TEXTO
Como e por que evitar o desperdício
Os brasileiros desperdiçam comida. Muita comida. Metade de tudo que é produzido. Estados Unidos,
Europa, países ricos em geral, não ficam muito atrás. Nem os mais pobres. Na média mundial,
segundo estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO),
um terço dos alimentos se perde. A diferença é que, nos países pobres, o problema acontece no início
[5] da cadeia produtiva, por falta de tecnologia e dificuldades no armazenamento e no transporte. Já nos
países ricos, a situação se agrava nos supermercados e na casa do consumidor, acostumado a
comprar mais do que precisa. "O Brasil sofre nas duas pontas, porque tem tanto aspectos de países
ricos quanto de países pobres. Daí a perda ser maior. Ocorre desde a colheita, passando pelo
manuseio, transporte, central de abastecimento, indústria, supermercado e consumidor", detalha
[10] Helio Mattar, presidente do “Instituto Akatu Pelo Consumo Consciente”.
Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) contabilizam em 10% o
desperdício das frutas e hortaliças ainda no campo e indicam que a maior perda está no transporte:
50%. Mas, se o alimento chega machucado, aí é motivo de mais descarte. No Brasil, 58% do lixo é
de comida. "O planeta produz o suficiente para alimentar 12 bilhões de pessoas, mas quase 900
[15] milhões vivem em insegurança alimentar, comem num dia e no outro não. Como acabar com isso?
Reduzindo o desperdício", defende o presidente do Akatu. "Se metade do que é perdido deixasse de
ser, teríamos o dobro de alimento nas gôndolas e o preço cairia. E mais pessoas teriam acesso."
Os números são eloquentes e escandalosos, embora fiquem camuflados por causa de velhos
hábitos de consumo. Nacionalmente, fazem parte desse desperdício, por exemplo, um volume de
[20] talos e cascas que não são usados (e poderiam ser), folhas e frutas machucadas e sobras de pão, café,
arroz e feijão.
Há uma gênese cultural para tanto. "O brasileiro sempre teve mesa farta pelo fato de viver
num país tropical, onde tudo dá. E não está acostumado a aproveitar integralmente o alimento. Veja
se em Portugal se jogam fora as vísceras do porco? Ou a cabeça do bacalhau?", protesta Carlos
[25] Dória, do Centro de Cultura Culinária Câmara Cascudo, em São Paulo. O estudioso da alimentação
se lembra dos peixes e caramujos desprezados no Ceagesp, simplesmente por falta de mercado a
população não os considera comestíveis. "O chef Alex Atala fez um menu interessante com esse
'refugo' e provou que o menosprezo é fruto de muito preconceito na cozinha", diz. Ou seja, dá para
avançar mais em busca do equilíbrio dessa balança. O Instituto Akatu oferece até um incentivo
[30] econômico. Com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os
pesquisadores da ONG fizeram a seguinte conta: uma família média brasileira gasta 478 reais
mensais para comprar comida. Se o desperdício de 20% de alimentos deixasse de existir em casa, 90
reais deixariam de ir para o ralo. Guardando esses 90 reais todos os meses, depois de 70 anos
(expectativa média de vida) a família teria uma poupança de 1,1 milhão de reais.
[35] "Precisamos planejar melhor o cardápio, só comprar o necessário, não nos deixar levar pelas
ofertas, cozinhar integralmente os alimentos. E ter uma nutrição adequada. O sobrepeso é outra
forma de desperdício", aponta Mattar. De acordo com o Ministério da Saúde, 50% da população
nacional está acima do peso. Nos EUA, 70%.
Disponível em: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/lixo/como-evitar-desperdicio-seguranca-alimentar-bonsfluidos-752309.shtml. Acessado em: 28 ago. 2015.
Em relação ao TEXTO, o trecho "O planeta produz o suficiente para alimentar 12 bilhões de pessoas, mas quase 900 milhões vivem em insegurança alimentar, comem num dia e no outro não.” (linhas 14 e 15). É um argumento para sustentar a ideia de que: