Leia o trecho da crônica “Lições de bichos e coisas”, de Rubem Alves, para responder a questão.
Tenho inveja dos animais. Parecem-me tão tranquilos, possuidores de uma sabedoria que nós não temos. Como se desfrutassem da felicidade do Paraíso. Sofrem, pois não existe vida sem sofrimento. Mas sofrem sempre como se deve, quando o sofrimento vem, na hora certa, e não por antecipação. Saber sofrer é uma lição difícil de se aprender. Se o terrível nos golpeia e não sofremos, algo está errado. Pois como não chorar, se o destino nos faz sangrar? Se não choramos é porque o coração está doente, perdeu a capacidade de sentir. Mas sofrer fora de hora é doença também, permitir- -se ser cortado por golpes que ainda não aconteceram e que só existem como fantasmas da imaginação. Os animais sa- bem sofrer. Nós não. Somos prisioneiros da ansiedade. Pois ansiedade é isso: sofrer fora de hora, por um golpe que, por enquanto, só existe no futuro que imaginamos.
(O retorno e terno…, 1995. Adaptado.)
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