esquina comprar jornal.” é evidente a característica da “poesia cotidiana”, elaborada a partir de fatos e elementos rotineiros em oposição à temas considerados universais.
2. “A poesia ri.” denota uma posição poética e de liberdade sarcástica, já que a “arte pela arte” presente no poema não deve estar a serviço de, não deve ser funcional.
3. “Baixa-se uma portaria: é proibido/misturar o poema com Ipanema.” faz menção à censura da ditadura militar no Brasil.
4. Há fusão de gêneros literários na quarta estrofe.
5. Há fusão de gêneros textuais na quinta estrofe, o que pode ser exemplificado pela presença da cantiga de roda.
6. A estrutura tradicional formal do poema está influenciada pelas vanguardas europeias.
7. Dos versos “Poesia – deter a vida com palavras?/Não – libertá-la,/fazê-la voz e fogo em nossa voz.[...]” depreende-se tanto a função da poesia como a função do poeta.
8. Uma das temáticas desenvolvidas no poema é a efemeridade da vida.
9. Os versos “Po-/esia – falar/o dia/acendê-lo do pó/abri-lo/como carne em cada sílaba, de-/flagrálo/como bala em cada não/como arma em cada mão [...]” conotam a poesia como poderoso meio de combate.
10. A fragmentação de versos, palavras e sílabas poéticas é um recurso poético que remete à fragmentação do homem moderno.
A alternativa que contempla a sequência correta dos julgamentos das afirmações é: