TEXTO
— Desculpe-me, Prof. Ventrilli; mas são justamente os cantos de guerra que levantam as massas. São eles que entram na alma do povo. A música de guerra e a música folclórica, que exprime o sentimento do homem. Do homem sem pátria, do homem-humanidade, digamos. O homem universal, sem restrições de interesses personalísticos e sem inibições naturais de pátria, religião, família... Não a música clássica que apenas revela a alma de um artista. O sentimento de um homem. E, só excepcionalmente as reações desse artista, desse homem, são as reações de toda uma nação. A música que se batizou de clássica é música para minoria, uma elite. Música para ouvidos educados e não para o coração virgem do homem do povo. Por isso lhe dá sono. A música folclórica, ao contrário, logo que penetra no tímpano, ecoa na alma. Na primeira audição. Seja o folclore argentino ouvido por um dos nossos sertanejos... Sejam as canções do mujique entrando nos ouvidos dos selvagens da América. O aboio das nossas vaquejadas, o fado nostálgico do lusitano, a música quente das castanholas e os rufos bárbaros das populações primitivas. Eis sons que só não agradam àqueles cuja educação incompleta os proíbe de as apreciar. Música de âmago para íntimo. Eu concebo, Professor, a música como a primeira das artes. Mas essa música que a gente sente logo, não a que a gente tem que entender para sentir. Penso mesmo que amanhã só esses raros trechos da música de Chopin, Mozart, Beethoven, Haydn, Tchaikowsky serão ouvidos. Assim mesmo adulterados, com ritmos diferentes, adaptados ao sentimento imutável do povo. Cá no Brasil, as nossas grandes figuras cederão a batuta para um Zequinha de Abreu, um Catulo. [...] É bom que se destrua o que separa os homens. Busquemos só a música que se faz anônima no uso do povo. Música que se situará no meio, entre os tangos, rumbas, sambas, fados de um lado e do outro as sinfonias, as ouvertures pomposas, os prelúdios e as finales barulhentas: que esta seja a música do futuro, Prof. Ventrilli!...
[...]
O ideal seria o povo elevar-se até à compreensão da música dos clássicos. O sentimento se educa. Música imortal tem tanto do sentimento do homem, da humanidade, como os aboios tradicionais. [...]
(LEÃO, Ursulino. Maya. 2. ed. Goiânia: Kelps, 1975. p. 91-93.)
“O ideal seria o povo elevar-se até à compreensão da música dos clássicos”, diz o narrador no Texto 4. Um projeto civilizacional desses moldes foi implantado na corte do Rio de Janeiro à época do Império. Companhias de ópera vinham constantemente apresentar-se no Brasil, e os costumes europeus representavam o modelo de cultura a ser reproduzido nos trópicos. Acerca desse período, reflita sobre as afirmações a seguir:
I-A europeização dos costumes foi um processo rápido, levado à frente pelo sábio imperador D. Pedro
II. Ele, que admirava profundamente a cultura clássica, investiu na criação de bibliotecas e escolas, e financiou o desenvolvimento dos institutos científicos. II-O processo de europeização dos costumes tem como marco a vinda de D. João VI para o Brasil, a abertura dos portos e a instalação dos nobres lusitanos no Rio de Janeiro.
III-As obras escritas pelos viajantes estrangeiros acerca do Brasil influenciaram a visão que a elite nacional tinha de si mesma, apesar de esses livros serem repletos de preconceitos. Isso contribuiu para a imitação do padrão civilizacional europeu.
IV-O projeto de civilizar os trópicos segundo os moldes europeus contribuiu para a extinção dos costumes africanos nas ruas das principais cidades brasileiras. Foram os negros do mundo rural que conseguiram manter suas tradições e sua religiosidade.
De acordo com os itens analisados, marque a alternativa que contém apenas proposições corretas: