Leia o texto de Bernardo Carvalho para responder à questão.
No audiovisual (sobretudo nas séries de TV), hoje se fala da inteligência dos diálogos ou da engenhosidade da construção dramática, quando antes se elogiava o silêncio ou as conexões incongruentes das obras de cineastas como Antonioni e Godard.
O atual horror ao spoiler tem a ver com um mundo de regras comerciais ou acadêmicas, no qual a obsessão por não revelar finais e desenlaces se justifica como guardiã do entretenimento. Mas onde há tamanho zelo por evitar as revelações fora de hora, a reflexão passa para segundo plano, quando não é simplesmente eliminada.
Não existiria psicanálise se a história de Édipo precisasse preservar seu desenlace. Na verdade, não haveria nem tragédia. Já na Grécia Antiga, a ideia de spoiler era uma contradição. Os espectadores assistiam repetidas vezes a tragédias que eles conheciam de cor.
Para a técnica dramatúrgica, contam as regras e as conexões internas, assim como para o academicismo contam as convenções: elas se aprendem e se ensinam. A reflexão, entretanto, depende de conexões externas. O que o spoiler realmente estraga é uma relação passiva, consumista e não reflexiva com a arte.
É de bom senso a moderação no uso do spoiler, mas o horror com que passamos a encarar tudo que estraga nossa diversão revela muito sobre os consumidores infantilizados que nos tornamos.
(www.folha.uol.com.br, 13.05.2018. Adaptado.)
Depreende-se do texto que, em sua época, o espectador original da tragédia grega