Profundamente (Manuel Bandeira)
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
– Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
– Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
BANDEIRA, Manuel. Antologia Poética. Manuel Bandeira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 81.
Examine as afirmações acerca de Profundamente:
I. No trecho: “Quando ontem adormeci/ Na noite de São João/ Havia alegria e rumor”, predomina a ordem direta do discurso, justificada pela apresentação do passado na linha do tempo cronológico, em que “ontem” tem o sentido de passado distante.
II. O trecho: “Estrondos de bombas luzes de Bengala/ Vozes, cantigas e risos [...]” é metalinguagem dos termos anteriores “alegria e rumor” e, também apresenta recurso estilístico sonoro denominado de aliteração.
III. Na leitura da quarta estrofe, seguida da leitura da sétima, há o fenômeno da polissemia do verbo “dormir”.
IV. Na quarta estrofe “dormindo” é ação iniciada e não terminada, com sentido eufêmico.
V. Na sétima estrofe, há a figura do eufemismo atribuído ao sentido do verbo ‘dormir’, da mesma forma como ocorre na quinta estrofe.
VI. Profundamente apresenta biografismo do “eu lírico” nas relações: estar acordado ou dormindo, vidas ou mortes, passado ou presente, silêncio ou rumor, vivências ou lembranças.
VII. Em: “Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo [...]”, há uma sequência de três advérbios e o último substantivo sofreu o processo da personificação, em razão da elipse de um termo na frase.
VIII. Em: “/Silenciosamente/ Apenas de vez em quando/ O ruído de um bonde/ Cortava o silêncio/ Como um túnel./”, o sentido de “Cortava” está alterado por circunstâncias de modo, limitação ou restrição, frequência e comparação.
IX. As circunstâncias implacáveis que conflitam tempos, espaços, intensidade e frequência que perpassam todo o poema imprimem no leitor sensações profundas a ponto de justificarem o título.
X. A temática apresentada no poema remete à questão existencial humana.
A soma dos números romanos das afirmações corretas menos a soma das afirmações incorretas é: