Leia trechos de Sermão da sexagésima para a questão.
Trecho 1
Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega. O semeador, e o pregador é nome; o que semeia, e o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o Mundo. O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? – É o conceito que de sua vida têm os ouvintes. (IV, p.125-126).
Trecho 2
O sermão há de ser duma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria.
Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se deve evitar; há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto.
Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. (VI, p. 137-138).
VIEIRA, Antônio. Sermão da sexagésima. In: Sermões. Rio de Janeiro: Agir, 1992.
Observe o trecho seguinte para identificar a alternativa completamente incorreta:
“Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela.”
Prefácio
Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) –
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
e tarefas muitas –
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar o
silêncio das coisas anônimas –
passaram essa tarefa para os poetas.
BARROS, Manoel de. Prefácio. In: Conserto a céu aberto para solos de ave. Obras completas. São Paulo: Leya, 2010. p. 288.
Examine as sentenças seguintes, acerca do poema Prefácio.
I. O trecho: “Assim é que elas foram feitas (todas as coisas)/ – sem nome.” apresenta-se na ordem indireta, estando as expressões “Assim” e “é que elas” exercendo, respectivamente, a função de adjunto adverbial de modo e a função expletiva ou pleonástica.
II. A frase: “Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.” traz em si marcas da linguagem oral e não está de acordo com as normas da língua culta ou padrão.
III. O poema apresenta-se com vários hipérbatos e um neologismo.
IV. O “eu lírico” universaliza a figura do Homem referindo-se a ambos os sexos e ridiculariza a figura da mulher, ao utilizar a expressão “fêmea em pé.”.
V. No poema, “o Homem”, apesar de estar gramaticalmente no singular, tem função semântica plural, comprovada pela desinência de “passaram”.
VI. A ausência de pontuação nos poemas tem função, por exemplo, de ilimitar a imaginação do leitor, mas em Prefácio, a pontuação é utilizada, sendo o travessão, nos três casos, seguidos de ideias de teor consecutivo.
VII. No poema, o trecho “pois não” corresponde semanticamente a “Porém”. VIII. No poema, o trecho “pois não” tem a mesma função morfológica de “Porém”.
IX. No poema, o ser humano é tido como ser superior, ao exercer a competência de delegar funções.
X. No poema, o ser humano constata a inabilidade das moscas para percepções humanas.
A soma dos números correspondentes às sentenças acima incorretas, de conformidade com o texto é:
Leia trechos de Memórias de um sargento de milícias para a questão.
Era no tempo do rei. [...]
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dous (sic) morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.
Chegou o dia de batizar-se o rapaz: foi madrinha a parteira; sobre o padrinho houve suas dúvidas: o Leonardo queria que fosse o Sr. juiz; porém teve de ceder a instâncias da Maria e da comadre, que queriam que fosse o barbeiro de defronte, que afinal foi adotado. Já se sabe que houve nesse dia função: os convidados do dono da casa, que eram todos dalém-mar, cantavam ao desafio, segundo seus costumes; os convidados da comadre, que eram todos da terra, dançavam o fado. [...]
algibebe: mascate, vendedor ambulante.
saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
maganão: brincalhão, jovial, divertido.
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. Rio de Janeiro: Tecnoprint S.A. s/d. p.31-34
Considere as funções exercidas pelas palavras sublinhadas e enumeradas no trecho seguinte no sentido morfológico ou sintático ou semântico:
“Aqui chegando1 , não se sabe por2 proteção de3 quem, alcançou o emprego de que4 o vemos empossado, e que exercia, como5 dissemos, desde6 tempos remotos. Mas viera7 com8 ele no mesmo navio, não sei fazer o quê9, uma certa10 Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona.”
Identifique a alternativa seguinte, na qual a sequência das funções enumeradas das palavras acima é plenamente correta.
Leia a carta de Graciliano Ramos a Heloísa Medeiros, para as questão.
A HELOÍSA MEDEIROS
Por que não te deixaste ficar onde estavas?
Heloísa: Chegaram-me as duas linhas e meia que me escreveste. Pareceram-me feitas por uma senhora
muito séria, muito séria! muito antiga, muito devota, dessas que deitam água benta na tinta.
Tanta gravidade, tanta medida, só vejo em documentos oficiais. Até sinto desejo de começar esta carta
assim: "Exma. Sra.: tenho a honra de comunicar a V. Exa., etc".
Onze palavras! Imaginas o que um indivíduo experimenta ao receber onze palavras frias da criatura que
lhe tira o sono? Não imaginas. E sabes o que vem a ser isto de passar horas acordado, sonhando coisas
absurdas? Não sabes. Pois eu te conto.
Sento-me à banca, levado por um velho hábito, olho com rancor uma folha de papel, que teima em
tornar-se branca, penso que o Natal é uma festa deliciosa. Os bazares, a delegacia de polícia, a procissão de
Nossa Senhora do Amparo... E depois o jogo dos disparates, excelente jogo. "Iaiá caiu no poço". Ora o poço!
Quem caiu no poço fui eu.
Principio uma carta que devia ter escrito há três meses, não posso concluí-la. Fumo cigarros sem conta,
olhando um livro aberto, que não leio. Dança-me na minha cabeça uma chusma de ideias desencontradas. Entre
elas, tenaz, surge a lembrança de uma criaturinha a quem eu disse aqui em casa, depois da prisão do vigário,
nem sei que tolices.
Apaga-se a luz, deito-me. O sono anda longe. Que vieste fazer em Palmeira? Por que não te deixaste
ficar onde estavas?
Não consigo dormir. O nordeste, lá fora, varre os telhados. Na escuridão vejo distintamente essa mancha
que tens no olho direito e penso em certa conversa de cinco minutos, à janela do reverendo. Por que me falaste
daquela forma? Desejei que o teto caísse e nos matasse a todos.
Andei criando fantasmas. Vi dentro de mim outra muito diferente da que encontrei naquele dia.
Por que me quiseste? Deram-te conselhos? Por que apareceste mudada em vinte e quatro horas? Eu te
procurei porque endoideci por tua causa quando te vi pela primeira vez.
É necessário que isto acabe logo. Tenho raiva de ti, meu amor.
Fui visitar o Padre Macedo. Falou-me de ti, mas o que disse foi vago, confuso, diante de dez pessoas. É
triste que, para ter notícias tuas, minha filha, eu as ouça em público. Foram minhas irmãs que me disseram o dia
de teu aniversário e me deram teu endereço.
Tinhas razão quando afirmaste que entre nós não havia nada. Muito me fazes sofrer.
É preciso que tenhas confiança em mim, que me escrevas cartas extensas, que me abras largamente as
portas de tua alma.
Beijo-te as mãos, meu amor.
Recomendo-me aos teus, com especialidade a dona Lili, que vai ser minha sogra, diz ela. Acho-a boa
demais para sogra.
Amo-te muito. Espero que ainda venhas a gostar de mim um pouco. Teu Graciliano. Palmeira, 16 de
janeiro de 1928.
RAMOS, Graciliano. A HELOÍSA MEDEIROS. Por que não te deixaste ficar onde estavas? In: Cartas. Rio de Janeiro: Record, 1992. p. 89- 90.
Identifique a alternativa em que é correta a sequência de todas as expressões conceituais sobre os trechos enumerados a seguir.
1. Onze palavras!
2. Não imaginas.
3. Dança-me na minha cabeça uma chusma de ideias desencontradas.
4. O sono anda longe.
5. Não consigo dormir.
Leia a carta de Graciliano Ramos a Heloísa Medeiros, para as questão.
A HELOÍSA MEDEIROS
Por que não te deixaste ficar onde estavas?
Heloísa: Chegaram-me as duas linhas e meia que me escreveste. Pareceram-me feitas por uma senhora
muito séria, muito séria! muito antiga, muito devota, dessas que deitam água benta na tinta.
Tanta gravidade, tanta medida, só vejo em documentos oficiais. Até sinto desejo de começar esta carta
assim: "Exma. Sra.: tenho a honra de comunicar a V. Exa., etc".
Onze palavras! Imaginas o que um indivíduo experimenta ao receber onze palavras frias da criatura que
lhe tira o sono? Não imaginas. E sabes o que vem a ser isto de passar horas acordado, sonhando coisas
absurdas? Não sabes. Pois eu te conto.
Sento-me à banca, levado por um velho hábito, olho com rancor uma folha de papel, que teima em
tornar-se branca, penso que o Natal é uma festa deliciosa. Os bazares, a delegacia de polícia, a procissão de
Nossa Senhora do Amparo... E depois o jogo dos disparates, excelente jogo. "Iaiá caiu no poço". Ora o poço!
Quem caiu no poço fui eu.
Principio uma carta que devia ter escrito há três meses, não posso concluí-la. Fumo cigarros sem conta,
olhando um livro aberto, que não leio. Dança-me na minha cabeça uma chusma de ideias desencontradas. Entre
elas, tenaz, surge a lembrança de uma criaturinha a quem eu disse aqui em casa, depois da prisão do vigário,
nem sei que tolices.
Apaga-se a luz, deito-me. O sono anda longe. Que vieste fazer em Palmeira? Por que não te deixaste
ficar onde estavas?
