Há uma apatia geral, as coisas não andam, todo mundo está esperando não se sabe o quê para decidir o rumo a tomar. Quem sabe ver nota em certas pessoas uma preocupação em apagar pistas, como se de uma hora para outra muita gente tivesse se regenerado e resolvido começar vida nova. Isso é bom, nunca é tarde para o pecador se arrepender; mas também pode ser esperteza, precaução para não ser lembrado quando a bomba estourar.
Por enquanto vou vivendo com uns atrasados que ainda estou recebendo dos Armazéns Proibidos. Fico sentado aqui a manhã inteira e não vejo ninguém passar, nem as crianças que costumavam vir brincar no buraco que nos obrigaram a abrir aí em frente.
Mas a natureza, essa não para. O vento está aí sacudindo as folhas, levantando poeira, trazendo cheiros exóticos que antigamente nesta época do ano deixavam as pessoas alvoroçadas, prontas a disparar como cavalos fogosos. Hoje parece que ninguém sente esses cheiros; se sente, não reage como antes.
Os passarinhos é que estão aproveitando ao máximo a temporada. Desde que amanhece começa o estardalhaço deles, nunca vi tantos reunidos num lugar só, parece que os pássaros do mundo inteiro combinaram congresso aqui. Se eles escolheram este lugar, é porque isto aqui vai ficar bom; eles sabem.
(José J. Veiga. Os pecados da tribo, 2005.)
No parágrafo final, quando o narrador afirma que os passarinhos “sabem”, sua intenção é