Trânsito, túmulo da civilidade*
Erico Firmo**
O trânsito é o mais extremo símbolo do fracasso da civilidade e da possibilidade de convivência harmônica
e cordial em coletividade. Há problemas políticos, econômicos, urbanísticos e civilizatórios relacionados
ao colapso da mobilidade.
Mas a crise é indissociável da ideia de sociabilidade e de compartilhamento de espaços. Ao entrar no
carro ou subir na moto, o indivíduo passa a ver os demais como inimigos, estorvos, obstáculos a atrapalharem
seu caminho. É inevitável remeter a famoso desenho animado do Pateta, no qual o sujeito cordial e polido é
acometido de ira avassaladora ao ver-se diante do volante.
Conheço vários exemplos similares. O egoísmo e a intolerância são regras no trânsito. Quando me
dirigia ao jornal, ontem, vi um sujeito que deixara o carro parado a grande distância da calçada, obstruindo,
quase por completo, uma das faixas. Há alguns dias, já envolto nessas reflexões que agora publico, chamou-me
atenção algo tristemente corriqueiro: o sujeito meteu o carro ao lado das faixas de veículos demarcadas na via,
para ultrapassar as filas já formadas e ganhar alguns segundos. Sem falar da recusa em dar passagem, é comum
motoristas, ao serem ultrapassados, sentirem-se ultrajados, agredidos. Quanto às normas, são burladas
frequentemente para economizar míseros instantes. A crise do trânsito reflete problema mais profundo.
Para além da economia e das estruturas, o aspecto humano está no centro dessa derrocada civilizatória,
desse atestado de fracasso da possibilidade de harmonia e entendimento.
*Texto publicado em 12 dez. 2013. Disponível em http://www.opovo.com.br/app/colunas/politica/2013/12/12/noticiaspoliticacoluna,
3175914/transito-tumulo-da-civilidade.shtml. Acesso em 06 abr. 2014. Adaptação.
**Jornalista, editor adjunto de política e colunista do jornal O Povo (Fortaleza-CE).
Considerando o conteúdo do texto, analise as seguintes afirmações.
I – Conforme o texto, é impossível conviver harmoniosamente no trânsito devido ao colapso da mobilidade.
II – Para sustentar a tese da falta de civilidade no trânsito, o autor se vale de um argumento de autoridade e de exemplificações.
III – A crise do trânsito, segundo o texto, está não só relacionada a problemas de economia e de infraestrutura, mas, principalmente, ao comportamento humano.
Sobre as proposições acima, pode-se afirmar que