Não consigo dormir. O nordeste, lá fora, varre os telhados. Na escuridão vejo distintamente essa mancha
que tens no olho direito e penso em certa conversa de cinco minutos, à janela do reverendo. Por que me falaste
daquela forma? Desejei que o teto caísse e nos matasse a todos.
Andei criando fantasmas. Vi dentro de mim outra muito diferente da que encontrei naquele dia.
Por que me quiseste? Deram-te conselhos? Por que apareceste mudada em vinte e quatro horas? Eu te
procurei porque endoideci por tua causa quando te vi pela primeira vez.
É necessário que isto acabe logo. Tenho raiva de ti, meu amor.
Fui visitar o Padre Macedo. Falou-me de ti, mas o que disse foi vago, confuso, diante de dez pessoas. É
triste que, para ter notícias tuas, minha filha, eu as ouça em público. Foram minhas irmãs que me disseram o dia
de teu aniversário e me deram teu endereço.
Tinhas razão quando afirmaste que entre nós não havia nada. Muito me fazes sofrer.
É preciso que tenhas confiança em mim, que me escrevas cartas extensas, que me abras largamente as
portas de tua alma.
Beijo-te as mãos, meu amor.
Recomendo-me aos teus, com especialidade a dona Lili, que vai ser minha sogra, diz ela. Acho-a boa
demais para sogra.
Amo-te muito. Espero que ainda venhas a gostar de mim um pouco. Teu Graciliano. Palmeira, 16 de
janeiro de 1928.
RAMOS, Graciliano. A HELOÍSA MEDEIROS. Por que não te deixaste ficar onde estavas? In: Cartas. Rio de Janeiro: Record, 1992. p. 89- 90.
O gênero carta corresponde ao domínio dos textos de cunho memorialista. Afrânio Coutinho, ao estudar tais escritos memorialistas de Graciliano Ramos, comenta que “[a]s memórias põe maior relevo sobre pessoas e coisas contemporâneas do autor e os acontecimentos que testemunhou. Muitas se limitam à narrativa dos fatos que estavam dentro do raio de observação do memorialista. Visto que passam pelo crivo de um temperamento, de um caráter, de uma intenção, as memórias não oferecem grande segurança como fonte histórica. O autor conta o que viu e o que viveu, intercalando amiúde os seus comentários, irônicos, críticos, mordazes, assim prejudicando a objetividade do relato.” COUTINHO. Afrânio. Notas de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 89.
Acerca do gênero carta, memória, tempo e construção narrativa, identifique a alternativa correta, tendo como referência Afrânio Coutinho e a carta de Graciliano Ramos a Heloísa Ramos:
Leia o texto de Cecília Meireles, para a questão
ROMANCE LIII OU DAS PALAVRAS AÉREAS
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
Detrás de grossas paredes,
de leve, quem vos desfolha?
Pareceis de tênue seda,
sem peso de ação nem de hora...
– e estais no bico das penas,
– e estais na tinta que as molha,
– e estais nas mãos dos juízes,
– e sois o ferro que arrocha,
– e sois barco para o exílio,
– e sois Moçambique e Angola!
Ai, palavras, ai, palavras,
íeis pela estrada afora,
erguendo asas muito incertas,
entre verdade e galhofa,
desejos do tempo inquieto,
promessas que o mundo sopra...
Ai, palavras, ai, palavras,
mirai-vos: que sois, agora?
– Acusações, sentinelas,
bacamarte, algema, escolta;
– o olho ardente da perfídia,
a velar, na noite morta;
– a umidade dos presídios,
– a solidão pavorosa;
– duro ferro de perguntas,
com sangue em cada resposta;
– e a sentença que caminha,
– e a esperança que não volta,
– e o coração que vacila,
– e o castigo que galopa...
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Perdão podíeis ter sido!
– sois madeira que se corta,
– sois vinte degraus de escada,
– sois um pedaço de corda...
– sois povo pelas janelas,
cortejo, bandeiras, tropa...
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem...
– sois um homem que se enforca!
MEIRELES, Cecília. Romance LIII ou Das palavras aéreas. In: Romanceiro da Inconfidência. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 142-144.
Identifique a alternativa em que é correta a sequência dos nomes das figuras presentes nos trechos do poema acima, enumerados a seguir.
1. /Ai, palavras, ai, palavras,/ que estranha potência, a vossa!/
2. /Perdão podíeis ter sido!/
3. /sois a mais fina retorta: frágil, frágil como o vidro/ e mais que o aço poderosa!/
4. /– sois madeira que se corta,/ – sois vinte degraus de escada, /
5. /íeis pela estrada afora,/ erguendo asas muito incertas,/ entre verdade e galhofa,/