TEXTO
APESAR DE TECNOLOGIAS, O LIVRO IMPRESSO É O PREFERIDO DE MUITOS LEITORES
Cassiano Cavalheiro
Apesar de concorrer com novas tecnologias, o bom e velho livro impresso segue com lugar garantido na prateleira e nos corações de quem lê.
[1] “A leitura de textos impressos exercita faculdades lógicas e críticas. Ler na tela de um computador,
não é ler... Ler através do papel, do alfabeto no papel traz individualismo, identidade privada, desenvolve
senso crítico, objetividade...”.
A afirmação é do teórico da Comunicação e pesquisador Eric McLuhan, filho do também teórico
[5] Marshall McLuhan (1911-1980) – considerado o profeta da globalização e autor da máxima “o meio é a
mensagem” e do termo “aldeia global”. [...]
Apesar de a concorrência ser grande, o bom e velho livro de papel ainda tem lugar garantido no
coração e nas prateleiras de quem o compra. Na era dos celulares e de seus aplicativos, da Netflix, dos e-books
e do Kindle, as obras impressas continuam sendo objeto de desejo.
[10] Prova disso é o número de obras vendidas até agora na Feira do Livro de Santa Maria. Conforme a
Câmara do Livro, responsável pela organização do evento, foram mais de 20 mil títulos comercializados em
menos de uma semana. O resultado é considerado “dentro da média” para o contexto atual, segundo Télcio
Brezolin, organizador da feira. [...]
Télcio acredita que, independentemente dos números, os livros virtuais e físicos vão seguir
[15] coexistindo, cada um com suas vantagens. Ele diz que sempre quando é questionado sobre o assunto, retruca
com outra pergunta “você daria de presente a alguém querido um livro virtual?”
– Até hoje, não encontrei ninguém que respondesse sim. O livro físico é um bem. Hoje ele está aqui
e, daqui a 200 anos vai seguir existindo, e pode ser útil para alguém. Não temos como prever o futuro. As
vendas do impresso poderão até diminuir, mas não acredito no fim – opina Télcio.
[20] Desde a popularização da internet, nos anos 2000, e da disponibilização dos livros virtuais, fala-se
sobre o temido fim do livro físico. Motivados pela discussão, os autores franceses Umberto Eco (1932-
2016), semiólogo e romancista, e Jean Claude-Carrière, cineasta, roteirista e ator, escreveram a obra Não
Contem Com o Fim do Livro, da editora Record. Nele, os autores discutem a situação das obras impressas
hoje e seu futuro. Fazem uma defesa da leitura, da cultura e da civilização, abordando o livro como objeto,
[25] conceito e ferramenta humana, imperecível.
– O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez
inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais
fácil de transportar informação – afirmou Eco, em entrevista ao Estadão, na época do lançamento da
publicação. [...]
[30] – Quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos
disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos? – questionou Eco na
mesma entrevista.
No livro, ele trata o tema com bom-humor e otimismo, conforme o trecho: “Os usos e costumes
coexistem e nada nos apetece mais do que alargar o leque dos possíveis. O filme matou o quadro? A
[35] televisão o cinema? Boas-vindas então às pranchetas e periféricos de leitura que nos dão acesso, através de
uma única tela, à biblioteca universal doravante digitalizada”.
Dóris Pires Vargas Bolzan, professora [...] da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), admite
que a tecnologia revolucionou o acesso aos livros em um período em que o livro físico ainda custa caro.
Apesar disso, ela vislumbra uma coexistência harmônica entre o clássico e o novo.
[40] – Meu nível de atenção, meu envolvimento e o tempo que eu dedico à leitura de um livro físico é
maior comparado ao virtual. A tela tem iluminação, o olho tolera menos tempo que no papel – relata Dóris
sobre algumas de suas preferências.
A professora observa isso em seus alunos e até em casa, com os hábitos de seus filhos.
– Eles compram livros, têm sempre um por perto. Então, a leitura pelo celular, tablet ou computador
[45] não é uma unanimidade, é uma opção de acesso, mas, quando as pessoas podem, elas querem carregar e
adquirir – acredita.
Dóris ressalta a relação de poder e satisfação pessoal em ter um livro.
– O ter um livro está ligado ao empoderamento para o indivíduo. Você poder carregá-lo tem uma
[50] relevância cultural, a gente percebe que é um ato de valor e de riqueza ter acesso. Existe uma relação de
cumplicidade, social e pessoal, ao carregar um livro. Você escolhe, vai à biblioteca, leva para casa, depois
devolve, é um contexto que é importante – exemplifica.
Disponível em: . Publicado em: 6 maio 2017. Atualizado em: 7 maio 2017. Acesso em: 18 set. 2017. Adaptado.
O título do texto “Não contem com o fim do livro” (linhas 22-23) carrega um conteúdo centrado