Leia o trecho do texto Oração do Milho, de Cora Coralina:
[...]
Senhor, nada valho.
Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das
lavouras pobres.
Meu grão, perdido por acaso,
nasce e cresce na terra descuidada.
[...]
dou espigas e devolvo em muitos grãos
o grão perdido inicial, salvo por milagre,
que a terra fecundou.
[...]
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo
e de mim não se faz o pão alvo universal.
O Justo não me consagrou Pão de Vida, nem
lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que
trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura e de ascendência pobre,
[...]
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que
amanhece.
[...]
Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor,
que me fizestes necessário e humilde.
Sou o milho.
(CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. São Paulo: Global, 2014. p. 156-157. Adaptado.)
Com base na leitura do fragmento desse poema, é possível inferir que o milho
I - enquanto eu poético apresenta-se como a personificação de determinados indivíduos, ou de um grupo social, marginalizados pela sociedade.
II - reforça a ideia de humildade do eu lírico ao apresentar referências bíblicas em seu discurso.
III - nesse contexto, assume apenas a função de alimento, uma vez que é um ser inanimado.
Sobre a representação do milho como voz narrativa do poema, assinale a única alternativa correta: