TEXTO:
Muito se discute atualmente sobre a humanização
da medicina, e uma das metodologias propostas para
alcançá-la é a medicina centrada no paciente,
denominada por alguns autores como um novo método
[5] clínico.
A medicina centrada no paciente ou no cuidado é
um tema muito amplo e com implicações diferentes
quando se trata de saúde pública ou de atenção médica
individual. Comporta ainda definições diferentes quando
[10] se utiliza a oposição entre centrada no médico versus
no paciente ou centrada no paciente versus na doença.
Quando se opõe a atitude centrada no médico à atitude
centrada no paciente, o ponto em discussão é o poder
do médico versus a autonomia do paciente. Quando a
[15] oposição é entre doença e doente, a medicina centrada
no paciente é mais abrangente, busca entender as
necessidades e os desejos do paciente e não se
restringe à doença.
Os trabalhos de Stewart e colaboradores, na
[20] década de 1990, definem medicina centrada no paciente
buscando incorporar essas duas vertentes. Segundo
esses autores, a medicina centrada no paciente tem
seus princípios na antiga escola de medicina grega de
Cos, que considerava as particularidades de cada
[25] paciente na abordagem de sua enfermidade, ao contrário
da escola de Cnidians, cuja preocupação era classificar
as doenças de acordo com sua taxonomia e
independentemente do doente. Ainda de acordo com
esses autores, desde então, a dicotomia entre tratar o
[30] doente ou a doença vem acompanhando a medicina ao
longo dos séculos, às vezes com preponderância de
uma abordagem ou de outra.
O método clínico baseado em modelo
biomédico, que surgiu no início do século 19 e que
[35] alcançou hegemonia durante o século 20, trouxe
grandes avanços para a ciência médica e conferiu grande
poder ao médico, mas tornou o diagnóstico da doença
preponderante sobre o doente. Acontece que nem todas
as pessoas adoecem da mesma forma ou se enquadram
[40] numa doença bem definida, e isso provocou
questionamentos ao método clínico, desde o início do
século passado.
Com o avanço da tecnologia médica que o
método clínico proporcionou, além da fragmentação
[45] corpo-mente, houve a fragmentação do próprio corpo,
com a medicina se tornando cada vez mais especializada
e subespecializada ao longo do século 20. Novos
questionamentos se tornaram mais frequentes, e
começaram a surgir críticas ao modelo biomédico. Em
[50] meados do século 20, os trabalhos de Balint, com a
valorização da escuta para perceber o paciente e
responder às suas necessidades e com a valorização
do papel do médico como agente terapêutico, inclusive
com efeitos colaterais, questionaram o diagnóstico
[55] apenas físico do modelo biomédico. Mais tarde, Engel,
a partir do pressuposto de que os modelos dominantes
de organização do conhecimento e da experiência,
nem sempre explícitos, são importantes na maneira de
o médico abordar o paciente, propôs o modelo
[60] biopsicossocial. Nesse modelo, o nível do sistema de
onde se deve partir é sempre a pessoa, ao contrário do
modelo biomédico, em que o ponto de partida é o corpo
e a doença, com a negligência da pessoa.
Nessa mesma época, estudos mostraram que os
[65] aspectos culturais do paciente e do médico interferiam
nos resultados da atenção médica. A discordância entre
médico e paciente na visão da doença e do processo de
adoecer e nos objetivos a atingir com o tratamento
repercute negativamente nos resultados obtidos.
RIBEIRO, Maria Mônica Freitas; AMARAL, Carlos Faria Santos. Revista Brasileira de Educação Médica. Disponível em: . Acesso em: 25 jun. 2014.
Quanto ao aspecto tipológico, é correto afirmar que esse texto é predominantemente