Leia a letra da música de Luiz Melodia, para a Questão.
Fadas
Devo de ir, fadas
Inseto voa em cego sem direção
Eu bem te vi, nada
Ou fada borboleta, ou fada canção
As ilusões fartas
Da fada com varinha virei condão
Rabo de pipa, olho de vidro
Pra suportar uma costela de Adão
Um toque de sonhar sozinho
Te leva a qualquer direção
De flauta, remo ou moinho
De passo a passo passo...
Disponível em: https://www.letras.mus.br/luiz-melodia/47112/. Acesso em: 13 jun. 2016.
De acordo com Regina Zilberman (1989, p.33), “A possibilidade de a obra se atualizar como resultado de uma leitura é o sistema de que está viva; porém, como as leituras diferem a cada época, a obra mostra-se mutável, contrária a (sic) sua fixação numa essência sempre igual e alheia ao tempo. Historicidade coincide com atualização, e esta aponta para o indivíduo capaz de efetivá-la: o leitor.”
Acerca da leitura e possíveis atualizações da letra da música Fadas, é verdade que:
1. há um intertexto bíblico com o Gênesis e crenças pagãs.
2. existe antagonismo entre sagrado e profano atribuído à figura da mulher idealizada, pura e inalcansável não recorrente no Simbolismo.
3. o verso “De flauta, remo ou moinho” pressupõe meio, possibilitando remissões intertextuais tanto à ‘barca de caronte’, que leva mortos ao Ades, quanto aos moinhos de vento, em Dom Quixote.
4. a figura feminina está condicionada ao machismo, ao preconceito de gênero, a algo volátil, mutável e disperso, como “fada borboleta”.
5. o eu-lírico demonstra que é forçado a ter para com a mulher uma atitude condescendente e complacente quanto aos seus defeitos, o que é comprovado no verso “rabo de pipa, olho de vidro”.
6. a figura de estilo em “suportar uma costela de adão” é a metonímia.
7. o eu-lírico, ao utilizar as palavras ‘fartas’ e ‘suportar’, revela-se insatifeito com a figura ‘hetero’ de sua relação.
8. o verso “da fada com varinha virei condão” sugere uma relação simbiótica entre homem e mulher.
9. em “De passo a passo passo” o último léxico remete a ideia temporal e seus dois homógrafos/homófonos a ações.
10. O poema em seu todo não é uma referência metalinguística a “fadas”, pois faz alusão a ‘destinos’. A soma dos números das afirmações inteiramente corretas, em relação à letra Fadas é:
Leia o excerto de Luzia-Homem para as Questão.
O francês Paul – misantropo devoto e excelente fabricante de sinetes que, na despreocupada viagem de aventura pelo mundo, encalhara em Sobral – costumava vaguear pelos ranchos de retirantes, colhendo, com apurada e firme observação, documentos da vida do povo, nos seus aspectos mais exóticos, ou rabiscando notas curiosas, ilustradas com esboços de tipos originais, cenas e paisagens – trabalho paciente e douto, perdido no seu espólio de alfarrábios, de coleções de Botânica e Geologia, quando morreu, inanido pelos jejuns, como um santo.
Um dia, visitando as obras da cadeia, escreveu ele, com assombro, no seu caderno de notas:
“Passou por mim uma mulher extraordinária, carregando uma parede na cabeça.”
Era Luzia, conduzindo para a obra, arrumados sobre uma tábua, cinquenta tijolos.
Viram-na outros levar, firme, sobre a cabeça, uma enorme jarra d'água, que valia três potes, de peso calculado para a força normal de um homem robusto. De outra feita, removera, e assentara no lugar próprio, a soleira de granito da porta principal da prisão, causando pasmo aos mais valentes operários, que haviam tentado, em vão, a façanha e, com eles, Raulino Uchoa, sertanejo hercúleo e afamado, prodigioso de destreza, que chibanteava em pitorescas narrativas.
Em plena florescência de mocidade e saúde, a extraordinária mulher, que tanto impressionara o francês Paul, encobria os músculos de aço sob as formas esbeltas e graciosas das morenas moças do sertão. Trazia a cabeça sempre velada por um manto de algodãozinho, cujas curelas prendia aos alvos dentes, como se, por um requinte de casquilhice, cuidasse com meticuloso interesse de preservar o rosto dos raios do sol e da poeira corrosiva, a evolar em nuvens espessas do solo adusto, donde ao tênue borrifo de chuvas fecundantes, surgiam, por encanto, alfombras de relva virente e flores odorosas. Pouco expansiva, sempre em tímido recato, vivia só, afastada dos grupos de consortes de infortúnio, e quase não conversava com as companheiras de trabalho, cumprindo, com inalterável calma, a sua tarefa diária, que excedia à vulgar, para fazer jus a dobrada ração.
