Leia o trecho de O Uraguai para responder a questão.
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindoia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindoia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co’a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindoia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
GAMA, Basílio da. O Uraguai. Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 82-83.
A obra O Uraguai exalta a figura do indígena brasileiro e que assim é descrita por Sergio Buarque de Holanda: “Por volta de 1780, já quase às vésperas da conjuração mineira, a situação parece ter sofrido claramente uma mudança.
O índio não é mais, obrigatoriamente, um instrumento inerte, que abdica sem hesitar da própria personalidade em proveito do alienígena ou, ainda menos, um ente adverso por natureza e inacessível a quaisquer princípios da existência civil”.
(Capítulos de Literatura Colonial. São Paulo: Brasiliense, 1991. p. 87)
A partir da assertiva de Sergio Buarque de Holanda, da leitura do texto proposto e da obra que o contém, O Uraguai, analise as sentenças abaixo.
1. O índio em O Uraguai é enganado pelos jesuítas espanhóis e atacado pelos portugueses, ocupando uma posição de protagonismo na narrativa.
2. A personagem feminina, Lindoia, presente no trecho anterior, é um exemplo da mulher idealizada pelo Romantismo: frágil e submissa.
3. A passagem “Porém o destro Caitutu, que treme/ Do perigo da irmã, sem mais demora/ Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes/ Soltar o tiro, e vacilou três vezes/ Entre a ira e o temor.” ilustra a personalidade do irmão de Lindoia na obra: um índio cheio de temores, inibido e sem expressividade na tribo.
4. O tema principal da obra é o extermínio dos nativos brasileiros dos “Sete povos das missões”, no Rio Grande do Sul, no Século XVIII.
5. No trecho apresentado, percebe-se a presença da característica Barroca denominada bucolismo.
6. A morte almejada e proposital da personagem Lindoia se dá em virtude de sua resistência ao casamento com o personagem Baldeta.
7. A presença de personagens indígenas no texto prenuncia o movimento indianista e de tentativa de formação de uma identidade nacional, que será sistematicamente enfatizado no Romantismo e no Modernismo brasileiros.
8. As características de Lindoia, personagem feminina, correspondem à idealização da mulher, tema recorrente tanto no Arcadismo, como no Realismo brasileiros.
9. No trecho apresentado percebe-se a oposição entre o campo e a cidade, afirmando-se a valorização da segunda.
10. Á temática indígena corresponde diretamente a necessidade de uma linguagem simples, característica Árcade que será utilizada em todo o percurso da literatura brasileira.
A diferença entre a soma dos números das sentenças incorretas e corretas acima é: