Não precisa trazer nada
Depois da barragem da Pampulha, pegue o caminho de Venda Nova, passe o sinal luminoso e vire a primeira à esquerda. É a rua da sede campestre do Cruzeiro.
Siga em frente, sem se distrair por nada, até quando acabar o asfalto, justamente na esquina com outra rua asfaltada. Vire para a direita.
Logo que você cruzar com outra rua, onde tem uma placa de pare, não pare. Siga sempre em frente, até que esta rua asfaltada se transforme numa rua de paralelepípedos.
Quando isso acontecer, essa rua vai se alargar inexplicavelmente, e então você entra na primeira à esquerda. Não pergunte nada a ninguém.
Mas, para ter certeza se está indo pela rua certa, olhe se à sua esquerda tem, escrito no muro, o seguinte: Mercearia Santa Amélia.
Feito isso, você novamente entra na primeira à esquerda. A rua é de um só quarteirão e também é servida de paralelepípedos. Logo adiante, vire à direita, onde você vai ver uma casa lúgubre bem na esquina. Continue nessa rua e entre outra vez à direita.
Finalmente você está na rua 19, uma rua descalça. A minha casa é a última. Tem um gramado na frente e gerânios em flor na janela, e eu estou lá dentro o dia inteiro à sua espera.
Não deixe de vir. Se não vier, você não faz a menor ideia do que vai perder. Não precisa trazer nada. Só você.
PIROLI, Wander. “Não precisa trazer nada” (conto). São Paulo: Editora Papagaio, 2004. p. 71-74.
Caracteriza a narração do conto