– É de uma soberbia desmarcada – diziam as moças da mesma idade, na grande maioria desenvoltas ou deprimidas e infamadas pela miséria.
– A modos que despreza de falar com a gente, como se fosse uma senhora dona – murmuravam os rapazes remordidos pelo despeito da invencível recusa, impassível às suas insinuações galantes.
– Aquilo nem parece mulher fêmea – observava uma velha alcoveta e curandeira de profissão.
– Reparem que ela tem cabelos nos braços e um buço que parece bigode de homem...
– Qual, tia Catirina! O Lixande que o diga! – maldou uma cabocla roliça e bronzeada, de dentes de piranha, toda adornada de jóias de pechisbeque e fios de miçanga, muito besuntada de óleos cheirosos.
– Não diga isso que é uma blasfêmia – atalhou Teresinha loura, delgada e grácil, de olhar petulante e irônico, toda ela requebrada em movimentos suaves de gata amorosa.
– Por ela eu puno; meto a mão no fogo...
– Havia de sair torrada. Isso de mulher, hoje em dia, é mesmo uma desgraceira...
– Mas você não pode negar que ela vive no seu canto sossegada sem se importar com a vida dos outros e fazendo pela sua, como uma moura de trabalho. Vocês, suas invejosas, não a poupam; não tendo para dizer dela um tico assim, vivem a maldar, a inventar intrigas e suspeitas. Nem que ela fosse uma despencada do mundo...
– Tu a defendes, porque és parceira dela...
– Antes fosse!... Outros galos me cantariam. Não andaria aqui, sem eira nem beira, metida nesta canalhada de retirantes... Quem me dera ser como Luzia, moça de respeito e de vergonha...
– Quem perdeu tudo isso para ela achar?... – obtemperou numa rasgada gargalhada de sarcasmo brutal, a roliça cabocla de agudos dentes.
– Qual?... Vão atrás da sonsa!...
– Deixem estar que há de ser como as outras. Em boniteza, verdade, verdade, mete vocês todas num chinelo. Aquilo é mulher para dar e apanhar – disse chasqueando um soldado de linha, destacado no Curral do Açougue, para manter a ordem, pois não raro rixavam e se engalfinhavam mulheres, ou se esboroavam homens por fúteis pretextos: houvera mesmo sérios conflitos e lutas sangrentas, tão abatido estava, naquela pobre gente o senso moral
– Vão ver que você, seu Crapiúna, também está fazendo roda a Luzia-Homem?!...
Crapiúna, o tal soldado, era mal afamado entre os homens e muito acatado pelas mulheres, graças à correção do fardamento irrepreensível, os botões dourados, o cinturão e a baioneta polidos e reluzentes: todo ele tresandando ao patchouly da pomada, que lhe embastia a marrafa e o bigode, teso e fino como um espeto. Possuía, apesar das duras feições, o encanto militar, a que é tão caroável o animal caprichoso, e fútil, a mulher de todas as categorias e condições sociais, talvez porque, sendo fraca, naturalmente, se deixa atrair pelas manifestações da força.
Contavam dele histórias emotivas, aventuras galantes, feitos de bravura, façanhas na perseguição de criminosos célebres; ele estivera nas escoltas que prenderam o facínora José Gabriel e o cangaceiro Zé Antônio do Fechado, cavaleiro e bravo à antiga, de raça de heróis, os Brilhantes, Ataídes, e Vicente Lopes do Caminhadeira, representantes dispersos, atávicos, espécimes ferozes de banditismo que foi a glória de Portugal, e lhe conquistou mundos, descobrindo-os, roubando-os com a indômita coragem de piratas, consagrados pela imperecível gratidão da pátria à póstera veneração.
Não faltavam ao soldado feitos que lhe aumentassem o prestígio de pessoa bem conformada, sem vícios que lhe dessem o realce de um afortunado. Dizia-se, à puridade, nos colóquios da protérvia popular, que, antes de ser recrutado por audácias sensuais, e envergar a farda, fora guarda-costas de um famigerado fazendeiro da Barbalha, onde executara proezas cruéis, de pasmar, em verdes anos, pois mal lhe despontava, então, o buço. Tinha o ativo de três mortes e outros crimes menores, valendo-lhe isto por título ao temeroso respeito do povo.
OLYMPIO, domingos. Luzia-Homem. Tecnoprint: Rio de Janeiro, s/d. p.15-18.
Veja os vocábulos enumerados no trecho abaixo e identifique somente a alternativa na qual as funções e/ou estruturas são corretas:
– Mas 1você não pode negar 2que ela vive no seu canto sossegada 3 sem se importar com a vida dos outros e 4fazendo 5pela sua, 6 como uma moura de trabalho. Vocês, suas invejosas, não a poupam; não tendo para dizer dela um 7tico assim, vivem a maldar, a inventar intrigas e suspeitas. Nem 8que ela fosse uma despencada do mundo...
– 9Tu a defendes, porque és parceira dela...
– Antes fosse!... Outros 10galos me cantariam.
OLYMPIO, domingos. Luzia-Homem. Tecnoprint: Rio de Janeiro, s/d. p.15-18.
Leia o trecho de Ana Terra para resolver a Questão.
Ana sentia-se animada, com vontade de viver, sabia que por piores que fossem as coisas que estavam por vir, não podiam ser tão horríveis como as que já tinha sofrido. Esse pensamento dava-lhe uma grande coragem. E ali deitada no chão, a olhar para as estrelas, ela se sentia agora tomada por uma resignação que chegava quase a ser indiferença. Tinha dentro de si uma espécie de vazio: sabia que nunca mais teria vontade de rir nem de chorar. Queria viver, isso queria, e em grande parte por causa de Pedrinho, que afinal de contas não tinha pedido a ninguém para vir ao mundo. Mas queria viver também de raiva, de birra. A sorte andava sempre virada contra ela. Pois Ana estava agora decidida a contrariar o destino. Ficara louca de pesar no dia em que deixara Sorocaba para vir morar no Continente. Vezes sem conta tinha chorado de tristeza e de saudade naqueles cafundós. Vivia com o medo no coração, sem nenhuma esperança de dias melhores, sem a menor alegria, trabalhando como uma negra, e passando frio e desconforto... Tudo isso por quê? Porque era a sua sina. Mas uma pessoa pode lutar contra a sorte que tem. Pode e deve. E agora ela tinha enterrado o pai e o irmão e ali estava, sem casa, sem amigos, sem ilusões, sem nada, mas teimando em viver. Sim, era pura teimosia. Chamava-se Ana Terra. Tinha herdado do pai o gênio de mula.
Soergueu o busto, olhou as coxilhas em torno e avistou um fogo, muito longe, na direção do nascente.
“Boitatá” – pensou. E lembrou-se imediatamente da noite de verão em que Pedro Missioneiro, acocorado na frente do rancho, lhes contara a história da teiniaguá. O fogo que ela via agora parecia uma estrela caída, graúda e amarelona. E como ela não se apagasse, Ana concluiu que devia ser o fogo dum acampamento. Soldados? Ao pensar nisso tornou a sentir o cheiro dos castelhanos, e a lembrança de homem lhe trouxe de novo uma sensação de repulsa e de ódio. Mas podia bem ser o acampamento dum carreteiro, e nesse caso a carreta podia passar por ali no dia seguinte. Ana Terra começou a sentir no corpo o calor duma esperança nova. Iam ver gente, talvez gente de bem, algum tropeiro continentino que vinha da vila do Rio Pardo... Tornou a deitar-se, mas continuou a olhar para o fogo. Pouco a pouco o sono começou a pesar-lhe nas pálpebras. Ana cerrou os olhos, dormiu e sonhou que andava numa carreta, muito devagar, e ia para Rio Pardo, cidade que ficava muito longe, e todo o tempo da viagem ela chorava, porque Pedrolucinho tinha ficado sepultado no alto duma coxilha: ela mesma o enterrara vivo, só porque o coitadinho não era bem branco; e por isso agora chorava, enquanto as rodas da carreta chiavam e o carreteiro gritava: Ooche, boi! Ooche, boi!
VERÍSSIMO, Érico. Ana Terra. Companhia das Letras: São Paulo, 2005. p. 70-71.
Analise as afirmações identificadas por letras maiúsculas acerca do trecho seguinte:
Vivia com o medo no coração, sem nenhuma esperança de dias melhores, sem a menor alegria, trabalhando como uma negra, e passando frio e desconforto... Tudo isso por quê? Porque era a sua sina. Mas uma pessoa pode lutar contra a sorte que tem. Pode e deve. E agora ela tinha enterrado o pai e o irmão e ali estava, sem casa, sem amigos, sem ilusões, sem nada, mas teimando em viver. Sim, era pura teimosia. Chamava-se Ana Terra. Tinha herdado do pai o gênio de mula.
VERÍSSIMO, Érico. Ana Terra. Companhia das Letras: São Paulo, 2005. p. 70-71.
A=> Considerando todo o trecho, o substantivo “negra” é o primeiro indicador do sujeito do verbo que inicia o primeiro período.
B=> O trecho “com o medo no coração, sem nenhuma esperança de dias melhores, sem a menor alegria” não é complemento verbal.
C=> O trecho que sucede “Vivia” até as reticências tem sentido restrito a como, da estrutura narrativa.
D=> Em “Tudo isso por quê?” as duas primeiras palavras têm função pronominal respectivamente de delimitação e demonstração e as duas últimas têm função perquiritiva.
E=> “Porque era a sua sina.” tem estrutura de período e de oração, mas não tem estrutura de frase, visto que o conceito da gramática normativa acusa ‘verbo’ na estrutura de período e de oração e de ‘sentido completo’ na estrutura de frase.
F=> Segundo a gramática normativa, o trecho “Mas uma pessoa pode lutar contra a sorte que tem.” inicia-se com um conectivo adversativo ao sentido de “sina” e ao sentido do texto antecedente, estruturando-se a seguir por três ideias centradas em verbos, tendo o segundo destes, sentido ilimitado no tempo, na função de complemento direto do primeiro, e tendo “a sorte” como complemento do último.
G=> “Pode e deve.” é um trecho que se caracteriza como marca da oralidade em relação ao todo e tem como complementos todos os vocábulos que o antecedem.
H=> Provas de que o narrador seja do tipo onisciente e intruso são: “Porque era a sua sina./ Pode e deve./ tinha enterrado o pai e o irmão/ mas teimando em viver/ Sim, era pura teimosia./ gênio de mula”.
I=> A ordem inversa da sequência da apresentação das ações, imagens e sentimentos da personagem antes de seu nome cria expectativas no leitor.
J=> O trecho traz em seu todo, evidentes marcas da linguagem oral de um narrador onisciente
A alternativa que contém a sequência alfabética correta somente das afirmações completamente corretas é:
Leia o trecho de Eles não usam black-tie para responder a Questão.
Tião – Papai...
Otávio – Me desculpe, mas seu pai ainda não chegou. Ele deixou um recado comigo, mandou dizer pra você
que ficou muito admirado, que se enganou. E pediu pra você tomá outro rumo, porque essa não é casa de furagreve!
Tião – Eu vinha me despedir e dizer só uma coisa: não foi por covardia!
Otávio – Seu pai me falou sobre isso. Ele também procura acreditá que num foi por covardia. Ele acha que
você até que teve peito. Furou a greve e disse pra todo mundo, não fez segredo. Não fez como o Jesuíno que
furou a greve sabendo que tava errado. Ele acha, o seu pai, que você é ainda mais filho da mãe! Que você é um
traidô dos seus companheiro e da sua classe, mas um traidô que pensa que tá certo! Não um traidô por covardia,
um traidô por convicção!
Tião – Eu queria que o senhor desse um recado a meu pai...
Otávio – Vá dizendo.
Tião – Que o filho dele não é um "filho da mãe". Que o filho dele gosta da sua gente, mas que o filho dele tinha
um problema e quis resolvê esse problema de maneira mais segura. Que o filho é um homem que quer bem!
Otávio – Seu pai vai ficá irritado com esse recado, mas eu digo. Seu pai tem outro recado pra você. Seu pai
acha que a culpa de pensá desse jeito não é sua só. Seu pai acha que tem culpa.
Tião – Diga a meu pai que ele não tem culpa nenhuma.
Otávio – Se eu tivesse te educado mais firme, se te tivesse mostrado melhor o que é a vida, tu não pensaria em
não ter confiança na tua gente...
Tião – Meu pai não tem culpa. Ele fez o que devia. O problema é que não podia arriscá nada. Preferi tê o
desprezo do meu pessoal pra poder querer bem, como eu quero querer, a tá arriscado a vê minha mulhé sofrê
como minha mãe sofre, como todo mundo nesse morro sofre!
Otávio – Teu pai acha que tem culpa!
Tião – Tem culpa de nada, pai!
[...]
Romana (entrando) – Te mandou embora mesmo, não é?
Tião – Mandou!
Romana – Eu digo que vocês tudo estão com a cabeça virada!
Tião – Não foi por covardia e não me arrependo!
Romana – Eu sei. Tu é teimoso... e é um bom rapaz.
(...)
Tião – Não posso ficá, Maria... Não posso fica! ...
Maria (Para de chorar. Enxuga as lágrimas) – Então, vai embora... eu fico. Eu fico com Otavinho... Crescendo
aqui, ele vai tê medo... e quando tu acreditá na gente... por favor, volta! (sai)
Tião – Maria, espera! (correndo, segue Maria. Pausa.)
Otávio (entrando) – Já acabou?
Romana – Vai falar com ele, Otávio... vai!
Otávio – Enxergando melhó a vida, ele volta. (retorna ao quarto. Entram Chiquinho e Teresinha)
Chiquinho – Sabe, mãe, aquele samba...
Teresinha – O samba do "Nós não usa black-tie".
Chiquinho – Tá tocando no rádio...
Romana – O quê?
Teresinha – O samba do Juvêncio, aquele mulato das bandas do Cruzeiro!
Chiquinho – Ele tá chateado à beça. O samba tá com o nome de outro cara. (sai correndo)
Teresinha – Eu fiquei com pena do Juvêncio. Ta perto da bica, chorando! Chiquinho! (sai)
Romana, sozinha. Chora mansamente. Depois de alguns instantes, vai até a mesa e começa a separar o feijão.
Funga e enxuga os olhos...
Romana, sozinha. Chora mansamente. Depois de alguns instantes, vai até a mesa e começa a separar o feijão. Funga e enxuga os olhos...
GUARNIERI, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2014. p. 101-103/107-108.
A peça teatral de Gianfrencesco Guarnieri evidencia aspectos históricos e sociais do século XX no Brasil, sobretudo das relações trabalhistas e do movimento do operariado brasileiro. De cunho moderno, tal peça está amparada nos pressupostos do gênero dramático e resulta da evolução do referido gênero literário no tempo.
Examine as sentenças acerca do trecho de Eles não usam black-tie, julgando-as por meio dos sinais C para corretas e I para incorretas.
1. Utiliza uma linguagem caracterizadora da classe social dos personagens envolvidos no drama: simples, cotidiana, ou às vezes vulgar.
2. Seguindo os moldes do gênero trágico, representa os homens melhores do que são, com ênfase em honradez, caráter e justiça – características constantes desta obra e das obras dramatúrgicas da modernidade.
3. As indicações de cena são incorporadas ao texto literário na modernidade para dar maior veracidade às produções.
4. A obra em questão trata de uma temática essencialmente brasileira e nova, já que as questões sociais e as teorias relacionadas ao trabalho só surgiram na segunda metade do Século XX.
5. A predominância neste tipo de gênero literário contempla longas descrições e longos períodos narrativos, o que muitas vezes prejudica o entendimento da história.
6. A função da literatura predominante encontrada em Eles não usam black-tie diz respeito à literatura de cunho político, aquela que tem como uma das características primordiais levar o leitor à reflexão e a uma possível ação.
7. O texto remete à cultura popular brasileira a partir do título extraído do nome de um samba, em tom depreciativo, já que o samba tem origem nas senzalas brasileiras.
8. A presença de temas universais como amor paterno e materno e posicionamentos do ser frente a questões morais é recorrente no gênero dramático, e aqui se repete, mas incorporando preocupações da modernidade.
9. A presença do narrador, em Eles não usam black-tie, permite uma visão mais ampla do contexto socioeconômico da época, já que ele dá uma visão de envolvimento com os fatos.
10. Essa peça, enquanto gênero literário dramático, mantém a tensão, impelindo a ação para o desfecho final.
Identifique a alternativa em que a sequência dos julgamentos das sentenças enumeradas acima é correta.
Leia o trecho de Eles não usam black-tie para responder a Questão.
Tião – Papai...
Otávio – Me desculpe, mas seu pai ainda não chegou. Ele deixou um recado comigo, mandou dizer pra você
que ficou muito admirado, que se enganou. E pediu pra você tomá outro rumo, porque essa não é casa de furagreve!
Tião – Eu vinha me despedir e dizer só uma coisa: não foi por covardia!
Otávio – Seu pai me falou sobre isso. Ele também procura acreditá que num foi por covardia. Ele acha que
você até que teve peito. Furou a greve e disse pra todo mundo, não fez segredo. Não fez como o Jesuíno que
furou a greve sabendo que tava errado. Ele acha, o seu pai, que você é ainda mais filho da mãe! Que você é um
traidô dos seus companheiro e da sua classe, mas um traidô que pensa que tá certo! Não um traidô por covardia,
um traidô por convicção!
Tião – Eu queria que o senhor desse um recado a meu pai...
Otávio – Vá dizendo.
Tião – Que o filho dele não é um "filho da mãe". Que o filho dele gosta da sua gente, mas que o filho dele tinha
um problema e quis resolvê esse problema de maneira mais segura. Que o filho é um homem que quer bem!
Otávio – Seu pai vai ficá irritado com esse recado, mas eu digo. Seu pai tem outro recado pra você. Seu pai
acha que a culpa de pensá desse jeito não é sua só. Seu pai acha que tem culpa.
Tião – Diga a meu pai que ele não tem culpa nenhuma.
Otávio – Se eu tivesse te educado mais firme, se te tivesse mostrado melhor o que é a vida, tu não pensaria em
não ter confiança na tua gente...
Tião – Meu pai não tem culpa. Ele fez o que devia. O problema é que não podia arriscá nada. Preferi tê o
desprezo do meu pessoal pra poder querer bem, como eu quero querer, a tá arriscado a vê minha mulhé sofrê
como minha mãe sofre, como todo mundo nesse morro sofre!
Otávio – Teu pai acha que tem culpa!
Tião – Tem culpa de nada, pai!
[...]
Romana (entrando) – Te mandou embora mesmo, não é?
Tião – Mandou!
Romana – Eu digo que vocês tudo estão com a cabeça virada!
Tião – Não foi por covardia e não me arrependo!
Romana – Eu sei. Tu é teimoso... e é um bom rapaz.
(...)
Tião – Não posso ficá, Maria... Não posso fica! ...
Maria (Para de chorar. Enxuga as lágrimas) – Então, vai embora... eu fico. Eu fico com Otavinho... Crescendo
aqui, ele vai tê medo... e quando tu acreditá na gente... por favor, volta! (sai)
Tião – Maria, espera! (correndo, segue Maria. Pausa.)
Otávio (entrando) – Já acabou?
Romana – Vai falar com ele, Otávio... vai!
Otávio – Enxergando melhó a vida, ele volta. (retorna ao quarto. Entram Chiquinho e Teresinha)
Chiquinho – Sabe, mãe, aquele samba...
Teresinha – O samba do "Nós não usa black-tie".
Chiquinho – Tá tocando no rádio...
Romana – O quê?
Teresinha – O samba do Juvêncio, aquele mulato das bandas do Cruzeiro!
Chiquinho – Ele tá chateado à beça. O samba tá com o nome de outro cara. (sai correndo)
Teresinha – Eu fiquei com pena do Juvêncio. Ta perto da bica, chorando! Chiquinho! (sai)
Romana, sozinha. Chora mansamente. Depois de alguns instantes, vai até a mesa e começa a separar o feijão.
Funga e enxuga os olhos...
Romana, sozinha. Chora mansamente. Depois de alguns instantes, vai até a mesa e começa a separar o feijão. Funga e enxuga os olhos...
GUARNIERI, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2014. p. 101-103/107-108.
Examine as sentenças que se seguem quanto à linguagem apresentada em Eles não usam black-tie:
1. Os vocábulos ‘tomá’ e ‘traidô’ resultam de um fenômeno dos mais típicos em qualquer língua: o princípio da economia linguística ou lei do menor esforço, o que corresponde, também, à dinamicidade da língua.
2. A palavra ‘pra’ é uma variante normativa de ‘para’ e está perfeitamente integrada ao ambiente linguístico escrito em questão.
3. As expressões ‘à beça’, ‘filho da mãe’ e ‘cabeça virada’ são variações linguísticas de cunho geográfico e que, no caso, ocorrem na região metropolitana de São Paulo.
4. Os nomes, no texto, ‘Chiquinho’ e ‘Teresinha’ são denominações afetivas de tom pejorativo e que devem ser evitados atualmente devido ao bullying.
5. A incorporação da palavra inglesa black-tie, embora utilizada como vocábulo adotado para designar um traje também utilizado na cultura brasileira, no texto adquire um tom de crítica e é passível de reflexão.
6. Em “como eu quero querer, a tá arriscado a” há uma contração do verbo querer que denota ênfase por parte do personagem.
7. A expressão “e quando tu acreditá na gente...” apresenta um pronome objeto que corresponde à segunda pessoa do discurso e, no entanto, devido às características do texto de linguagem popular, o mais adequado seria a utilização do pronome ‘ocê’.
8. Em “Tu é teimoso... e é um bom rapaz.” há uma relação de causa e consequência semântica.
9. Em “Tem culpa de nada, pai!” o personagem Tião, ao dirigir-se ao pai, inverte a ordem indireta da frase proferida.
10. A fala “Não um traidô por covardia, um traidô por convicção!” evidencia a plurissignificação da linguagem, no caso em questão, coloca em relevo duas possibilidades aceitáveis da covardia: por covardia e por convicção.
A diferença entre a soma dos números das afirmações incorretas e corretas é:
Leia a letra da música de Carlos Jobim e Paulo Jobim, Passarim, para a Questão.
Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro partiu mas não pegou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Me diz o que eu faço da paixão?
Que me devora o coração...
Que me devora o coração...
Que me maltrata o coração...
Que me maltrata o coração...
E o mato que é bom, o fogo queimou
Cadê o fogo? A água apagou
E cadê a água? O boi bebeu
Cadê o amor? O gato comeu
E a cinza se espalhou
E a chuva carregou
Cadê meu amor que o vento levou?
(Passarim quis pousar, não deu, voou)
Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração...
Que me alegrava o coração...
Que iluminava o coração...
Que iluminava a escuridão...
Cadê meu caminho? A água levou
Cadê meu rastro? A chuva apagou
E a minha casa? O rio carregou
E o meu amor me abandonou
Voou, voou, voou
Voou, voou, voou
E passou o tempo e o vento levou
Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta então, me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração...
Que me alegrava o coração...
Que iluminava o coração...
Que iluminava a escuridão...
E a luz da manhã? O dia queimou
Cadê o dia? Envelheceu
E a tarde caiu e o sol morreu
E de repente escureceu
E a lua, então, brilhou
Depois sumiu no breu
E ficou tão frio que amanheceu
(Passarim quis pousar, não deu, voou)
Passarim quis pousar não deu
Voou, voou, voou, voou, voou
Disponível em: https://www.letras.mus.br/tom-jobim/86251/. Acesso em: 15/06/2016.
Examine as proposições seguintes acerca de Passarim:
1. No quarto verso da música o ‘que’ exerce uma função expletiva ou de realce.
2. O paralelismo apresentado nos quatro últimos versos da primeira estrofe são cavalgaduras do quinto verso da mesma estrofe.
3. No texto há tanto uma narrativa acerca do ‘passarim’, quanto um diálogo com esse mesmo ‘passarim’.
4. A música de Tom Jobim apresenta a intersecção de dois gêneros textuais: a música e a parlenda, ambos exclusivos da cultura popular.
5. No texto, tanto o amor, quanto a canção são objetos de encanto e alegria do eu-lírico e que estão, no momento da enunciação, fora do alcance do mesmo.
6. Na quarta estrofe há um predomínio da figura de linguagem conhecida como personificação ou prosopopeia.
7. No verso “E passou o tempo e vento levou” há uma inversão da ordem direta da Língua Portuguesa.
8. Na música o termo ‘Passarim’ é uma metáfora das certezas, metas, objetivos e sentimentos do eu-lírico, que no caso, admitem forma volátil e inalcansável.
9. O termo ‘passarim’ pode ser considerado uma forma pejorativa e jocosa, utilizada pela norma erudita da língua para designar o quão insignificante tornou-se a vida do eu-lírico.
10. A partir da leitura dos dois primeiros versos, é possível dizer que há uma construção de subordinação entre eles, o que pode ser observado pela “cavalgadura” existente entre os mesmos.
A soma dos números das sentenças acima corretas é: